A LENDA CRIADA E A VERDADE SOBRE ´PERU, REDONDO E CACETÃO´

Disco de 1975 trazia a piada sobre o pretenso trio

A dúvida que mais chega ao Almanaque do Ferrão é sobre a real existência do trio de jogadores corais ´Peru, Redondo e Cacetão` há muitos anos atrás. Chico Anysio, o mestre brasileiro do humor, nascido no Ceará, desde que mudou-se para o sudeste do país em busca da fama e do sucesso artístico, sempre falava em seus shows e gravações lançadas sobre esse pretenso trio do Ferroviário. Em 2008, no extinto programa ´Pontapé Inicial´ da ESPN Brasil, ele declarou: “Quando eu era adolescente, essa foi uma linha real de ataque, e muito famosa, do Ferroviário, que é o meu time no Ceará“. A partir dali, quase no fim de sua vida, o Brasil inteiro, que há décadas sabia da fama de ´Peru, Redondo e Cacetão`, tomou conhecimento que Chico Anysio torcia Ferroviário, algo inédito em termos de revelação pública até então. Mas, e ai? Existiu mesmo esse trio? Antes da resposta, escute abaixo a famosa piada contada pelo rei do humor nos anos 70.

A resposta é não. As mais de duas décadas de pesquisas que resultaram na publicação do Almanaque do Ferrão revelaram que “Peru, Redondo e Cacetão” nunca foram nomes que vestiram a camisa coral em toda a sua história. O próprio fundador do clube, Valdemar Caracas, revelou certa vez às pesquisas o seguinte: “Fazia parte da verve pitoresca no nosso conterrâneo Chico Anysio. Fundei o clube e lembro de todos os nomes mais curiosos da nossa equipe como Galo Duro, Munt, Zimba, Puxa Faca, Pepê, Pirão e até o Izaquiel, que um dia eu multei porque perdeu um pênalti“, disse. Apesar de nunca terem jogado no Ferroviário, esses nomes existiram como jogadores de outras equipes. Cacetão, por exemplo, foi um grande jogador no Paysandu/PA. De toda forma, o Ferrão agradece a simbologia que até hoje é contada nos stand-ups de comédia pelos seguidores de Chico Anysio. Este, gênio e eterno por natureza, viverá para sempre na memória nacional. Em 2012, pouco depois de sua morte, ganhou até música composta por Virgílio César, um autêntico torcedor do Ferrão.  Escutem a música em sua homenagem e viva “Peru, Redondo e Cacetão” mesmo sem nunca terem existido.

JOGADOR CAMARONÊS É O 12º ESTRANGEIRO NO FERROVIÁRIO

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Arnold: nascido na República dos Camarões, chegou a marcar um gol e também já foi expulso

O camaronês Arnold, lateral esquerdo, faz parte atualmente do elenco do Ferroviário e é o 12º estrangeiro a passar pela história coral entre atletas, treinadores e até na presidência do clube. Arnold, ex-jogador da base do Cruzeiro/MG, estava no Ceará e foi emprestado para as disputas da segunda divisão cearense. Na semana passada, foi autor de um dos gols do Tubarão da Barra na goleada de 4×2 em cima do América, no domingo, e acabou expulso contra o Barbalha, na quarta-feira seguinte. Confira abaixo uma breve retrospectiva do Almanaque do Ferrão com todas as personalidades do futebol que nasceram em outros países e tiveram o time coral em suas biografias.

Aurelio Munt

Paraguaio Munt

Foi em 1941 que o Ferroviário teve o seu primeiro estrangeiro. Seu nome era Acosta, meio campista uruguaio, que atuava no futebol cearense na extinta equipe do Penarol. Foram apenas 6 jogos nos campos de terra da época, mas também teve participação como treinador em 10 partidas. No ano seguinte foi a vez do paraguaio Aurélio Munt, ex-meio campo do Bahia/BA, Bangu/RJ e América/RJ, dono de uma categoria refinada, foi um verdadeiro craque que vestiu a camisa coral em 18 jogos e marcou 2 gols. Experiente no futebol sul-americano tendo defendido o Boca Juniores e o Estudiantes, duas grandes forças do futebol argentino, Munt foi utilizado também como treinador do Ferroviário em 19 partidas, sendo 10 vitórias, 2 empates e 7 derrotas. Nesse mesmo período entre 1941 e 1943, o próprio presidente do Ferrão era um estrangeiro, o empresário espanhol Jaime Quintaz Perez.

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Em 1958 foi a vez do meia-esquerda argentino Juan Francisco Cely (foto ao lado), oriundo do futebol pernambucano, que disputou 8 partidas e marcou 2 gols, um deles num clássico contra o Fortaleza. Cely, conhecido no futebol como cartita blanca,  chegou precedido de grande cartaz, mostrando muita categoria logo em sua estreia contra o Ceará. Depois de sua passagem pelo time coral, Cely cruzou a vida novamente do Ferroviário em duas oportunidades, em 1979 e 1980, dessa vez como adversário já que era o técnico do Itabaiana/SE em confrontos pelo campeonato nacional. Sua contribuição ao futebol sergipano foi tão importante, que foi condecorado com o título de cidadão sergipano.

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Ramirez: ex-seleção uruguaia

O ano de 1980 marcou a chegada do mais famoso dos estrangeiros no clube, o lateral direito Ramirez, ex-jogador do Flamengo/RJ e da seleção uruguaia, que defendeu o Ferrão com destaque em 18 partidas e marcou 1 gol muito importante na história coral, o do titulo de campeão do 3º turno do campeonato cearense daquele ano numa brilhante vitória em cima do Fortaleza no Castelão. Também com a camisa coral, Ramirez disputou o campeonato brasileiro da primeira divisão em confrontos memoráveis de grande visibibilidade para o clube contra Atlético/MG, Operário/MS, Sport/PE e Náutico/PE.

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Em 1981, foi a vez do conhecido treinador uruguaio Juan Alvarez (foto à direita) chegar no Ferroviário e comandar o time coral em 19 partidas, depois de uma vitoriosa passagem pelo futebol paraense e extrema identificação com o Paysandu/PA, que valeu o pedido da família para que suas cinzas fossem depositadas no estádio da Curuzu em Belém. A partir daí um longo hiato se sucedeu até a chegada do técnico Pablo Enrique, argentino que não teve muito sucesso nas 12 partidas que esteve à frente do comando técnico coral em 1998. Com ele veio também o seu conterrâneo Omar Rios, zagueiro que havia passado pela base do Velez Sarfield e que atuou apenas em uma partida amistosa pelo Ferroviário, na derrota de 2×1 para o ABC/RN em Natal.

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Yámil Gonzalez com a camisa listrada do Libertad

Em 2008, fruto de uma estranha parceria com o futebol de Senegal, o atacante Mamadu chegou com um grupo de senegaleses na Barra e foi o único a ser aproveitado oficialmente com a camisa do Ferrão em 2 amistosos, marcando 1 gol numa partida que o time coral deu vexame e perdeu por 3×2 para o Aliança, do município de Pacatuba, que se preparava para a disputa da terceira divisão cearense. Em 2010 foi a vez o lateral esquerdo William, nascido em São Tomé e Príncipe, na África, que atuou em apenas uma partida amistosa e depois perambulou por times no sul do país. Na fatídica temporada de 2014, um paraguaio que foi volante do Libertad, de nome Yámil Gonzalez, envolto a muitas contusões só conseguiu atuar em 3 jogos e, meses depois, assinou contrato com o Santa Cruz/PE, onde também pouco jogou. Por fim, o camaronês Arnold, que assumiu a titularidade do Ferroviário recentemente já com o campeonato da segunda divisão em andamento, já citado e que fecha a curta lista de estrangeiros no Tubarão da Barra.