VITÓRIA DE VIRADA COM GOL DECISIVO DO PELÉ DO NORDESTE

Confira o vídeo acima. É um Clássico das Cores em agosto de 1981. O Fortaleza fez 2×0 logo aos 16 minutos do primeiro tempo. O Ferrão voltou na etapa final disposto a mudar o rumo do jogo e conseguiu uma vitória histórica com gols de Meinha, Jangada e Sima, o Pelé do Nordeste. Assim era a alcunha do craque piauiense Sima, que o Ferroviário foi buscar por empréstimo junto ao River/PI no momento em que negociou em definitivo o ídolo Jacinto para o Cruzeiro/MG. Sima não chegou a brilhar na Barra do Ceará, mas foi um grande nome do futebol nordestino a vestir a gloriosa camisa coral em 38 partidas em 1981. Naquela tarde no Castelão, o habilidoso Sima resolveu a parada a favor do Tubarão da Barra, marcando um belo gol no clássico, que marcou a estreia do zagueiro gaúcho Darci Munique. Repare que na etapa inicial foram utilizadas as camisas com listras na diagonal. No segundo tempo, os jogadores vestiram a camisa tradicional da época que trazia exatamente três listras na horizontal.

Registro da emoção dos jogadores corais após Jangada marcar o gol de empate no Castelão

Depois da saída do treinador uruguaio Juan Alvarez um mês antes, o Ferrão era treinado por Moésio Gomes. Naquele domingo, ele mandou à campo a seguinte formação: Salvino, Laércio (Jorge Bonga), Darci Munique, Nilo e Jorge Henrique; Doca, Meinha e Sima; Jangada, Paulo César Cascavel e Paulinho (Babá). O Fortaleza do técnico Jálber Carvalho jogou com Sérgio Monte, Alexandre, Artur, Lineu e Clésio; Chinesinho (Pinheirense), Odilon e Jadir (Dedé); Mazolinha, Evilásio e Dudé. Os gols do tricolor foram marcados por Evilásio e Mazolinha. O jogo aconteceu no Castelão e teve um público de 10.101 pagantes. A partida foi dirigida por Luis Vieira Vila Nova.

Sima no Ferroviário

Na equipe coral, além do zagueiro estreante Darci Munique, destaque para o jovem lateral direito Laércio, que disputava apenas seu segundo Clássico das Cores na categoria profissional, bem como a presença do ponta esquerda Paulinho, ele que havia sido cedido pelo Cruzeiro na negociação que envolveu a compra do passe do craque Jacinto. Porém, os holofotes do jogo ficaram mesmo em cima do piauiense Sima, que decidiu o jogo. Simão Teles Bacelar é seu nome completo. Ele reside hoje em Teresina, onde foi dez vezes campeão estadual e onze vezes artilheiro do campeonato piauiense. A foto ao lado é um dos raros registros do jogador com a gloriosa camisa do Ferroviário de listras diagonais utilizada em 1981. No mês passado, Sima completou 72 anos de idade. Sua carreira no futebol teve início em 1966 no Piauí Esporte Clube e durou até a temporada de 1987, quando pendurou as chuteiras defendendo mais uma vez o River. Em 2014, Sima ganhou uma grande homenagem: a versão regional do Prêmio Arthur Friedenreich, dado anualmente ao artilheiro do Nordeste na temporada, recebeu o nome de Prêmio Sima exatamente em reconhecimento ao seu talento como craque e goleador.

JOGADOR CAMARONÊS É O 12º ESTRANGEIRO NO FERROVIÁRIO

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Arnold: nascido na República dos Camarões, chegou a marcar um gol e também já foi expulso

O camaronês Arnold, lateral esquerdo, faz parte atualmente do elenco do Ferroviário e é o 12º estrangeiro a passar pela história coral entre atletas, treinadores e até na presidência do clube. Arnold, ex-jogador da base do Cruzeiro/MG, estava no Ceará e foi emprestado para as disputas da segunda divisão cearense. Na semana passada, foi autor de um dos gols do Tubarão da Barra na goleada de 4×2 em cima do América, no domingo, e acabou expulso contra o Barbalha, na quarta-feira seguinte. Confira abaixo uma breve retrospectiva do Almanaque do Ferrão com todas as personalidades do futebol que nasceram em outros países e tiveram o time coral em suas biografias.

Aurelio Munt

Paraguaio Munt

Foi em 1941 que o Ferroviário teve o seu primeiro estrangeiro. Seu nome era Acosta, meio campista uruguaio, que atuava no futebol cearense na extinta equipe do Penarol. Foram apenas 6 jogos nos campos de terra da época, mas também teve participação como treinador em 10 partidas. No ano seguinte foi a vez do paraguaio Aurélio Munt, ex-meio campo do Bahia/BA, Bangu/RJ e América/RJ, dono de uma categoria refinada, foi um verdadeiro craque que vestiu a camisa coral em 18 jogos e marcou 2 gols. Experiente no futebol sul-americano tendo defendido o Boca Juniores e o Estudiantes, duas grandes forças do futebol argentino, Munt foi utilizado também como treinador do Ferroviário em 19 partidas, sendo 10 vitórias, 2 empates e 7 derrotas. Nesse mesmo período entre 1941 e 1943, o próprio presidente do Ferrão era um estrangeiro, o empresário espanhol Jaime Quintaz Perez.

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Em 1958 foi a vez do meia-esquerda argentino Juan Francisco Cely (foto ao lado), oriundo do futebol pernambucano, que disputou 8 partidas e marcou 2 gols, um deles num clássico contra o Fortaleza. Cely, conhecido no futebol como cartita blanca,  chegou precedido de grande cartaz, mostrando muita categoria logo em sua estreia contra o Ceará. Depois de sua passagem pelo time coral, Cely cruzou a vida novamente do Ferroviário em duas oportunidades, em 1979 e 1980, dessa vez como adversário já que era o técnico do Itabaiana/SE em confrontos pelo campeonato nacional. Sua contribuição ao futebol sergipano foi tão importante, que foi condecorado com o título de cidadão sergipano.

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Ramirez: ex-seleção uruguaia

O ano de 1980 marcou a chegada do mais famoso dos estrangeiros no clube, o lateral direito Ramirez, ex-jogador do Flamengo/RJ e da seleção uruguaia, que defendeu o Ferrão com destaque em 18 partidas e marcou 1 gol muito importante na história coral, o do titulo de campeão do 3º turno do campeonato cearense daquele ano numa brilhante vitória em cima do Fortaleza no Castelão. Também com a camisa coral, Ramirez disputou o campeonato brasileiro da primeira divisão em confrontos memoráveis de grande visibibilidade para o clube contra Atlético/MG, Operário/MS, Sport/PE e Náutico/PE.

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Em 1981, foi a vez do conhecido treinador uruguaio Juan Alvarez (foto à direita) chegar no Ferroviário e comandar o time coral em 19 partidas, depois de uma vitoriosa passagem pelo futebol paraense e extrema identificação com o Paysandu/PA, que valeu o pedido da família para que suas cinzas fossem depositadas no estádio da Curuzu em Belém. A partir daí um longo hiato se sucedeu até a chegada do técnico Pablo Enrique, argentino que não teve muito sucesso nas 12 partidas que esteve à frente do comando técnico coral em 1998. Com ele veio também o seu conterrâneo Omar Rios, zagueiro que havia passado pela base do Velez Sarfield e que atuou apenas em uma partida amistosa pelo Ferroviário, na derrota de 2×1 para o ABC/RN em Natal.

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Yámil Gonzalez com a camisa listrada do Libertad

Em 2008, fruto de uma estranha parceria com o futebol de Senegal, o atacante Mamadu chegou com um grupo de senegaleses na Barra e foi o único a ser aproveitado oficialmente com a camisa do Ferrão em 2 amistosos, marcando 1 gol numa partida que o time coral deu vexame e perdeu por 3×2 para o Aliança, do município de Pacatuba, que se preparava para a disputa da terceira divisão cearense. Em 2010 foi a vez o lateral esquerdo William, nascido em São Tomé e Príncipe, na África, que atuou em apenas uma partida amistosa e depois perambulou por times no sul do país. Na fatídica temporada de 2014, um paraguaio que foi volante do Libertad, de nome Yámil Gonzalez, envolto a muitas contusões só conseguiu atuar em 3 jogos e, meses depois, assinou contrato com o Santa Cruz/PE, onde também pouco jogou. Por fim, o camaronês Arnold, que assumiu a titularidade do Ferroviário recentemente já com o campeonato da segunda divisão em andamento, já citado e que fecha a curta lista de estrangeiros no Tubarão da Barra.

RECORDE O PONTA ESQUERDA MARCO ANTÔNIO NO FERROVIÁRIO

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Ferrão em 1981: Marco Antônio é o último jogador agachado da esquerda para a direita

Um dos jogadores mais famosos do futebol brasileiro que já vestiram a camisa do Ferroviário foi o ponta esquerda Marco Antônio, também conhecido como Marco Antônio Visgo nos tempos que defendeu o Corinthians/SP. Ele chegou a Barra do Ceará no ano de 1980, fez sua estreia  no mês de junho, e permaneceu exatamente um ano no clube. Ao todo foram 55 partidas e 11 gols com a gloriosa camisa coral segundo o Almanaque do Ferrão. O ex-atleta coral teve uma morte trágica, em outubro de 94, assassinado. Nunca se soube quem o matou. Sabe-se apenas que Marco Antônio se envolveu com drogas após sua aposentadoria nos gramados e, desde então, passou a viver uma vida não muito regrada abatido pelo ócio cotidiano. Chegou a ser enterrado como indigente e, posteriormente, reconhecido dignamente com a ajuda de amigos, entre eles, o ex-lateral Zé Maria, do Corinthians e da Seleção Brasileira.

47267O grande momento da carreira do ex-ponta coral foi no Corinthians/SP. Segundo o Almanaque do Timão, do jornalista Celso Unzelte, Marco Antônio disputou 160 partidas com a camisa do clube paulista entre 1970 e 1976. Jogou também no São Bento/SP, Londrina/PR e no Atlético/GO. No Ferrão, Marco Antônio esteve na grande maioria das vezes como titular no tempo que defendeu o clube. Na foto acima, num clássico contra o Ceará em maio de 81, ele aparece perfilado no time coral que tinha o uruguaio Juan Álvarez como técnico e que formou com Procópio, Jorge Henrique, Lúcio Sabiá, Paulo César Piauí, Roner e Baltazar; Jangada, Ednardo, Roberto Cearense, Meinha e ele próprio.