FERROVIÁRIO: O PATINHO FEIO DO POBRE E VELHO FUTEBOL CEARENSE

O papo hoje é sobre treta! O Canal do Nicola no YouTube disse, nacionalmente, o que muita gente em terras alencarinas já tinha certeza. Gostem ou não, o Ferroviário é tratado como “Patinho Feio” do pobre e velho futebol cearense, em seus mais de cem anos de disputas. “É mania de perseguição“, dirão os simplistas em seus argumentos, invariavelmente, simplórios. Ocorre que contra fatos não há argumentos e inúmeros acontecimentos, por vezes deixados de lado, enfileiram uma alta dosagem de artimanhas e histórias mal contadas através do tempo. No mais recente episódio, o Ferrão acabou punido e perdeu o direito de mando de campo em sua própria cidade, simplesmente porque o Castelão, estádio público onde o Ferrão manda jogos desde 1974, está reservado apenas para jogos da dupla Ceará e Fortaleza. Tudo isso em plena disputa de um campeonato brasileiro de futebol, quando todas as instituições envolvidas, inclusive o Governo, deveriam trabalhar a favor da garantia dos interesses corais, como legítimo representante do Estado na competição. Assim, o importante choque de líderes contra o Santa Cruz/PE será no Domingão, no município de Horizonte. Entre omissões, mentiras e atos sórdidos verificados longe da grande mídia, mas relatados à boca miúda nas últimas semanas, o vídeo acima do jornalista Jorge Nicola dá o tom da mais nova treta em que o Ferrão acabou metido gratuitamente.

Chicão: testemunha ocular da história

É fácil recordar inúmeros absurdos afins ocorridos no passado, até porque alguns são impossíveis de esquecer, como o fato – até pitoresco – de um time inteiro ser preso na final do campeonato cearense de 1947, depois de estar sendo vergonhosamente roubado pela arbitragem. Talvez, o cúmulo dos cúmulos. Zé Limeira, eterno torcedor-símbolo do Ferrão, morreu contando detalhes de várias finais de campeonato em que o time coral acabou prejudicado contra Ceará e Fortaleza, terminando como vice-campeão. Estelita Aguirre, outro ferrenho torcedor já falecido, foi para o céu bradando nas arquibancadas, e no rádio, que a sigla da Federação Cearense de Futebol, conhecida como FCF, na verdade, deveria significar “Federação do Ceará e do Fortaleza“. Lembram? O saudoso Chicão, supervisor coral por quase três décadas, morreu relatando histórias dos bastidores que tramaram contra o tricampeonato estadual coral em 1996. “Se o Ferroviário for Tri, o futebol cearense se acaba“, dizia ter ouvido tal pérola nos corredores da FCF, saído da boca de um dirigente do alto escalão da mentora. Histórias e depoimentos que ficam para trás, caem no esquecimento ou simplesmente viram lendas urbanas do futebol alencarino.

Luizinho e o gol anulado

É muito comum pessoas nas arquibancadas com suas histórias e tretas testemunhadas. Mais de trinta anos depois, até hoje se fala do gol mal anulado de Luizinho das Arábias contra o Fortaleza, que garantiu o adversário no triangular final do campeonato de 1985. O melhor entre os três, o Ferrão, com um verdadeiro timaço, foi o prejudicado. O presidente Caetano Bayma está vivo até hoje pra contar, com riqueza de detalhes, essa história, num dos campeonatos mais escandalosamente surrupiados em todos os tempos. Já repararam que torcedores de Ceará e Fortaleza dificilmente recordam ou relatam terem perdido uma final de campeonato cearense por causa de um erro de arbitragem? Falam pontualmente de um jogo ou outro, principalmente em partidas de campeonato brasileiro, quando são tratados como “time pequeno”, mas quase nunca falam de uma final de Estadual. É fácil ser torcedor do Ceará e do Fortaleza em âmbito local quando reina a hipocrisia. Todos os esforços convergem em favor dos dois. Alguém duvida? Quando disputam uma final entre si, a primeira providência é anunciar logo um árbitro de outra região, fato quase nunca providenciado quando o adversário da final é o Ferroviário ou outra equipe qualquer. A história está aí para provar. Referidas práticas e acontecimentos fazem parte do futebol cearense e, o pior, nos acostumamos com isso.

Panfleto da torcida coral em 2006

E o que dizer do episódio quase esquecido de 1973, quando o futebol cearense ganhou definitivamente uma segunda vaga para o campeonato brasileiro, dominado pelos interesses da ditadura militar? Quem foi o indicado pela Federação? Apesar da retrospectiva coral em campo ser superior por conta do título estadual em 1970 e das campanhas de 1971 e 1972, e não obstante o Ferroviário ter ficado com a segunda vaga provisória criada na primeira edição da disputa nacional, em 1971, depois de vencer uma seletiva local, o agraciado político com a vaga definitiva, em 1973, foi o Fortaleza, para ira dos dirigentes corais da RFFSA que só faltaram esmurrar o presidente da Federação na ocasião. O lendário Ruy do Ceará está aí para contar e os arquivos dos jornais não o deixam mentir na hora de recordar os fatos. Decisões e favorecimentos que mudam o curso da história e engradecem ou enfraquecem seus atores diretamente envolvidos. O que falar da Copa João Havelange, em 2000, que catapultou gratuitamente o Fortaleza dos vexatórios caminhos da Série C para uma nova e charmosa segunda divisão, reunindo vários times que estavam na Série B? Acesso bom é o acesso fácil. E o episódio da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2006? Mesmo como campeão da categoria Sub-20, o Ferrão foi alijado da vaga prevista em regulamento após uma série de “mal-entendidos” envolvendo a FCF, a Secretaria Estadual da Juventude e, claro, o beneficiado Fortaleza, que viajou pra capital paulista como representante do futebol cearense. Nariz de palhaço foi pouco. Mais recentemente, em 2008, o quase nunca lembrado Caso Piva, que evitaria o “rebaixamento” do Ferrão para a Série D do Brasileiro, devidamente arquivado e sepultado. Em 2016, o episódio nefasto de um campeonato cheio de WO´s, a maioria a favor da mesma equipe. Como esses fatos, existem dezenas de outros. O problema é que as pessoas se acostumaram a esquecer.

Clóvis Dias: bicampeão e deposto

Quando o Ferroviário engrossou o pescoço na metade dos anos 1990, articulando inclusive a criação da Copa do Nordeste, negociando jogadores para times importantes do país, fazendo caixa e disputando, pau a pau, os títulos estaduais com os preferidos da audiência, deixando muitas vezes o próprio Fortaleza comendo poeira em situações pra lá de vexaminosas, partiu de dentro da cúpula maior do futebol cearense, um movimento para derrubar politicamente a presidência coral, que preparava e idealizava o clube para as mudanças que a Lei Pelé, posteriormente, acabou exigindo de todos. Até hoje, o Ferroviário paga muito caro pela forma como o presidente quase tricampeão Clóvis Dias foi deposto. Foram mais de duas décadas perdidas a partir daquela sequência de episódios que vergonhosamente envolveu até registros policiais. Ninguém pode afirmar o que seria do futuro do clube se aquele trabalho tivesse tido continuidade, mas todo mundo sabe bem o que aconteceu depois daquela sequência de fatos tramada entre o alto escalão do futebol cearense e pessoas ligadas aos intestinos corais.

Presidente Vargas em missão de salvar vidas

Na prática, todo mundo diz que gosta do Ferrão. É muito fácil dizer. É o texto preferido dos políticos e dos politiqueiros. Não se trata de pessoas em particular, muito menos de instituições, sejam elas públicas ou privadas, mas quando alguém cala diante do extravio do lícito direito do clube em mandar seus jogos  no Castelão – e a omissão é um pecado que jamais merece ser esquecido -, pactua-se sordidamente com o ´mainstream` que alicerça e faz com que as coisas sejam como sempre foram, mantendo aquele velho modelo viciado, onde todos os interesses convergem para apenas dois clubes, que se retroalimentam, inclusive financeiramente, a partir de uma respeitável rivalidade, mas que estão pouco se lixando para a realidade de que a festa recebe outros convidados e estes têm também o direito de compartilhar o mesmo espaço, principalmente quando este é público e foi construído, também, com dinheiro do contribuinte coral. Com a ausência do PV, outra casa querida e histórica, reservado para a nobre missão de salvar vidas na pandemia de Covid-19, as instituições e as pessoas que fazem o futebol cearense jamais poderiam ter dado as costas para o Ferroviário e agir como, infelizmente, procederam, sobretudo diante do simples fato do clube precisar usar o  Castelão por – apenas e meros – 180 minutos mensais. É muito? Tamanha mesquinhez deveria encher de vergonha os responsáveis, inclusive no âmbito político do Estado, pois a omissão é a pior forma de covardia. Chega a ser engraçado saber que a referida treta ficará nos arquivos e na memória apenas como mais um item perdido na galeria de relatos afins que se avolumaram com o tempo. Mais um pra conta, pode registrar. E como tantos outros, jamais será esquecido.

NEM PELÉ FUROU A DEFENSIVA CORAL CAMPEÃ INVICTA DE 1968

Pelé tenta furar a defensiva coral no amistoso de entrega de faixas em 1968 no Presidente Vargas

Quando o Ferroviário foi campeão cearense invicto em 1968, a direção coral convidou o Santos de Pelé para o jogo comemorativo de entrega de faixas. A partida aconteceu no dia 4 de agosto daquele ano e terminou no 0x0. Pepe perdeu um pênalti no primeiro tempo do jogo. Pelé bem que tentou, mas não conseguiu furar a defensiva coral formada pela dupla Luiz Paes e Gomes. A famosa revista O Cruzeiro, de circulação nacional, publicou em suas páginas a foto acima, que merece o destaque de hoje na seção ´Retratos` do Almanaque do Ferrão. No ano que vem, o título invicto do Ferrão completa 50 anos e certamente a lembrança não deve passar em branco pela direção do clube. Muitos campeões de 1968 ainda estão vivos para serem homenageados, inclusive pela Federação Cearense de Futebol já que desde então, nenhuma outra equipe local conquistou o título estadual sem perder nenhuma partida na competição.

COISAS ESTRANHAS QUE MANCHAM PARA SEMPRE A SEGUNDA DIVISÃO

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Há muitos anos se fala nos bastidores do futebol cearense que a segunda divisão é um jogo de cartas marcadas. Que se escolhem os times que vão subir e a partir daí as coisas mais esquisitas começam a acontecer. Nunca duvide dessa história. Precisou o Ferroviário descer para a segunda divisão para vivenciar, na prática, as tradicionais esquisitices. Se há algo de positivo nisso, conta a favor o fato do clube, tradicional como é, atrair para o campeonato os holofotes da imprensa e da opinião pública em geral. Agora não há mais como esconder as famosas falcatruas que invariavelmente fazem essa competição terminar na justiça. Estão todos testemunhando os mais diversos tipos de aberrações que colocam o atual campeonato sob a mais alta contaminação e suspeita. Jogos decisivos decididos por WO em favor do Alto Santo, pontos igualmente concedidos por WO ao Ferroviário subtraídos sem razão plausível, dentre outras artimanhas que remontam ao século passado. É só o que se vê na Série B. O futebol cearense está de luto e com ele vem inexoravelmente o sentimento de vergonha e dor.

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Atletas corais: 40 pontos dentro de campo

A dor dos jogadores do Ferroviário, traduzidas em lágrimas que mais pareciam rios, após um empate em 2×2 com o líder Horizonte, que complicou a classificação coral para a primeira divisão, simbolizam o sentimento de frustração. Dentro de campo, a equipe coral conquistou 40 pontos em 19 jogos, frutos de 12 vitórias conseguidas à ferro e fogo. Nenhum ponto oriundo de artimanhas extracampo, todos conseguidos com lisura a partir de do ataque mais positivo com 57 gols marcados até a 19ª rodada. Disso o Ferroviário pode se orgulhar. O Alto Santo, o principal concorrente, que sofreu um revés de 5×0 para o Ferrão há cerca de um mês, chegou aos 41 pontos, sendo 6 deles conquistados nas últimas três rodadas a partir de canetadas da Federação Cearense de Futebol, oriundos de situações de WO em plena era do futebol profissional, no Século 21. Barbalha e Nova Russas foram os adversários que facilitaram a missão do Alto Santo. O primeiro, ao não pagar uma mísera taxa de arbitragem, teve sua derrota decretada por WO. Estranhíssimo o fato da equipe do Cariri não dispor de dinheiro para tal, mas conseguiu se deslocar sem problema algum em rodadas prévias e posteriores, com custos bem mais onerosos, para cumprir viagens fora de seus domínios. O segundo ficou barrado como mandante na porta do estádio com o Alto Santo, proibidos de entrarem porque não havia sido feito em tempo hábil a reserva da praça esportiva. Por que? Mais um WO gratuito para o concorrente à vaga para a Série A. Convenhamos, no futebol cearense o torcedor é o palhaço desse circo inteiro.

Torcida coral levou quase 3 mil torcedores ao PV

O circo de horrores não está apenas na atribuição de 6 pontos decisivos e gratuitos ao Alto Santo. Há relatos escritos de jogadores do Horizonte, que atrapalhou a vida coral na rodada passada com uma galhardia poucas vezes vista no futebol, do recebimento de uma gratificação estratosférica, a famosa mala branca, num valor nada comum inclusive entre os times da primeira divisão, com direito à representante do Alto Santo presente dentro do vestiário do Horizonte, no intervalo, dobrando a oferta inicial ao verificar que o clube perdia por 2×1 diante de quase 3 mil corais. Parece mesmo que fazer futebol com o apoio de prefeituras é tarefa fácil e interessante. Mais que isso, houve até ligação de um político famoso no estado do Ceará, com reduto na região onde se localiza a cidade de Alto Santo, para o alto escalão da Federação Cearense de Futebol. Sabe-se lá para que, mas não é difícil de imaginar. Como acreditar numa competição onde uma equipe fatura 6 valiosos pontos na reta final sem entrar em campo, enquanto pelo mesmo motivo o Ferroviário teve os 3 pontos de um WO, ainda nas rodadas iniciais, excluídos sem razão alguma pelo Tribunal de Justiça Desportiva?  Dois pesos e duas medidas? Só não vê quem não quer.

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Horizonte e Alto Santo programam a final

Os nobres leitores que acompanham esse blog, espalhados pelo mundo afora, dirão que nem tudo está perdido. Que ainda falta uma rodada e o Ferroviário pode contar com a sorte e reverter a situação. Basta ele vencer seu adversário, o indefectível Nova Russas, e o Alto Santo não vencer o Campo Grande. Futebol é uma caixinha de surpresas. Tudo pode acontecer, claro. Pois então o que estavam fazendo o presidente do Horizonte e o representante do Alto Santo trancados na sala da diretoria de competições da Federação Cearense de Futebol na tarde de ontem? Foram flagrados furtivamente discutindo detalhes para a finalíssima entre as duas equipes, que deverá ser realizada após a 20ª rodada, prevista para o feriado nacional, dia 26. Pouca vergonha é pouco para definir o encontro. Muitas outras coisas estranhas aconteceram durante o campeonato. Uma abertura de inquérito na esfera criminal seria um bom ponto de partida para mostrar ao público a verdadeira cara do futebol cearense. Ao que parece, o caminho da justiça é algo insofismável diante da artimanha de quem se acha acima do bem e do mal. Ao lado do Ferroviário Atlético Clube, como poucas vezes se viu em 83 anos de história, está a imprensa esportiva cearense, para evidenciar todos os fatos. A segunda divisão sofreu mais um viés de artimanhas extracampo, está completamente contaminada, e vai dar muito ainda o que falar nas barras dos tribunais pelo Brasil afora. O futebol cearense morreu mais um pouco no domingo passado. Conte isso para todos.

RICARDO TEIXEIRA EM VISITA AO ESTÁDIO DO FERROVIÁRIO EM 1989

As notícias do futebol mundial não são nada positivas na atualidade. Em meio à onda de corrupção, ilicitudes e prisões que envolvem dirigentes famosos do Brasil e da própria FIFA, várias personalidades ligadas à administração do futebol são colocadas na berlinda e nomes como o de Ricardo Teixeira é invariavelmente citado. Ele foi presidente da Confederação Brasileira de Futebol entre 16/01/1989 e 12/03/2012. O que pouca gente recorda é que, ainda no primeiro ano de sua gestão, exatamente em dezembro de 89, ele visitou o estádio do Ferroviário e participou da cerimônia de inauguração das torres de iluminação que garantiam ao clube, pela primeira vez na história, a chance de realizar jogos noturnos em sua própria casa. Era o fechamento com chave de ouro da gestão do presidente Domar Pessoa. O Almanaque do Ferrão recuperou o vídeo daquele momento emblemático na vida do clube e o disponibiliza agora para a torcida coral, mostrando o prestígio que o Ferroviário Atlético Clube possuía naquele momento junto a Federação Cearense de Futebol e CBF, o que apenas comprova que relacionamento e competência caminham de mãos dadas quando se busca o sucesso e a grandeza de momentos como os agora eternizados no resgate do vídeo acima.