No click acima do fotógrafo Lenilson Santos, o atacante Gabriel Silva passa entre os jogadores do time da Juazeirense/BA. O jogo foi válido pela fase preliminar da Copa do Nordeste de 2022 e o Ferroviário venceu por 4×0, ontem na Arena das Dunas. Graças à incompreensão dos gestores públicos do Estado do Ceará, a Arena Castelão foi vergonhosamente vetada para o importante jogo coral e ele teve que ser realizado em Natal. A Juazeirense enfrentou o Ferroviário pela primeira vez na história, sendo o nono representante do futebol baiano a jogar contra o Tubarão da Barra. Antes, o Ferroviário teve treze jogos contra o Bahia, oito contra o Vitória, quatro contra a Jacuipense, três contra o Ipiranga, dois contra o Serrano, duas partidas contra o Fluminense e uma partida contra Galícia e Leônico, respectivamente. Até o momento, foram realizados 35 jogos contra equipes baianas, sendo 11 vitórias, 10 empates e 14 derrotas para os representantes da terra do acarajé. O piauiense Pepê, famoso atacante entre as temporadas de 1939 e 1942, é o maior goleador entre os corais contra equipes baianas. Ele marcou 5 gols em jogos contra Bahia e Ipiranga no período.
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O ESCUDO DE 1940 QUE DESPERTA CURIOSIDADES, DÚVIDAS E PAIXÕES
Essa foto circulou as redes sociais nos últimos dias por conta da notícia de que o Ferroviário registrou oficialmente sua marca, além do atual escudo e também esse antigo brasão. Apesar de algumas publicações trazerem no passado essa mesma imagem se referindo ao elenco de 1941, o registro se trata verdadeiramente dos jogadores que defenderam o Ferroviário no campeonato cearense de 1940. Portanto, foi no Estadual daquele ano que o clube utilizou o escudo com uma roda de ferro e barras de trilho, simbolizando uma asa. Referido escudo foi utilizado de forma semelhante por outros times de origem ferroviária naquela década, não representando nenhum tipo de criação exclusiva do Ferroviário para aquela temporada. Ele é, inclusive, muito parecido com o símbolo interno presente no escudo do Moto Clube/MA, fundado três anos antes. A imagem da camisa com esse símbolo é nítida e, entre os jogadores, é fácil perceber o craque Zuza, ex-Great Western/PE, que ficou no Ferroviário até o encerramento do campeonato cearense de 1940, que se deu somente no início de 1941. Especificamente em 1941, ele disputou o certame local pelo Ceará. O artilheiro Jombrega é outro que não ficou no time coral para o Estadual daquele ano. Aliás, 1941 é exatamente o ano em que Valdemar Caracas mandou buscar os uniformes do São Paulo/SP diretamente da capital paulista e inaugurou a identidade visual que o Ferroviário mantém até hoje nas cores, no escudo e também muitas vezes no uniforme ao longo dos anos. Essa referência completará 80 anos em 2021 e desperta até hoje curiosidades, dúvidas e paixões. Há quem defenda radicalizar e criar um estilo próprio. Tem que ter muita coragem pra romper com a tradição de oito décadas de uma homenagem proposital promovida pelo principal fundador do clube.
MEMÓRIAS DA PRIMEIRA EXCURSÃO DO FERROVIÁRIO POR AÍ AFORA
Responda rápido: qual estado brasileiro recebeu o Ferroviário em sua primeira temporada fora de terras cearenses? Errou quem imaginou que fossem os vizinhos Piaui ou Rio Grande do Norte. Saiba que foi no distante estado do Amazonas, na cidade de Manaus, que o Ferrão atuou fora de seus domínios pela primeira vez em sua história. Era outubro de 1940 e o time coral aproveitou uma folga na tabela do campeonato cearense para excursionar por três semanas na região norte do país. Foram cinco jogos disputados no Parque Amazonense, o primeiro palco do futebol da capital do Amazonas, contra Fast/AM, União/AM, Rio Negro/AM, Olímpico/AM e Nacional/AM. Tempos em que o Ferroviário era chamado de ´Esquadrão Colosso` e tinha em suas linhas jogadores lendários como Capotinho, Zé Félix, Popó, Zuza, Pepê, Chinês, Jombrega e Mário Negrin.
Logo no primeiro jogo da excursão, o Ferroviário foi derrotado para o Fast por 5×2. Foi apenas o jogo de número 84 da história coral. Em seguida, o Ferrão venceu o União, que era o líder do campeonato amazonense naquele período, pelo placar de 3×1. Depois veio o Rio Negro, que venceu o esquadrão coral por 3×2, com um gol de pênalti no final da partida, disputada debaixo de um temporal que caia em Manaus naquela tarde. O quarto confronto foi contra o tradicional Olímpico, contando com grande apresentação de Jombrega e Mário Negrin, e mais uma vitória coral por 3×1. Posteriormente, veio a despedida do Ferrão em terras manauaras contra o Nacional e uma grande vitória conquistada por 3×2, o que valeu a Taça Cidade de Manaus para o ´Esquadrão Colosso` de Fortaleza. O Ferroviário voltou a Manaus algumas outras vezes, porém sem nunca mais atuar no Parque Amazonense, que por sua vez foi perdendo a importância no cenário local com a construção de outros estádios, apesar de ficar a apenas 1km do centro da cidade. Apesar de não sediar jogos oficiais desde 1976, há poucos mais de três anos o campo ainda existia no mesmo local, até ser completamente desativado e liberado para construção. Ficaram as lembranças de um futebol quase que totalmente amador, mas que apresentou para a história os primeiros grandes nomes da trajetória coral.
A LENDA CRIADA E A VERDADE SOBRE ´PERU, REDONDO E CACETÃO´
A dúvida que mais chega ao Almanaque do Ferrão é sobre a real existência do trio de jogadores corais ´Peru, Redondo e Cacetão` há muitos anos atrás. Chico Anysio, o mestre brasileiro do humor, nascido no Ceará, desde que mudou-se para o sudeste do país em busca da fama e do sucesso artístico, sempre falava em seus shows e gravações lançadas sobre esse pretenso trio do Ferroviário. Em 2008, no extinto programa ´Pontapé Inicial´ da ESPN Brasil, ele declarou: “Quando eu era adolescente, essa foi uma linha real de ataque, e muito famosa, do Ferroviário, que é o meu time no Ceará“. A partir dali, quase no fim de sua vida, o Brasil inteiro, que há décadas sabia da fama de ´Peru, Redondo e Cacetão`, tomou conhecimento que Chico Anysio torcia Ferroviário, algo inédito em termos de revelação pública até então. Mas, e ai? Existiu mesmo esse trio? Antes da resposta, escute abaixo a famosa piada contada pelo rei do humor nos anos 70.
A resposta é não. As mais de duas décadas de pesquisas que resultaram na publicação do Almanaque do Ferrão revelaram que “Peru, Redondo e Cacetão” nunca foram nomes que vestiram a camisa coral em toda a sua história. O próprio fundador do clube, Valdemar Caracas, revelou certa vez às pesquisas o seguinte: “Fazia parte da verve pitoresca no nosso conterrâneo Chico Anysio. Fundei o clube e lembro de todos os nomes mais curiosos da nossa equipe como Galo Duro, Munt, Zimba, Puxa Faca, Pepê, Pirão e até o Izaquiel, que um dia eu multei porque perdeu um pênalti“, disse. Apesar de nunca terem jogado no Ferroviário, esses nomes existiram como jogadores de outras equipes. Cacetão, por exemplo, foi um grande jogador no Paysandu/PA. De toda forma, o Ferrão agradece a simbologia que até hoje é contada nos stand-ups de comédia pelos seguidores de Chico Anysio. Este, gênio e eterno por natureza, viverá para sempre na memória nacional. Em 2012, pouco depois de sua morte, ganhou até música composta por Virgílio César, um autêntico torcedor do Ferrão. Escutem a música em sua homenagem e viva “Peru, Redondo e Cacetão” mesmo sem nunca terem existido.
29 DE FEVEREIRO: APENAS TRÊS JOGOS EM TODA A HISTÓRIA CORAL
29 de fevereiro é um dia atípico. Só acontece de quatro em quatro anos, todo mundo sabe disso. Mas você sabe dizer quantas vezes o Ferroviário jogou nessa data? O Almanaque do Ferrão responde: apenas 3 vezes! A primeira foi em 1940, em amistoso contra o Ceará, no Campo do Prado, e vitória alvinegra por 2×1. O lendário atacante piauiense Pepê marcou para o Ferrão. O segundo jogo num 29 de fevereiro só aconteceu em 1984, válido pela elite do campeonato brasileiro, contra o Fluminense/RJ, no Estádio São Januário, derrota para o tricolor carioca em plena cidade maravilhosa pelo placar de 2×0. A última vez foi exatamente no mais recente ano bissexto do calendário gregoriano, há 4 anos, pelo campeonato cearense de 2012. Diante de apenas 37 testemunhas no estádio Domingão em Horizonte, o Guarany de Sobral foi batido por 3×2, com gols do meia atacante Rafinha (duas vezes) e do atacante Jânio Daniel, eles que fizeram parte de um dos piores elencos já montados na longa caminhada coral. O próximo 29 de fevereiro será em 2020 e cairá exatamente num fim de semana. Quem sabe não podemos ter o quarto jogo do Ferrão nessa data? É esperar pra ver a história ser feita.
NARRAÇÃO DOS GOLS DO JOGO FERROVIÁRIO 2×0 FORTALEZA EM 1985
Cardosinho marcou um gol olímpico e Luizinho das Arábias chegava ao seu 13º gol no campeonato cearense de 1985. Foi na tarde do dia 22 de setembro, no Castelão, e o Ferroviário embalava na competição ao vencer o Fortaleza por 2×0. Os gols saíram no segundo tempo e foi uma vitória bastante comemorada. Quase 30 anos depois, o Almanaque do Ferrão resgata a narração dos dois gols em áudio na voz de Gomes Farias pela Rádio Verdes Mares AM de Fortaleza. Treinado por Caiçara, o Ferrão venceu com Serginho, Laércio, Arimatéia (Zé Luís), Léo e Vassil; Alex, Arnaldo e Vander (Doca); Cardosinho, Luizinho das Arábias e Carlos Antônio. O Fortaleza do treinador Pepe, ex-companheiro de Pelé no Santos, jogou com Salvino, João Carlos, Marcelo, Perivaldo e Caetano; Ribamar (Tangerina), Jacinto (Esquerdinha) e Buíque; Gilson, Batista e Adilson Heleno. Aperte o play e entre no túnel do tempo parar recordar aquela vitória em 1985.
URUBATÃO CALVO NUNES: A HISTÓRIA NÃO LEMBRA DOS COVARDES
Urubatão Calvo Nunes foi bicampeão paulista pelo Santos em 1955 e 1956 como jogador de meio campo. Jogou ao lado de nomes como Pelé, Pepe, Dorval, Coutinho e outros tantos, inclusive na seleção brasileira. Após a aposentadoria como atleta, virou treinador com passagens pelo América/SP, Fortaleza e o próprio Santos em 1977. Chegou para o Ferroviário em 1979 após irregular campanha do time coral no 1º turno do campeonato cearense. Foi apresentado para a torcida no feriado de 1º de maio, com um festival na Barra que recebeu um bom público no amistoso contra os funcionários da cervejaria Antarctica. Desceu de helicóptero no gramado como estrela. Estreou no 2º turno uma semana depois contra o América, uma vitória de virada graças a dois gols do meia Jacinto. Sob o comando de Urubatão, o Ferrão humilhou o Guarany de Sobral (5×2), o Ceará (4×2) e o Fortaleza (5×0). Venceu o turno e colocou o time coral na final.
O Almanaque do Ferrão resgata acima uma foto histórica: Urubatão Nunes ao lado de Chateaubriand Arrais e Ruy do Ceará, dois ilustres representantes da melhor safra de dirigentes da história do clube. Em Fortaleza, o técnico coral residia no apartamento 611 do decadente Edifício Jaqueline, no bairro nobre do Meireles. De personalidade forte, entregou o cargo após uma derrota para o Ceará no 3º turno. Depois que alguns dirigentes tentaram demovê-lo da idéia e convencê-lo a ficar, entrou em cena a perspicácia do diretor de futebol Ruy do Ceará: “De jeito nenhum, agora quem não quer sou eu“. Ruy contratou o treinador César Moraes, que 40 dias depois sagrou-se campeão cearense. Urubatão não saiu na foto, mas jamais se pode esquecer sua importância nos 23 jogos que comandou o time naquele campeonato.
Urubatão voltou ao futebol alencarino em 1986 como treinador da seleção cearense, que se preparava para o retorno do campeonato brasileiro de seleções, competição esta que acabou nunca sendo realizada em razão da conhecida desorganização que imperou na CBF durante os anos 80. Morreu em 2010 depois de lutar bravamente contra um tumor no cérebro e outro no pulmão. Uma de suas frases mais conhecidas está registrada nos anais do futebol brasileiro e reproduz bem a personalidade que o caracterizou enquanto ser humano e profissional do futebol: “A história não fala dos covardes“. Não fala mesmo. Se não merecesse, Urubatão não estaria há mais de 30 anos na história do Ferroviário.
AS IMPACTANTES CONTRATAÇÕES PARA O CAMPEONATO DE 1939
O ano de 1939 foi muito importante para o Ferroviário e para a história do futebol cearense. Depois de disputar o campeonato anterior com um time formado em sua maioria pelos operários da Rede de Viação Cearense (RVC), o entusiasmado Valdemar Caracas queria ir longe e deflagrou o início da profissionalização do futebol alencarino trazendo o zagueiro Popó do Great Western de Pernambuco. Era só o começo das primeiras contratações de fora na vida do clube.
Também do futebol pernambucano chegaram o craque Zuza e o extrema esquerda Chinês. Do interior do Piauí, veio o endiabrado Pepê. Mas foi de São Paulo a chegada mais festejada, o centro-médio Miro, titular do Corinthians/SP em 1938. Ele chegou com o centroavante Durval, que sequer chegou a atuar pois foi logo mandado embora tamanha a ruindade. A foto acima é histórica. Como se vê, o que Durval tinha de elegância no vestir, faltava-lhe na bola. Miro chegou a fazer 8 partidas e voltou pra sua terra. Reza a lenda que deixou boas lembranças, mas só entre as residentes de Maracanaú, local do sítio da concentração coral antes dos jogos. E o que não faltou foi saudade para as distintas moçoilas da região.