Jogo de futebol no dia 25 de dezembro é uma grande raridade na vida de qualquer time brasileiro. Na data máxima da cristandade, o Ferroviário só fez até hoje 3 jogos em toda a história. Porém, o primeiro deles foi em grande estilo, enfrentando a forte equipe do Santos/SP no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza. Corria ainda o ano de 1946 e o time coral era comandando no banco de reservas por Félix Nogueira. O Ferroviário Atlético Clube vivia o auge da alcunha de “Clube das Temporadas” e chegou a fazer 2×0 na equipe paulista, gols do artilheiro Jombrega. O Santos empatou com dois tentos do goleador Aldofrizes. O Ferroviário formou naquele feriado com Zé Dias, Manoelzinho e Expedito; Benedito (Arrupiado), Decolher e Babá; Toinho II (Néo), Dudu (Chinês), Jombrega, Fernando e Pipi (Abraão). A equipe santista empatou com Osni, Expedito e Artigas; Nenê, Daountó e Ayala; Maraçai (Zeferino), Canhoto (Leonardo), Caxambu, Adolfrizes e Rui. Apesar do empate, os desportistas cearenses aplaudiram a grande atuação da equipe erreveceana, legítima representante da Rede de Viação Cearense, a nossa famosa Estrada de Ferro. O Jornal O Povo taxou a atuação coral como surpreendente. As duas equipes só voltaram a se enfrentar amistosamente em 1967. O primeiro jogo oficial entre ambos ocorreu em 1980.
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BODAS DE OURO DA CONQUISTA DO CAMPEONATO CEARENSE DE 1970

Uma das formações na reta final de 1970 – Em pé: Louro, Hamilton Ayres, Gomes, Aloísio Linhares, Eldo e Coca Cola; Agachados: Mano, Paulo Velozo, Amilton Melo, Edmar e Alísio
O ano de 1970 começou cheio de expectativas para o Ferrão. Pela primeira vez, logo em janeiro, o time coral recebia um time de outro estado para uma partida no Elzir Cabral, ainda em fase de construção. O amistoso contra o Alecrim/RN terminou em grande confusão, com brigas dentro de campo, assim que uma legião de torcedores corais invadiram o campo para agredir o árbitro Roberto Kaúla. Antes do fim do mês, o Ferroviário conquistou o título da II Copa Estado do Ceará, iniciada ainda em 1969, numa disputa de pênaltis contra o Ceará que envolveu o duelo Simplício x Gojoba nas cobranças. Além desse amistoso histórico e do primeiro troféu no ano, a direção coral não abria mão do título estadual e realizou contrações importantes para reforçar o time, como o lateral Esteves, os atacantes Zé Luís e Paulo Velozo, além da chegada do craque Amilton Melo, seguramente o maior jogador do futebol cearense da história, que se consagrou a partir daquele momento e durante toda a década de 1970.
O campeonato cearense começou para o time coral no dia 8 de março e terminou num 7 de outubro como hoje. Foram sete meses de disputas. O Guarany de Sobral talvez tenha montado o seu melhor time em todos os tempos e venceu o 1º turno. No returno, o Ferrão bateu o Fortaleza por 1×0, golaço de peixinho de Paulo Velozo, e ficou com o título. O Ceará levou o 3º turno, ganhando por 3×1 do próprio Ferroviário, e os três vencedores foram realizar o chamado “Super Turno” em três jogos no PV. Na primeira partida do triangular simples, o Tubarão da Barra envolveu o Ceará por completo, com grande atuação do volante Edmar, mas o placar ficou no 0x0. Três dias depois, o próprio Ceará empatou com o Guarany, também em 0x0, o que facilitou a vida dos adversários, já que a decisão do título ficou justamente para o jogo do Ferroviário contra o excelente time sobralense. Com uma foto dos principais jogadores de cada time, o Jornal O Povo amanhecia nas bancas com os dizeres: “Pode surgir hoje o Super-Campeão” e “O grande duelo da peleja decisiva”.
Diante de 13.028 pagantes, os dois times fizeram um jogo polêmico e difícil, em que o primeiro tempo terminou 2×1 para o time coral, gols de Amilton Melo, aproveitando uma rebatida do goleiro Ademir, e Alísio, numa virada com a perna esquerda. Edmilson diminuiu o placar com um gol para o Guarany antes do fim da etapa inicial. No intervalo, a primeira confusão: o reserva Jaldemir foi expulso do banco sobralense ao tentar subornar, com 1000 Cruzeiros, o árbitro Lourálber Monteiro, para que ele marcasse um pênalti para o Guarany. Na etapa final, o juiz ainda expulsou o atacante Wilson do Ferroviário, além de Teco Teco e Valdir pelo lado do adversário. O terceiro gol coral, marcado por Alísio novamente, já saiu no apagar das luzes e causou a invasão dos jogadores reservas na comemoração e, posteriormente, a invasão da torcida coral para comemorar junto com os atletas, num autêntico carnaval em pleno mês de outubro, a partir das 22h30 daquela quarta-feira.
Treinado por Alexandre Nepomuceno, o Ferroviário jogou a finalíssima e foi campeão com Aloísio Linhares, Esteves, Hamilton Ayres, Gomes e Louro (Eldo); Edmar, Simplício e Coca Cola; Amilton Melo (Wilson), Paulo Velozo e Alísio. O Guarany de Sobral, treinado pelo experiente Ivonísio Mosca de Carvalho, perdeu com Ademir, Wellington, Ivan Limeira, Valdir e Barbosa; Teco Teco e Marivaldo; Dedeu (Gilvan)(Zezinho), Carrete, Edmilson e Paraíba. Além do técnico, o Guarany reunia três jogadores campeões invictos pelo próprio Ferroviário apenas dois anos antes: Wellington, Barbosa e Paraíba. O Ferrão, chamado na ocasião pela crônica esportiva e desportistas em geral como “Timão”, teve a defesa menos vazada e o ataque mais positivo do campeonato, consolidando o pernambucano Paulo Velozo como o artilheiro da equipe com 12 gols, seguido de Amilton Melo com 10 tentos. O artilheiro maior do certame foi justamente o ex-coral Paraíba, do Guarany, com 15 gols assinalados. Nas bodas de ouro daquela brilhante conquista, a nossa homenagem aos heróis de 1970!