GOL DE OLIVEIRA CEARÁ E MORTE DE TORCEDOR CORAL NO CASTELÃO

Oliveira Piauí vai pra cima do Fortaleza sob o olhar do zagueiro Arimatéia e do goleiro Giordano

Naquele domingo de 24 de julho de 1977, enquanto o Brasil inteiro tomava conhecimento do famoso caso de assassinato da jovem carioca Cláudia Lessin Rodrigues, Ferroviário e Fortaleza faziam um Clássico das Cores também com clima de tragicidade. Com gols de Oliveira e Alzir, o time coral bateu o Leão por 2×1 no Castelão. Geraldinho marcou o único gol do adversário. O acontecimento trágico da partida aconteceu no momento do gol do meia atacante Oliveira, logo aos 11 minutos de partida. Possivelmente emocionado com o tento coral, o torcedor Lauro Oliveira Martins passou mal e faleceu nas arquibancadas do estádio. De nada adiantaram os primeiros socorros promovidos por torcedores que estavam ao seu redor. Foi uma vitória conseguida com um jogador a menos, já que Kalu foi expulso pelo árbitro Leandro Serpa. O meio campista Joel Maneca, jogador de uma capacidade técnica reconhecida, foi considerado o melhor em campo. Treinado por Pedrinho Rodrigues, o Ferrão venceu com Giordano, Bassi, Lúcio Sabiá, Arimatéia e Grilo; Joel Maneca  e Danilo Baratinha; Kalu, Oliveira, Oliveira Piauí (Alzir) e Babá (Paulo César Feio). O Fortaleza, treinado por Moésio Gomes, formou com Lulinha, Alexandre, Ivan Limeira, Adalberto e Paulo Maurício; Ubiranir (Lucinho) e Bibi; Geraldinho, Amilton Melo, Geraldino Saravá (Gildásio) e Dudé. O público do jogo foi de 8.489 pagantes. O zagueiro Ivan Limeira, do Fortaleza, havia jogado no Ferroviário na temporada de 1971 e era irmão do folclórico Zé Limeira, famoso torcedor coral falecido em 2004. No Ferrão, o goleador Oliveira, também conhecido como Oliveira Ceará por causa da presença de outro jogador com o mesmo nome, Oliveira Piauí, trabalhou por décadas no clube como supervisor e treinador, passando a adotar o nome José Oliveira.

AMISTOSO PARA QUITAR A CONTRATAÇÃO DE UM NOVO GOLEIRO

Chegada de Ubirajara

Aconteceu em junho de 1976. O experiente goleiro Ubirajara foi contratado pelo Ferroviário para as disputas do campeonato cearense daquele ano. Carioca de nascimento, Ubirajara Dias Ribeiro tinha 29 anos quando desembarcou na Barra do Ceará, trazendo na bagagem boas passagens pela Portuguesa/RJ, Moto Clube/MA, e Paysandu/PA. Ele vinha do América de Natal, onde em quatro temporadas, o novo arqueiro coral virou ídolo por ter sido bicampeão potiguar e disputado três campeonatos nacionais. Há exatos 44 anos, o Ferrão foi até a capital potiguar para realizar um amistoso como parte do pagamento pela liberação do arqueiro. O jogo, realizado no antigo Castelão, terminou 1×1, com gols de Oliveira para o Ferrão e David para o América. Treinado por César Moraes, o time coral jogou com Ubirajara, César, Pogito, Arimatéia e Ivanildo; Jodecir e Aucélio; Vanderley, Erandy (Pinto), Lula e Fernando Canguru (Oliveira). A equipe potiguar jogou com Batista (Otávio), Ivan, Alberto, Queiro e Telino (Olímpio); Garopa (Romualdo) e Washington; David, Zeca, Pedrão e Ivonildo. O Ferrão poderia ter saído com a vitória, mas o árbitro Luís Meireles anulou um gol do garoto Vanderley no segundo tempo. Ao todo, o goleiro Ubirajara fez apenas sete jogos defendendo a meta coral, isso porque o Ferroviário foi eliminado precocemente do campeonato de 1976 e seu contrato foi rescindido. Depois do Ferrão, o experiente arqueiro seguiu sua carreira até meados dos anos 1980, passando ainda por clubes como Fluminense/BA, Mixto/MT, Goiás e Vila Nova/GO.

IMAGEM RARA DO FERROVIÁRIO COM O LATERAL DIREITO IVAN LOPES

Ferroviário Atlético Clube em 1977 – Em pé: Giordano, Arimatéia, Joel Maneca, Lúcio Sabiá, Ivan Lopes e Grilo. Agachados: Vanderley, Oliveira, Oliveira Piauí, Danilo Baratinha e Babá

O retrato é um registro histórico do dia 17 de Julho de 1977. Antes de jogar a partida de número 1.566 de sua jornada, o Ferroviário posou no gramado do Castelão. Nesse dia, o adversário foi o Ceará, que acabou levando a melhor ao quebrar uma invencibilidade de 12 partidas do time coral no campeonato cearense. Trata-se de uma imagem até certo ponto rara, já que não é muito comum encontrar fotografias do Ferrão trazendo o lateral direito Ivan Lopes, que só disputou aquela temporada pelo Tubarão da Barra, totalizando apenas 17 jogos na história com a camisa coral. Ivan era um jogador rodado no futebol nordestino, teve boas passagens na Paraíba e foi titular do Tiradentes/PI em momentos históricos da equipe piauense no campeonato brasileiro daquela década. O treinador desse time era o também experiente Pedrinho Rodrigues, um dos responsáveis por lançar no time principal um nome que se consagraria como astro no Brasil e na Inglaterra: o atacante Mirandinha. Da onzena da foto, o atacante Oliveira Piauí faleceu em 1981. O outro Oliveira chegou a ser treinador e supervisor do Ferrão em várias oportunidades na década de 1980. Danilo foi treinador do Tiradentes/CE no campeonato cearense desse ano.

APRESENTAÇÃO HISTÓRICA DE UM TÉCNICO MUNDIALMENTE FAMOSO

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Registro dos torcedores na arquibancada do SESI e Vavá cumprimentando o goleiro Marcelino

Você lembra do Edvaldo Izídio Neto? Infelizmente seu nome é poucas vezes reverenciado no futebol cearense. Ele foi treinador do Ferroviário no campeonato estadual de 1976. Estamos falando exatamente de Vavá, bicampeão mundial pela seleção brasileira nas copas de 1958 e 1962. Há exatos 40 anos, era ele o técnico coral a comandar jogadores como o goleiro Marcelino, o zagueiro Pogito, o meia Danilo Baratinha e o atacante Lula, entre outros. Talvez seja o treinador mais famoso que já passou pela Barra do Ceará em todos os tempos. Sua apresentação ocorreu debaixo de foguetório diante de centenas de pessoas no campo do SESI, instalação que fica até hoje ao lado do estádio Elzir Cabral. Foram apenas 13 partidas no comando técnico coral, mas o suficiente para entrar na história. Em 21 de março daquele ano, Vavá dirigiu o Ferrão na vitória por 1×0 contra o Calouros do Ar, pela 2ª fase do 1ª turno do estadual, gol de Oliveira. Pouco mais de um mês depois, após sofrer uma goleada por 6×0 para o Ceará, perdeu o emprego. O famoso ´Leão da Copa` seguiu sua carreira e fez parte da comissão técnica de Telê Santana na lendária participação do Brasil na Copa de 1982, na Espanha. Vavá morreu em 19/01/2002, vítima de infarto e foi sepultado no Rio de Janeiro.

EM 01 DE SETEMBRO DE 1973 COMEÇAVAM OS ANOS DE CHUMBO

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Anos de chumbo também para o Ferroviário

Engana-se quem acredita que o calendário do futebol é um problema dos dias atuais. Muitos clubes amargaram situação semelhante nos tempos da ditadura. O Ferroviário, em particular, chegou à beira do precipício em termos financeiros pela falta de jogos oficiais em boa parte dos anos 70. E foi exatamente num 1º de setembro como hoje, há 42 anos atrás, que o time coral estreou na Taça Santos Dumont, uma espécie de Taça Fares Lopes da época, que reunia todos os times cearenses sem competições oficiais promovidas pela antiga CBD, com exceção de Ceará, que havia conquistado a vaga dentro de campo como campeão do ano anterior, e o Fortaleza, este indicado pelo coronelismo estadual em consonância com o regime militar dentro da vergonhosa linha de ação eternizada pelo histórico mote: “onde a Arena vai mal, mais um no Nacional“. E foi o Maguari, no jogo de número 1.367 da vida coral, que enfrentou o Ferrão num Elzir Cabral inacabado, diante de um público diminuto que pagou para ver o gol da vitória de 1×0 marcado por Simplício. Largada com o pé direito na nova competição.

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Simplício: gol solitário na estreia

Treinado por Vicente Trajano, lendário ex-jogador coral, o Ferroviário atuou naquela tarde com Marcelino, Carlito (César), Lúcio Sabiá, Luciano Amorim e Eldo; Vicente e Simplício; Brígido (Alfredo), Oliveira, Dim e Marcos. Era basicamente um time formado por jovens da base. Do outro lado, o experiente Astrogildo Nery mandou à campo o Maguari com Ademir, Berico, Paulo Afonso, Assis e Neto; Rubens e Zé Maria Oliveira (Bosco); Chico Alves, Piçarra, Ibsen e Nilsinho. Depois vieram como adversários Quixadá, América, Calouros, Guarany de Sobral, Tiradentes, Icasa e Guarani de Juazeiro, este o campeão da competição. Talvez nem eles próprios lembrem, dada a pouca cobertura da mídia cearense na época, ocupada demais com a participação da dupla Ceará-Fortaleza no Brasileiro. Eram os anos de chumbo para o país e também para a grande maioria dos times nacionais, alijados de competições oficiais graças ao calendário excludente da CBD, nada muito diferente da situação vivida no futebol nacional nos últimos 10 anos na “nova” lógica da CBF. Como se fez no passado, já passa da hora de mudar o panorama do calendário, pois não faltam times agonizando prestes a fecharem as portas.

O GOL MAIS BONITO DO FANTÁSTICO: JORGE VERAS DO FERROVIÁRIO

Em outubro do ano passado, o Almanaque do Ferrão recordou o gol do centroavante Ilo, em 1987, escolhido o mais bonito da rodada pelo programa Fantástico. A postagem repercutiu no sul do país e o próprio filho do ex-jogador coral, falecido em 2010, entrou em contato com o blog, o que valeu outra matéria apresentando aquele lance memorável. Hoje é a vez de resgatar um outro gol histórico escolhido por aquele famoso semanário da televisão brasileira. Vamos até 24 de Julho de 1983, quando Ferroviário e América jogaram no Castelão e o belo tento da vitória coral veio dos pés do artilheiro e ídolo Jorge Veras, que fazia com o meia Betinho uma dupla infernal no campeonato cearense.

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Jorge Veras é o 5º agachado no elenco de 1983

O Ferrão era comandado pelo treinador Lula, ex-atacante do Internacional/RS e do Fluminense/RJ. Naquela tarde de domingo, ele escalou o time com o futebol de Giordano, Laércio, Paulo Alves, Nilo e Luisinho; Doca, Carioca e Barga (Paulinho Lamparina); Chicão (Narcélio), Paulo César Cascavel e Jorge Veras. Antes desse jogo, o América havia quebrado uma invencibilidade de 18 jogos do timaço que o Fortaleza montou na temporada de 1983. Treinado pelo ex-jogador, supervisor e treinador coral José Oliveira, o time rubro endureceu o jogo com Tarcísio Abelha, Tuca, Carlão, Darci e Canhoto; Faquim (Pinto), Joel Maneca e Marinho Macapá; Jadir (Carlinhos), Narcélio e Escurinho.

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No Grêmio/RS

No início da temporada seguinte, depois de disputar o campeonato brasileiro da 1ª divisão com o Ferrão, Jorge Veras foi negociado com o Criciúma/SC e em 1985 já era titular do Grêmio/RS, onde sempre se destacou com gols importantes nos clássicos contra o Internacional/RS. O ex-artilheiro jogou ainda em São Paulo e Pernambuco, voltando ao Tubarão da Barra no período 90-92 e teve o mesmo destaque. Ao todo foram 155 jogos e 65 gols marcados com a camisa coral. Sem dúvida, um ídolo eterno na história do Ferroviário, escolhido como um dos atacantes na campanha ´Time dos Sonhos` promovida há 2 anos no site oficial do clube.