O CALDEIRÃO POLÍTICO DE VAIDADES E IRRESPONSABILIDADES

Imagem do fatídico jogo em Volta Redonda que mandou o Ferroviário de volta para a Série D

Há cerca de dois meses, um velho filme prometia entrar novamente em cartaz e isso foi prognosticado aqui no blog. Os conhecidos e tortuosos bastidores corais ferveram, como há tempos não se via, e o caldeirão político de vaidades e irresponsabilidades entrou em erupção como um vulcão. Essa semana, depois de quatro anos, o Ferroviário caiu para a Série D. É o primeiro rebaixamento brasileiro do clube na competição da CBF, apesar do descenso nacional sacramentado em 2008 via Estadual, conforme estabelecia o regulamento da época, que arremessou o time coral para jogar a Série D, pela primeira vez, a partir de 2009. Infelizmente, estaremos lá em 2023, novamente. De bate-pronto, é preciso diagnosticar que a gestão de futebol do clube cometeu equívocos durante as últimas temporadas que foram determinantes para a debacle coral em campo, notadamente desde que o presidente Newton Filho alegou ter sido obrigado a assumir as rédeas do setor, no início de 2021. Porém, essa questão é apenas o início da discussão.

Vitória contra o Aparecidense após uma falsa onda de renovação encheu de esperanças o torcedor

No final do ano anterior, um “racha” entre o presidente e seu vice Francisco Neto, coincidentemente o mandatário coral no descenso nacional de 2008, garantiu pelos dois anos subsequentes um festival de incômodos, instabilidade, perda de foco, divisões internas e quase as vias de fato. À frente da gestão de futebol, ladeado pelo investidor Artur Boim, Newton Filho assumiu o controle e foi responsável direto pelo bônus e pelo ônus a partir de suas ações. Escanteado, coube a Francisco Neto espernear e procurar acolhida junto ao presidente do Conselho Deliberativo do clube. Nesse contexto, a fórmula para o rebaixamento estava pronta e envolveu os sucessivos erros nas contratações, além de conspirações e episódios de traições e puxadas de tapete no âmbito político, que levaram à renúncia do primeiro e ao empoderamento do segundo nos últimos 40 dias. Figuras reconhecidamente essenciais no soerguimento do clube desde 2017, ambos saem politicamente desgastados da cisão gerada a partir de suas próprias convicções e atitudes no futebol. E assim o Ferroviário retorna novamente para o tão conhecido fundo do poço.

Jogadores trazidos por um dirigente terminaram a competição dirigidos por terceiros e aventureiros

No meio da competição mais importante da temporada, a forçada e trágica reorganização interna contou até com pessoas inexperientes em funções diretivas, em total contradição à profissionalização exigida pelo próprio Conselho Deliberativo. Ficamos com cara de time amador! Com 7 jogos pela frente e 21 pontos a disputar, o Ferrão mergulhou ladeira abaixo e a tentativa vergonhosamente antecipada de personalização do fracasso junto a um só nome, além da covardia do ato em si, denuncia o caminho da conspiração política verificada nos complicados bastidores corais. Engana-se quem acha que um rebaixamento é obra e arte de uma ou duas pessoas. Uma tragédia no futebol é fruto de um ambiente político apodrecido, composto de pessoas que, gestão após gestão, se perpetuam dentro do clube como autênticos donos de araque, e “remam” conforme os interesses de cada ocasião. Foram sete anos de convivência diária entre a maioria na direção do clube, onde muitos já se conheciam das arquibancadas. Nos últimos tempos, alguns contingencialmente mudaram de opinião e de lado, provando que o ambiente no futebol reúne desde pessoas vaidosas às volúveis e traiçoeiras. Ao apontarem o dedo para o ex-presidente, esquecem que estiveram juntos e amigados, na maior expressão de amor, até muito pouco tempo atrás. Nunca faltam também os tradicionais neófitos da bola, convidados a darem opinião de algo que nunca vivenciaram profissionalmente, e que acabam proliferando rusgas e acusações internas gratuitamente. Dentro de campo, um elenco dividido, de qualidade técnica duvidosa, preocupado com razão com a insegurança de seus salários e premiações após a ruptura política que culminou com a saída do investidor que, por sua vez, bancava financeiramente tudo, quase sempre sozinho, há muito tempo.

O volante Alemão foi um dos poucos que apresentaram eficiência na Série C apesar do rebaixamento

O Ferroviário Atlético Clube quebrou novamente. Quebrou financeiramente e esportivamente, mas também quebrou moralmente, como várias vezes já ocorreu em sua história. A poeira vai baixar em algum momento no futuro e muitos poderão refletir sobre os acontecimentos dos últimos tempos com mais clareza. É preciso enxergar muito além de tudo aquilo que apenas parece ser: o Conselho Deliberativo que toma partido explícito por um lado da cisão não parece ser muito habilidoso, o diretor que jura comprometimento e apunhala pelas costas não parece muito confiável, o levante quase psicopata que pede a cabeça de quem injeta alguns milhões não parece muito inteligente, o trambiqueiro que insiste em fazer jogo duplo não deveria ser bem vindo e o torcedor que se acha dirigente vai parecer sempre um aventureiro. Tudo errado! Faltou paz, luz e discernimento ao ambiente coral. Sobrou vaidade e prepotência, de todos os lados. A queda em campo dos jogadores foi apenas a cereja do bolo, preparado dia após dia pelos que conduzem politicamente o clube. Agora, os diletos irresponsáveis podem se servir do bolo à vontade. O Ferroviário seguirá.

Fotos: Lenilson Santos

CONTEXTO DO ÚLTIMO JOGO CORAL NO ELZIR CABRAL PELO ESTADUAL

Confira o vídeo acima da TV Jangadeiro. Ele mostra o contexto da última vez que o Ferroviário Atlético Clube havia atuado em seu próprio estádio em jogo oficial válido pelo Campeonato Cearense. Foi no dia 16 de abril de 2011, contra o Limoeiro. Ontem, quase nove anos depois, o Tubarão da Barra voltou a utilizar sua praça esportiva forçado pelas indisponibilidades do Presidente Vargas e do Castelão para o início do certame estadual. Naquela partida de 2011, o Ferrão vencia por 1×0, com um gol estranhíssimo do atacante França, e se livrava matematicamente do rebaixamento apesar de ainda ter que cumprir dois jogos fora pelo certame contra Guarani de Juazeiro e Horizonte. Na ocasião, o jogo foi de portões fechados por conta de uma exigência do Ministério Público que não havia sido providenciada pela direção coral. O jogo foi transmitido pela TV Diário. Além do técnico gaúcho Joel Cornelli, que fazia a sua estreia no comando coral e que aparece na reportagem acima, o Ferroviário teve em sua onzena nomes como o goleiro Ari, o meia Piva, os volantes Glaydstone e Marcelo Mendes, o atacante Juranílson e o consagrado zagueiro Ediglê, que poucos anos antes, tinha sido campeão mundial com o Internacional de Porto Alegre.

LANÇADO DOCUMENTÁRIO SOBRE ASCENSÃO E QUEDA DO FERROVIÁRIO

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Gustavo Linhares (de azul) e a banca que atribuiu nota máxima ao documentário sobre o Ferrão

O rol de produções audiovisuais sobre o futebol cearense está definitivamente mais rico. Depois de bons vídeos destacando os rivais Ceará e Fortaleza, agora é o Ferroviário que acaba de ganhar um belo e interessante documentário. A produção partiu do jovem Gustavo Linhares, que utilizou sua obra como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará, sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo Jorge. Aprovado com nota máxima, o material intitulado “Descarrilhou… Ferroviário Atlético Clube: da Locomotiva de Glórias à 2ª Divisão do Campeonato Cearense” aborda os principais fatos da história coral desde sua fundação, focando principalmente os acontecimentos que levaram à perda de prestígio coral desde o bicampeonato 94/95 e a saída do presidente Clóvis Dias, culminando com a realização de campanhas pífias, crises políticas, seguidas lutas contra o descenso nos últimos 20 anos e o inevitável rebaixamento estadual em 2014. Em meio a uma elogiável narrativa, o documentário cobre in loco as partidas do Ferrão na segunda divisão estadual de 2015 com imagens dos vestiários, cobertura da campanha e da paixão dos torcedores que não abandonaram o time durante a competição, não obstante uma das mais vexatórias campanhas do clube em todos os tempos, quando terminou de forma vergonhosa na 6ª colocação.

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Documentário ficou pronto na semana passada

A obra de Gustavo Linhares tem o mérito de abordar e ouvir nomes importantes na caminhada do Ferroviário durante os 63 minutos do documentário. Através de imagens de arquivo, personalidades como o já falecido Valdemar CaracasIarley, Zé Limeira e Clóvis Dias, dentre outros, interagem de forma majestosa com a narrativa da história coral, dialogando ainda com depoimentos gravados junto ao eterno ídolo Pacoti, o historiador Airton de Farias, o ex-governador Lúcio Alcântara, dirigentes, ex-jogadores, torcedores e atletas do elenco de 2015, além de membros da crônica esportiva cearense, que expõem suas idéias sobre o declínio do Ferroviário nas últimas décadas, intercalando com memoráveis imagens de craques do passado e vídeos de jogos históricos do clube, entre eles o golaço do lateral direito Paulo Maurício, de falta, contra o Flamengo/RJ de Zico, em 1982, no Castelão. Apesar do tema doloroso, a abordagem sobre o rebaixamento coral teve o mérito de levantar com isenção as várias nuances técnicas e políticas que cercaram aquele episódio, além de evidenciar as agruras, dificuldades de gestão, limitações financeiras, bem como a persistente falta de estrutura identificada durante a tentativa de retorno à 1ª divisão no ano passado. A versão em DVD do documentário traz ainda um material extra que destaca histórias curiosas, a origem do termo Tubarão da Barra e uma bela lembrança e homenagem à torcedora Dona Filó, falecida em 1963, que dá nome à rua onde foi erguido o estádio do Ferroviário.

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Imagem de Clóvis Dias no documentário

A primeira exibição de “Descarrilhou… Ferroviário Atlético Clube: da Locomotiva de Glórias à 2ª Divisão do Campeonato Cearense” ocorreu na semana passada, na própria Universidade Federal do Ceará. Em março, o produtor espera organizar uma nova exibição do vídeo para os curiosos em algum dos auditórios do curso de Jornalismo na UFC. Por enquanto, não existe previsão da chegada do material no YouTube, já que Gustavo Linhares pretende inscrever sua preciosa obra em festivais audiovisuais pelo Brasil afora e estes exigem o ineditismo da película em mídias de exibição pública. Fica a sugestão do Almanaque do Ferrão.

POR ONDE ANDA O ÚNICO JOGADOR QUE SE SALVOU NO FATÍDICO 2014?

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Mauri em foto recente na Itália

O atacante Mauri foi seguramente o único jogador que se salvou na fatídica campanha do rebaixamento coral em 2014. Tendo sempre mostrado habilidade e velocidade nos clubes que defendeu, o ex-jogador coral hoje tenta a sorte no futebol italiano. Ele mora em Milão, uma das cidades mais bonitas da Europa. De origem italiana, Mauri aguarda a confirmação de seu passaporte europeu para poder voltar a trabalhar e ingressar em alguma equipe da Itália. Do Ferroviário, apenas algumas lembranças dos sonhos que acalentou ao chegar no clube, em julho de 2013, vindo do Rondonópolis/MT, todos eles jogados na lata do lixo com o vexame coral no ano seguinte.

Mauri tinha contrato até agosto de 2015 com o Ferroviário. Sua multa rescisória era de 450 mil Euros para transações internacionais e cerca de 1 milhão para negociações nacionais. Após o rebaixamento, foi emprestado para o também rebaixado Maranhão/MA e posteriormente para o São Benedito/CE, onde permaneceu por um ano. Com contrato em vigência, voltou ao time coral em outra vexatória campanha, na segunda divisão cearense, onde o Ferroviário terminou no 6º lugar em 2015. Desmotivado e sem perspectivas no clube que resolveu apostar dois anos antes, Mauri pediu rescisão. Hoje, aos 21 anos de idade, quer reconstruir sua carreira na Itália e lograr êxito no futebol, buscando seu sonho de infância. Foram apenas 17 jogos e 3 gols com a camisa coral, um deles o da vitória contra o Crato, fora de casa, em 2014, que recordamos abaixo, exatamente no jogo de número 3.477 da história coral registrado no Almanaque do Ferrão.

HÁ DOIS ANOS, IARLEY ERA APRESENTADO PELO FERROVIÁRIO

Há exatos dois anos, o consagrado atacante Iarley era apresentado pelo Ferroviário como reforço para a temporada de 2014. O Almanaque do Ferrão resgata acima um vídeo que faz uma retrospectiva daquele momento de grande empolgação na vida coral. Cria do próprio clube, onde assinou seu primeiro contrato profissional na carreira, o jogador decidiu retornar às origens para corrigir a lacuna histórica de nunca ter atuado pelo time principal do Tubarão da Barra. Em sua nova passagem pelo Elzir Cabral, Iarley vivenciou dias difíceis de instabilidade política, ruptura da gestão do futebol e uma tabela massacrante de jogos que obrigou o atleta, com seus 40 anos de idade, a se desdobrar em campo com dignidade na tentativa em vão de salvar o Ferroviário do rebaixamento.

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Iarley: o último agachado no time Sub-20 de 1994

Todos lembram de Iarley por suas passagens vitoriosas pelo Internacional/RS, Corinthians/SP, Boca Juniores da Argentina, dentre outras equipes. Porém, muitos desconhecem a origem humilde que o fez atender o pedido de um tio e deixar a pequena Quixeramobim, no sertão central cearense, para jogar nas categorias de base do Ferrão, onde conquistou o título cearense Sub-20, no ano de 1994, em jogos que eram disputados nas preliminares dos time principal. Quem via Iarley em campo, naquelas tardes de domingo, apostava nele como o próprio futuro do Ferroviário, futuro este que não chegou em razão da crise política estabelecida em dezembro de 1997, que acabou afastando Clóvis Dias da presidência coral e mudou os destinos do promissor jogador na Barra do Ceará, tendo ele que deixar a equipe num acordão liberatório que envolveu nove jogadores.

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Iarley em campo no campeonato cearense de 2014

Naquele dezembro quente de 2013, Iarley bem que merecia uma apresentação tão portentosa quanto a preparada para o centroavante Jardel, quase cinco anos antes. Ele foi apresentado numa manhã normal de sábado, na Barra do Ceará, diante de um público modesto se comparado ao que presenciou a chegada do ´Super Mário`. Em quase 3 meses no Ferroviário, Iarley foi um verdadeiro exemplo para os mais jovens. Por vezes, era poupado do treino para recuperar de contusões a fim de não desfalcar o Ferrão nas partidas de um campeonato irresponsavelmente tocado na base de 3 a 4 jogos por semana. Acreditou no que lhe foi vendido pela presidência do clube, se decepcionou e acabou amargando dias complicados que culminaram com o rebaixamento coral, porém manteve-se fiel a tudo que foi acordado, jogando até o último e fatídico jogo em Quixadá, que mandou o Ferroviário para a segunda divisão. Em termos de salários, Iarley sequer recebeu 10% do que havia sido acordado. Mesmo assim, respeitou o clube que o projetou e nunca cogitou acionar a justiça em busca de seus direitos. Foi sério, correto e profissional em todos os momentos e merece ser lembrado para sempre como um dos grandes nomes da história. Ao pendurar as chuteiras em fevereiro de 2014, Iarley finalmente cumpriu 16 jogos e 6 gols marcados com a camisa do time principal do Ferrão.

FERRÃO USOU CAMISA DOURADA PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA

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Ferroviário utilizou pela primeira vez na história uma camisa diferente das cores tradicionais

Depois de sete anos, o Ferroviário inovou no padrão de seu uniforme de jogo. Ontem, por ocasião da estreia coral na Série B do campeonato cearense, o Tubarão da Barra entrou em campo com uma camisa dourada. A última vez que algo semelhante ocorreu foi em janeiro de 2008, quando o comando da época lançou o terceiro uniforme na cor preta, padrão utilizado até o ano de 2010 e, posteriormente, resgatado na temporada de 2013.

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Ontem no Instagram

O novo modelo coral causou opiniões controversas logo que foi anunciado momentos antes do jogo através de uma rede social. É certo que boa parte das críticas vieram apenas após a derrota na estreia para o Tiradentes, fruto da paixão que invariavelmente cerca a opinião dos torcedores. Curiosamente, antes do resultado negativo, as opiniões nas redes sociais mostravam ampla supremacia em favor da aceitação do novo modelo. Houve quem reclamasse dos cinco patrocinadores estampados na nova camisa, como se fosse possível algum time no mundo sobreviver sem esse tipo de captação de investimento publicitário. Diz o ditado que quem muito ouve no futebol, nada faz. Filtrar as críticas construtivas é sempre a melhor alternativa.

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Camisa preta era a grande novidade de 2008

Assim como o padrão dourado, o modelo preto em 2008 também gerou críticas, posteriormente suplantadas com a beleza estética do time em campo, principalmente nos jogos noturnos. No futebol moderno, o terceiro padrão de camisas permite a busca pela inovação e, quase sempre, haverá barreiras de aceitação. Foi assim em todas as equipes que adotaram essa estratégia. No caso específico do Ferrão, a polêmica da ´nova camisa` é apenas mais uma prova que o clube possui dificuldades históricas em conciliar o velho e o novo, o tradicional e o moderno, e por consequência o certo e o errado, uma questão de maturidade que o futebol exige como prerrogativa para o progresso. Aprovadas ou reprovadas, as camisas douradas entraram ontem para a história. E como bem disse João Ubaldo Ribeiro, o segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias.

10 MOTIVOS QUE LEVARAM O FERRÃO AO REBAIXAMENTO

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Há exatamente 1 ano, o Ferroviário era rebaixado pela primeira vez em sua história para a 2ª divisão do futebol cearense, a exemplo do que já ocorrera em nível estadual com os tradicionais Vila Nova/GO, Atlético/GO, Paraná/PR, Maranhão/MA, Moto Clube/MA, Guarani/SP, América/RJ, Rio Negro/AM, Tuna Luso/PA, Flamengo/PI, CSA/AL, Fluminense/BA, Brasil/RS e América/MG. Os motivos da queda são sempre os mais diversos, porém em todos os citados possuem questões técnicas de campo, financeiras e políticas. O Almanaque do Ferrão enumera abaixo 10 fatores que levaram o time coral ao fracasso no ano passado, desejando que a partir da próxima semana, quando iniciam as disputas da Série B cearense, o clube possa retomar a sua trajetória de credibilidade.

01. Pré-temporada mal conduzida por comissão técnica inexperiente, que pecou na ausência de metodologia de treinos, indicação de reforços e realização de apenas dois amistosos preparatórios, cinco a menos em comparação à temporada anterior.

02. Voto de minerva por uma fórmula inapropriada e curta de campeonato, que durou apenas 49 dias para o Ferroviário com 3 a 4 jogos por semana do início ao fim, sem chances de recuperação ou realização de turno da morte.

03. Abandono das premissas da gestão financeira de futebol em relação ao ano anterior com a chegada de jogadores de nível igual ou inferior aos que já estavam no elenco, contratados com salários maiores e ainda assim não foram titulares.

04. Hostilidade de trabalho com a chegada de novo treinador ainda na segunda semana do campeonato, com perda de critérios de justiça, inobservância à individualidade dos atletas disponíveis e obsoletismo das práticas de treinamento e liderança de grupo.

05. Contratação de vários reforços durante a competição vindos de longos períodos de inatividade e que desciam do avião para entrar na equipe sem o tempo de preparação física adequado, além de inflacionar e estourar o orçamento salarial.

06. Falta de comprometimento da maioria dos principais reforços, refletido em casos de indisciplina, inclusive na noite anterior à viagem decisiva para Quixadá com 3 jogadores chegando embriagados na sede do clube horas antes do embarque.

07. Inabilidade em questões que minavam o grupo como atletas pagos em dia e atletas em atraso, listas de dispensa feitas no calor das derrotas e reviravoltas nas decisões, com destaque para caso de atleta dispensado às 9h e readmitido às 14h.

08. Crise política a partir da ruptura abrupta do modelo de gestão profissional de futebol em vigência até 2013, ocasionando insatisfações internas, desconfiança de investidores, surgimento de alas e extinção de outrora bom ambiente de trabalho.

09. Interferências pessoais na escalação de alguns jogadores em detrimento de atletas com contratos longos que iniciaram a competição como titulares e passaram a ficar em segundo plano por determinações externas à gestão do clube.

10. Ausência de comando em nível técnico e administrativo com lacunas de autoridade, falência política, amadorismo e instituição de boataria gratuita com ondas de denuncismo e demais mazelas inerentes ao ambiente por vezes imundo do futebol.

ESTREIAS NO DIA 5 DE JANEIRO NA HISTÓRIA DO FERROVIÁRIO

Ontem foi dia 5 de janeiro e esta data faz referência à estreia do Ferroviário em quatro diferentes edições do campeonato cearense ao longo dos anos, mais precisamente nos certames de 2003, 2008, 2013 e 2014. O Almanaque do Ferrão faz agora um breve resumo histórico de cada estreia e contextualiza o impacto comparativo do resultado da partida com o desfecho final do Tubarão na competição.

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Derrota em 2003 e vice-campeonato no final

Em 2003, o Ferroviário montou um time modesto envolto às limitações financeiras de sempre, mas que acabou ficando com o vice-campeonato por ter sido o clube que mais pontuou entre todos os participantes, com exceção evidentemente do campeão Fortaleza, que arrebatou o título arrastão conquistando dois turnos. O resultado da estreia, entretanto, não foi nada animador: derrota para o Maranguape, em pleno PV, por 1×0, num time que jogou com Zezinho, Arildo, Marcos Aurélio, Puma e Marcelo Sabiá (Andrezinho); Édio, Cícero César, Cantareli (Gil Bala) e Júnior Cearense; Danilo (Renatinho) e Guedinho. Foram estes jogadores que garantiram ao Ferroviário o direito da última participação coral na Copa do Brasil, acontecida no ano seguinte, quando a equipe ainda tinha vaga cativa na Série C do Campeonato Brasileiro.

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Estreia também da camisa preta em 2008

Outra estreia num 5 de janeiro ocorreu cinco anos depois, em 2008, no Elzir Cabral, 1×1 com o Itapipoca, numa partida que o time coral cometeu o deslize de inaugurar seu novo uniforme, na cor preta pela primeira vez na história, sob o sol desgastante de um sábado às 15h30. Os jogadores só aguentaram o primeiro tempo e voltaram de branco para a etapa final. O time formou com Marcelo Silva, Júnior Moura, Jaílson, Nemézio e Teles; Dedé, Stênio (Nilsinho), Mazinho e Júnior Ferreira (Guto); Danúbio (Leonardo) e Danilo Pitbull. A estreia nada convincente foi apenas um aperitivo para o que viria ao final da competição: pontuação baixa no Estadual mais importante dos últimos tempos, pois valia uma vaga para a Série C definitiva do Brasileirão, conquistada pelo Icasa, o que para o Ferroviário significou o rebaixamento sumário para jogar apenas a Série D nacional em caso de futuras classificações via campeonato cearense.

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Perfilados para o hino nacional na estreia de 2013

Em 2013, estreia com vitória em cima do Crato, por 1×0, no PV, com um gol do artilheiro Giancarlo nos acréscimos. Época de esperanças promovidas por uma diretoria renovada, uma equipe com média de 20,4 anos de idade e um projeto de gestão de futebol promissor com objetivos de médio e longo prazos, que valeram uma excelente primeira fase de competição apesar de gritantes limitações financeiras, quando por muito pouco a equipe não conquistou depois de 10 anos uma vaga para a Copa do Brasil. Ferrão com Fernando Júnior, Everton (Márcio), Cleylton, Anderson Borges (Kleyton) e Tinga; Lima, Maico Motta, Foguinho e Leandro; Luisinho (Romário) e Giancarlo.

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Goleada com Iarley e ilusões em 2014

No ano passado, a queda, o rebaixamento para a segunda divisão cearense, apesar da impiedosa goleada na estreia, novamente contra o Crato, 7×2 no Castelão. Sem dúvida, um resultado que escamoteou uma péssima pré-temporada e a ruptura por completo de premissas básicas da gestão de futebol em relação ao que vinha sendo posto em prática na temporada anterior. Formado por Fernando Júnior, Mota, Júnior Carvalho, Regineldo e Everton; Vagno Pereira, Haron (Anderson Lourenço) e Jack Chan (Diego); Iarley (Adilton), Rafael e Igor Eloy, essa equipe deu falsas ilusões a um ótimo público presente no estádio, fechando a série de quatro estreias estaduais no dia 5 de janeiro no decorrer de oito décadas.