MOMENTO DE CRISE QUE ORIGINOU A CONQUISTA DE UM TÍTULO ESTADUAL

Jornal O Povo destacava saída de Célio Pamplona da presidência do Ferroviário em 1979

O Jornal O Povo recordou na semana passada uma matéria de 1979 destacando uma crise interna no Ferroviário que culminou com a saída do presidente Célio Pamplona. O clube vinha de uma boa campanha na temporada anterior, quando quase chegou a vencer um turno, perdendo-o apenas numa memorável disputa de pênaltis com o Fortaleza. Ressalta-se ainda que 1978 é até hoje a temporada que registra a maior média de público nos 85 anos de história do Ferrão. A média foi de 3.974 pagantes por jogo. Por motivos diversos, o presidente Célio Pamplona não permaneceu para 1979 e José Rego Filho assumiu a presidência numa diretoria formada por Ruy do Ceará, Chateaubriand Arrais, entre outros. O resto da história todo mundo sabe. Em setembro daquele ano, o Ferroviário sagrou-se campeão estadual depois de nove anos.

SEGUNDA DIVISÃO VAI SER RESOLVIDA NAS BARRAS DA JUSTIÇA

Os resultados do Ferroviário foram dentro de campo, mas a justiça deve chegar só nos tribunais

Tinha tudo pra ser uma volta à primeira divisão em grande estilo. Foram 43 pontos conquistados dentro de campo, ataque mais positivo, melhor média de público, artilheiro da competição, melhor saldo de gols e uma série de pontos positivos. Porém, em meio a uma sequência suspeita de WO´s verificados na reta final da segunda divisão, o Alto Santo saiu da quarta colocação e terminou a fase classificatória em segundo lugar, com um ponto a mais que o time coral. O Ferrão, com sua grande campanha, ficou em terceiro. O Horizonte, primeiro colocado, terminou com 3 pontos a mais que o Tubarão da Barra, exatamente a diferença de pontos conquistada também em razão de uma partida que terminou em WO, ainda no início da competição. Em meio a tantos jogos decididos fora de campo, o Ferroviário busca na justiça o seu retorno à elite cearense. Além disso, o Alto Santo colocou um jogador irregular em seu último jogo da competição, mais uma briga que vai parar nas barras judiciais. As chances corais são excelentes, porém é preciso ficar ligado nos bastidores tradicionalmente imundos do futebol cearense.

Valdeci: destaque do campeonato

Foi um campeonato duro para o Ferroviário, que se acostumou a viver em grave crise financeira como a imensa maioria dos times brasileiros. Nomes como o experiente zagueiro Erandir, o jovem defensor Túlio, o bom volante Jonathas, os meias Diego Silva e Da Silva, além dos atacantes Roney e Valdeci, fizeram uma ótima competição. Sem dúvida, o campeonato deu principalmente ao jovem Valdeci a condição de pensar em melhoras na sua carreira. A toda hora surgem notícias do interesse de outros clubes no jogador, que em julho de 2013 fez sua primeira partida pelo time profissional lançado pelo então treinador Julinho Camargo, num amistoso contra o Sindicato dos Atletas, no Elzir Cabral. O futuro do clube é incerto como o de Valdeci. Pela primeira vez, desde 2010, quando foi criada a Taça Fares Lopes como competição para o segundo semestre, o Ferroviário não participará alegando dificuldades financeiras. O fato do clube não ter pelo menos uma equipe Sub-20 para a disputa chega a ser preocupante. O foco estará nas barras da justiça e nas eleições que podem ser antecipadas. E o pensamento a todo momento na primeira divisão em 2017.

GOLS DO ARTILHEIRO PAULO CÉSAR PELO CAMPEONATO CEARENSE DE 78

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Paulo César com a camisa de 1978

Muitos torcedores enviam mensagens para o Almanaque do Ferrão pedindo informações sobre um dos maiores artilheiros da história coral. Estamos falando de Paulo César, adquirido junto ao Moto Clube/MA em junho de 1978. Foram 137 partidas e 88 gols marcados com o uniforme do Ferroviário, o que o coloca como o 4º maior goleador do clube, atrás apenas de Macaco, Fernando e Zé de Melo. Sua passagem pela Barra durou até 1981 e o titulo estadual, conquistado dois anos anos, o elevou a condição de ídolo diante de sua marca de artilheiro do campeonato com 29 gols assinalados. Paulo César – o papagaio – de há muito merecia uma homenagem em nosso blog. Foi por isso que reviramos o baú e buscamos imagens do grande goleador com a camisa coral. A foto acima foi tirada em 1978, logo quando chegou ao clube. Mais que isso, resgatamos abaixo um vídeo daquele ano com dois gols de Paulo César, o que é, sem dúvida alguma, uma preciosa raridade. Serve para a velha guarda matar as saudades e apresentá-lo aos mais jovens, que certamente dele muito ouviram falar.

O jogo foi contra o América, no PV, diante de um bom público de 3.993 pagantes. Já dissemos aqui que 1978 é até hoje o ano da maior média de público na história do Ferrão, fruto da montagem de um grande time, que acabou não sendo campeão. Assista os dois gols de Paulo César e outro tento do meia Jorge Bonga, na vitória por 3×1 em cima do ´mequinha`. Foi a partida de número 1.629 da caminhada coral, no dia 17/9/78. Isaac descontou para o time da Dom Manuel, avenida na qual ficava a bela sede rubra que já não existe mais. Treinado pelo competente Lucídio Pontes, o Tubarão da Barra jogou com Gilberto, Paulo Maurício, Lúcio Sabiá (Júlio), Arimatéia e Ricardo Fogueira; Jodecir, Jorge Bonga e Jacinto; Marcos, Paulo César (Chico Alves) e Babá. Já o América, do técnico Alísio Matos, atuou com Idalécio, Haroldo (Vicente), Marcelo, Eldo e Claudemir; Chiquinho, Zezinho e Dedé; Manuelzinho, Brígido e Isaac (Messias). O árbitro do jogo foi o finado Cid Júnior, assassinado em 2008 quando era delegado da Polícia Civil. Curta a raridade em vídeo e se delicie com uma pequena amostra dos belos gols do exímio artilheiro Paulo César, agora devidamente eternizados no Almanaque do Ferrão.

O QUE SE PODE EXTRAIR DA MÉDIA DE PÚBLICO HISTÓRICA DO CLUBE

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Nada mais amador que a distribuição gratuita de ´achismos` no futebol. Por isso se explica tantos discursos inconsistentes no mundo da bola, principalmente nos aspectos ligados à gestão de receitas oriundas de bilheteria, hoje em dia a terceira ou quarta fonte de arrecadação das equipes minimamente organizadas. O Ferroviário, e o futebol cearense como um todo, parecem bem longe dessa realidade, razão pela qual ainda se escutam frases no seio coral do tipo “vamos lotar o PV“, “rumo aos 3 mil pagantes” e, a pior de todas, a velha cantiga de grilo: “a torcida do Ferroviário não ajuda“. Puro achismo, como gostava de frisar o saudoso Estelita Aguirre, ex-diretor de comunicação do Ferrão, em seus comentários otimistas, porém sempre eivados de uma boa dose de acidez realista.

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Estádio Presidente Vargas na época do BI coral

Historicamente, os times de origem proletária no Brasil nunca foram detentores de torcidas de massa e os sociólogos estão ai para explicar melhor. Do ponto de vista prático, a versão impressa do Almanaque do Ferrão traz um estudo inédito, iniciado ainda nos anos 90, que definiu métricas de análise do poder de captação de torcedores corais em jogos do Ferroviário desde 1967, justamente o primeiro ano que o número de torcedores pagantes passou a ser oficialmente divulgado pela mídias e em documentos oficiais no futebol alencarino. A análise foi metodologicamente definida e evitou propositadamente a inclusão de partidas contra Ceará e Fortaleza, pois estes clubes levam seus próprios torcedores quando o adversário é o Ferroviário. Na abordagem trabalhada, o Tubarão é o único e principal chamariz dos jogos, o motivo pela qual a imensa maioria dos torcedores presentes acorre ao estádio. Esta sim deve ser a referência de público para o clube, o que for ´plus`, como no caso dos embates contra alvinegros e tricolores, é lucro.

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Torcida coral prestigiando a Série C de 2006

Uma rápida olhada nos dados e se comprova que boa média de público só existe associada ao time fazendo boa campanha dentro de campo. Futebol é entretenimento e ninguém paga ingresso quando há perspectiva de dissabores, o que justifica as péssimas médias depois do inédito bicampeonato 94/95, fruto de questões políticas mal resolvidas que mudaram o rumo das coisas desde então e que chegou ao cúmulo de ocasionar uma média de 320 pagantes no ano 2000, a pior da história. Numericamente, quase nunca se chegou nem perto de algo semelhante a 1978, a melhor média da história com 3794 pagantes, quando o clube amargava um jejum de 8 anos sem títulos, mas cuja diretoria agitou o futebol cearense com grandes contratações numa tentativa de soerguimento, que veio com o título cearense de 79 e um período alvissareiro de público até 1981. Algo não muito diferente do período 1988-1989, 1994 e 2006, ou seja, de tempos em tempos, todos períodos breves associados a boas campanhas, independente de títulos.

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Campeonato Cearense no Elzir Cabral em 2009

Desconfie quando alguém disser que “em 1968 o Ferroviário lotava o PV” ou que “o Ferroviário não tem torcida“. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os ´achismos` do futebol tendem a criar lendas nunca comprovadas e que só geram o errôneo entendimento das coisas. Só o que é científico pode desbancar o empírico. É evidente que Fortaleza não é mais a mesma cidade de antes, cresceu e virou metrópole, a torcida do Ferroviário não evoluiu numericamente na mesma proporção que a dos adversários e a própria cidade, o que faz com que proporcionalmente estejamos menores, porém não é o fim do mundo diante do parâmetro apresentado pelos números absolutos, e ressalte-se ainda que há clubes muito longe do potencial da torcida coral que disputam inclusive campeonato nacional. São estes os maiores exemplos de que dá pra fazer bonito quando se há na gestão uma diretriz única, permanente e inquebrável. O resto é ´achismo` e os números estão ai para tentar dar um pouco mais de clarividência aos incautos.