O PENOSO CAMINHO PARA ENTRAR NO CAMPEONATO BRASILEIRO

Campanha para ter o Ferrão no Brasileirão mereceu até placa da FCF fixada no Presidente Vargas

Vai começar um novo Campeonato Brasileiro para o Ferrão! Ao contrário de hoje em dia quando os Estaduais regulam a entrada de clubes a partir da quarta divisão nacional, houve um tempo em que os bastidores políticos escolhiam as indicações para a competição. Foi assim que o Ceará foi apontado para a primeira edição do certame brasileiro em 1971. O alvinegro foi para a gloriosa Série A da disputa. Para a Série B, uma espécie de consolo para as equipes que ficaram de fora da elite nacional, no caso do Estado do Ceará, houve um democrático torneio seletivo que reuniu Fortaleza, Calouros do Ar, Guarany de Sobral e Ferroviário. Os dois últimos ficaram com as duas vagas existentes. Coube ao Ferrão enfiar 3×0 no Fortaleza em jogo extra que foi exclusivamente realizado para definição da segunda vaga. Apesar da honra de ter participado da primeira edição do Campeonato Brasileiro, mesmo que numa segunda divisão, o Ferrão teve que esperar 8 longos anos até sua segunda participação, ocorrida somente em 1979, quando o número de clubes participantes foi exageradamente aumentado para 94 times de futebol em todo país. O retorno coral à competição, dessa vez na divisão de elite de 1979, mereceu até uma placa que está até hoje fixada no Estádio Presidente Vargas. Se esta mesma divisão de elite, em 1971, reunia somente 20 clubes, um ano depois já eram 26 com a inclusão de equipes de Sergipe, Alagoas, Amazonas, Pará e Rio Grande do Norte. Em 1973, com o aumento expressivo para 40 clubes, o Fortaleza foi politicamente indicado como o segundo representante cearense, apesar da veemente contestação do Ferroviário e dos outros times alencarinos, que ansiavam por um novo torneio seletivo, nos moldes do realizado em 1971 em âmbito local, opção inclusive seguida por outras Federações.

Até o Papa João Paulo II tomou conhecimento das demandas do glorioso Ferroviário Atlético Clube

Vivia-se a era da nefasta Ditadura Militar, que em frangalhos, iniciava um processo de derrocada em termos de apelo polular e, ano a ano, ampliava bionicamente o número de times no Campeonato Brasileiro para tentar preservar alguma popularidade. Foram 8 anos em que o Ferroviário vivenciou as sequelas da penúria, enquanto Ceará e Fortaleza se esbaldavam com rendas extravagantes em grandes jogos contra times importantes do Brasil, se apresentando para muitos em um recém-inaugurado Castelão invariavelmente lotado. Durante aqueles anos de chumbo para o Tubarão da Barra, importantes nomes corais chegaram a empreender esforços junto a Governadores, Senadores e Deputados de plantão para forçar a inclusão do Ferrão no Nacional. Frustrado com a série de tentativas infrutíferas, o saudoso Zé Limeira perambulava pelas rádios brigando pelo direito coral de participação. Na mesma época, chegou a escrever e enviar uma carta para o Vaticano, pedindo uma audiência com o Papa João Paulo II, que foi educadamente negada pela assessoria papal. Foram tempos dolorosos que nos ensinaram uma poderosa mensagem: sempre que o Ferrão iniciar uma nova campanha no prestigioso Campeonato Brasileiro de Futebol, é recomendável nunca esquecer os dias e caminhos penosos percorridos durante 8 anos da década de 1970. Dizem que era bom, mas foi bom pra quem? É bom sempre apenas para os amigos do poder, para aqueles que se deleitam com os prazeres do que é roubado do direito alheio e quando a noção de grandeza nunca é o que se verdadeiramente é, e sim o que se tem ou o que se pode oferecer em troca. Foi um tempo de muita vergonha, que somente os idiotas ousam exaltar. E vamos de mais uma Série C em 2024, entre os 60 principais times do Brasil, sem esquecer de prestar atenção no retrovisor do passado.

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