O DIA EM QUE O FERROVIÁRIO CHOROU A MORTE DE DONA FILÓ

A sede e o estádio do Ferroviário ficam localizados no bairro da Barra do Ceará, mais precisamente na Rua Dona Filó, número 650. O que muita gente tem curiosidade de saber é quem foi a senhora que cedeu seu nome para aquela rua situada na zona oeste da cidade. Não foi uma mera coincidência. Dona Filó foi uma baluarte na história coral entre as décadas de 1940 e 1960, período em que a participação feminina no futebol era algo raro e praticamente proibido. Ela teve uma morte súbita em 1963, após longos anos de ajuda e incentivo às várias formações de diretoria no clube. A matéria de jornal acima, publicada logo após seu falecimento, resume um pouco da importância de Dona Filó. Entre várias ajudas que prestou ao time coral, ela era proprietária de uma pensão que hospedava jogadores que chegavam para o Ferroviário. Por exemplo, foi lá que os irmãos Manoelzinho e Raimundinho foram acolhidos quando desembarcaram do Piauí em 1946. Quando a direção do clube definiu a Barra do Ceará para a construção da definitiva sede coral, já na segunda metade dos anos 1960, o nome da saudosa Filomena Cecília foi imediatamente lembrado. Entre a manifestação da ideia e o trâmite burocrático em nível municipal passaram-se alguns anos, até que definitivamente o nome oficial do logradouro passou a ser Rua Dona Filó, uma eterna homenagem a quem muito fez pelo Ferroviário.

AMÉRICA É O QUARTO ADVERSÁRIO DE MINAS GERAIS NA VIDA CORAL

Ferroviário joga pela segunda vez na história no Estádio Independência em Belo Horizonte

Em jogo válido pela segunda fase da Copa do Brasil 2021, o Ferroviário enfrenta o América Mineiro em Belo Horizonte. O Coelho é o quarto adversário mineiro na história coral. Antes do atual confronto, o Tubarão da Barra enfrentou o Cruzeiro/MG em partidas realizadas em 1970, 1978, 1981 e 1983, o Atlético/MG nos anos de 1981 e 2018, além do Ipatinga/MG no Campeonato Brasileiro de 2006. Outro detalhe sobre o confronto com o América é que esta é a quarta vez que o Ferroviário atua na cidade de Belo Horizonte, tendo anteriormente realizado dois jogos no Mineirão e um no Estádio Independência, local do confronto desse ano contra o Coelho mineiro. Até a data de hoje, somente dois jogadores deixaram sua marca atuando em Belo Horizonte: o volante Doca e o atacante Almir, ambos no Mineirão. O jogo contra o América/MG é decisivo e quem vencer passa para a terceira fase da Copa do Brasil desse ano. Em caso de empate, teremos uma disputa de pênaltis.

ELZIR CABRAL E OS PRIMEIROS TRABALHOS NO ESTÁDIO DO FERRÃO

Elzir Cabral, à esquerda na foto, com sua diretoria a realizar os primeiros trabalhos no terreno

Essa raridade é um registro fotográfico de meados da década de 1960. Adquirido junto à família Recamonde, o terreno no bairro da Barra do Ceará onde seria erguido o futuro estádio coral recebias seus primeiros trabalhos. Capitaneados pelo visionário presidente Elzir Cabral, a diretoria do Ferroviário e os engenheiros envolvidos nos projeto trabalhavam nas atividades de terraplanagem e orientação do futuro gramado. No dia 9 de setembro de 1967, o campo coral foi utilizado pela primeira vez numa vitória do time profissional por 4×2, em cima da equipe da FUGAP. Depois, em outubro, o Calouros do Ar foi o primeiro time profissional a disputar um amistoso na Barra. Somente em 17 de janeiro de 1970, o anfitrião Ferrão recebeu uma equipe de outro Estado. Foi o Alecrim/RN, que venceu o amistoso interestadual por 2×0. Somente 19 anos depois, em 19 de março de 1989, o estádio pôde ser utilizado para uma competição oficial. Enfrentando o Guarani de Juazeiro pelo campeonato cearense, o time coral aplicou 6×0 na festa de inauguração. Em setembro do mesmo ano, o Flamengo/PI foi o primeiro adversário de fora em uma disputa oficial de campeonato brasileiro. Apesar de bela e repaginada, além de muito bem cuidada pela atual direção do clube, a velha estrutura do Estádio Elzir Cabral precisa ser repensada para um moderno conceito de Centro de Treinamentos ou, possivelmente, uma reorientação dos espaços e arquibancadas antigas para uma visão multiuso de estádio e CT.

O ESTÁDIO ELZIR CABRAL: O QUE É HOJE E O QUE ERA PRA TER SIDO

Projeto arquitetônico do Estádio Elzir Cabral apresentado pela diretoria coral no ano de 1967

Esse era o planejamento inicial do Estádio Elzir Cabral no projeto produzido em 1967, uma época onde o futuro de qualquer clube passava obrigatoriamente pela construção do próprio patrimônio. Mais de 50 anos depois, o local nunca chegou nem perto de apresentar uma estrutura próxima da que foi inicialmente idealizada. As arquibancadas de concreto, por exemplo, só tornaram a ser realidade em meados dos anos 1980, com o apoio de dinheiro público autorizado pelo Governador Gonzaga Mota, o que finalmente proporcionou a inauguração oficial do primeiro estádio particular no Ceará em março de 1989, portanto mais de 20 anos depois do grande sonho da época.

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Registro fotográfico do Estádio Elzir Cabral para produção de cartão postal no ano de 1987

Já a imagem acima data de 1987, portanto há mais de 30 anos. Nota-se uma clara diferença em relação ao projeto inicial concebido duas décadas antes. Tanto tempo depois, esta continua a ser a atual estrutura física do Ferroviário, com algumas mudanças pontuais: a pista de atletismo não existe mais e o campo oficial foi transferido de lugar para dar espaços a outros gramados menores visando escolinhas e treinos específicos. Pensar o Ferroviário para mais 30 anos é abrir mão do sonho de 1967 e adaptar o atual espaço para a lógica de um Centro de Treinamentos e de Formação de Atletas. Não é possível retroceder no tempo e imaginar o Elzir Cabral como um estádio propriamente dito, por mais que os custos de uma partida de futebol tenham sido elevados em níveis estratosféricos. O futuro começa a cada decisão do presente e a comparação entre as fotos mostram que praticamente o clube não saiu do lugar na construção de seu estádio em meio século. Que se pense em CT para o local.

INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO DE SÃO BENEDITO COM 10 MIL PESSOAS

Manchete de jornal na inauguração do estádio municipal de São Benedito na temporada de 1976

Foi há 40 anos. Exatamente no dia 31 de outubro de 1976, o Ferroviário foi até a fria cidade de São Benedito, no alto da Serra Grande, para inaugurar o estádio municipal que leva até hoje o nome de Capitão Tarcísio Araújo. Dez mil pessoas estiveram presentes na nova praça esportiva, um verdadeiro recorde para os padrões da época, em grande ação promovida pelo então prefeito Thomás Brandão, que contratou o Tubarão da Barra pela quantia de 12 mil cruzeiros. Foi o jogo 1.522 da história coral. Paulinho Machado e Almir marcaram para o Ferrão, enquanto César marcou 2 gols para o selecionado de São Benedito. O time coral, com uma formação recheada de pratas da casa, teve 2 gols anulados e só chegou ao empate no último minuto de jogo, que teve José Abdala no apito.

Paulinho Machado

Comandado pelo competente Lucídio Pontes, o Ferroviário Atlético Clube jogou com Paulinho, Jorge Henrique, Manoel, Félix e Raimundinho; Carlos (Pinto) e Cláudio Silva; Carlos Alberto, Paulinho Machado,  Almir e Babá. A Seleção de São Benedito, do técnico Leite, jogou com Miranda, Nazion, Edmilson, Fernando e Tim; Fernando II e Cadete; Chiquinho (Américo), Vilmar, César (Neném) e Francisco. Na formação coral, o goleiro Paulinho, o lateral Jorge Henrique e o ponta esquerda Babá permaneceram por mais tempo no clube e foram campeões estaduais três anos depois no Ferrão. O atacante Paulinho Machado, autor do primeiro gol em São Benedito, é filho do lendário Manoelzinho, um dos maiores nomes da história do clube. Ele vestiu a camisa coral em 32 partidas e marcou 11 gols. Desde aquele 31 de outubro, o Ferroviário atuou apenas 6 vezes no estádio municipal de São Benedito, uma delas em caráter oficial, pelo campeonato cearense de 2013, quando foi registrado um novo empate.

PRIMEIRO JOGO OFICIAL CONTRA TIME DE OUTRO ESTADO NA BARRA

Pouca gente recorda o nome do primeiro adversário coral de outro estado que enfrentou oficialmente o Ferroviário na Vila Olímpica Elzir Cabral. Os mais antigos dirão que foi o Alecrim/RN. De fato, a tradicional equipe potiguar foi a primeira de outro estado a pisar o solo da Barra do Ceará, em 1970, mas tratava-se de uma partida amistosa para inauguração do estádio coral, o que evidentemente foi um fato histórico. Porém, em caráter oficial, essa equipe foi o Flamengo/PI, em 24 de setembro de 1989, em jogo válido pela 1ª fase do campeonato brasileiro daquele ano. O Almanaque do Ferrão apresenta acima as imagens dos gols daquele jogo vencido pelo Tubarão da Barra por 2×0, tentos do ponta esquerda Paulinho e do centroavante Marquinhos, ambos cearenses.

Paulinho: belo gol na Barra

Aquele domingo à tarde contou com um público de 2.837 pagantes. Pelas imagens, percebe-se o excelente número de torcedores que foi ao estádio, porém em quantidade inferior que a abertura do Elzir Cabral para jogos oficiais, seis meses antes, contra o Guarani de Juazeiro. Nesse jogo do campeonato nacional, o de número 2.304 da história coral, o Ferrão venceu com o futebol de Osvaldo, Silmar, Arimatéia, Evilásio e Marcelo Veiga; Alves, Dias Pereira (Cacau) e Jacinto; Mardônio (Marquinhos), Luizinho e Paulinho. O Flamengo do Piauí perdeu com Ronaldo, Toinho (Duílio), Carlinhos, Bilé e Neto; Zuega, Peu e Malta; Batistinha, Etevaldo e Toby (Cláudio). Repare a presença do atacante Batistinha no ataque do Flamengo, ele que se tornaria um dos ídolos da história coral na metade da década seguinte. O jogador Marquinhos, que marcou o segundo gol, era oriundo do Tiradentes/CE e havia sido um dos artilheiros do campeonato cearense de 1988. Ele disputava a posição com o centroavante Luizinho, recém trazido do Avaí/SC, que fez apenas 6 jogos com a camisa coral. Marquinhos atuou apenas em 4 partidas. Paulinho, que marcou um belíssimo gol, ficou no clube até 1991 e fez 44 jogos pelo Ferroviário.

REINAUGURAÇÃO DO GRAMADO NA BARRA E A VISÃO DE ELZIR CABRAL

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Ex-presidente Elzir Cabral – o primeiro da direita para esquerda, e sua diretoria observam o nivelamento daquele que seria o primeiro gramado do estádio do Ferrão na Barra do Ceará

No dia em que o Ferroviário reinaugura o novo gramado do Estádio Elzir Cabral, o Almanaque do Ferrão resgata dois materiais históricos que devem simbolizar o esforço e a missão de seus atuais dirigentes. Que o sonho e as palavras do visionário Elzir Cabral, em 1966, se renovem a cada dia e sirvam de estímulo aos responsáveis pelo clube. Cuidar do patrimônio, construído a ferro e fogo por gerações passadas, já é um bom começo. Como preconizava o ex-presidente, o clube pode e deve renovar as esperanças após sérias crises – estas já presentes no passado e tão conhecidas no presente – nada impossível para uma diretoria que deve ser coesa e integrada dos melhores propósitos. Já conseguimos tantas vezes ao longo das décadas, por que não novamente? Leiam.

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Texto do ex-presidente Elzir Cabral publicado no lançamento da Revista Coral no ano de 1966

SUPER MÁRIO MANDA RECADO PARA O FERROVIÁRIO EM REDE SOCIAL

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Instagram de Mário Jardel

A notícia das homenagens na fachada do Estádio Elzir Cabral chegou até Porto Alegre. É lá que reside o deputado estadual Mário Jardel, cria das categorias de base do Ferroviário. Na última sexta-feira, dia 11, ele agradeceu em rede social a lembrança e publicou um recado para seus milhares de seguidores no Instagram, um testemunho de quem não esquece suas origens. Super Mário, como é conhecido em Portugal, é um dos ex-atletas que tiveram seus rostos grafitados na entrada do estádio coral, uma bela iniciativa da direção do Ferrão que privilegiou inicialmente nomes que deram ao clube projeção nacional e até internacional, como é o caso do mito Jardel, que além de terras lusitanas, atuou na Turquia, Inglaterra, Austrália, Bulgária e Itália.

RELEMBRE UM JOGO NOTURNO NA BARRA CONTRA TIME JÁ EXTINTO

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Foto panorâmica do estádio particular do Ferroviário Atlético Clube em dia de jogo noturno

Brevemente o Ferroviário deverá mandar novamente seus jogos oficiais no Estádio Elzir Cabral. A última vez que isso ocorreu foi em 28/8/2012, contra o Icasa, pela Taça Fares Lopes. Desde que utilizou seu estádio particular pela primeira vez para disputa de amistosos, no longínquo ano de 1967, o Ferrão somente conseguiu aprontá-lo para competições importantes mais de duas décadas depois, exatamente no campeonato cearense de 1989, o que fez com que a década de 90 fosse recheada de bons confrontos oficiais naquela praça esportiva pelo estadual, campeonato brasileiro e até copa do nordeste. Em jogos disputados num gramado equiparado na época ao do Castelão, foram vários os que sofreram com o time coral dentro de seus domínios, especialmente naquela década de ouro onde Acássio, Robério, Reginaldo, etc, levavam a galera ao delírio.

Para ilustrar um jogo do Ferroviário nos anos 90, o Almanaque do Ferrão volta até o dia 21/5/98, numa partida válida pelo campeonato cearense daquele ano contra o extinto Esporte Limoeiro. O Tubarão venceu por 2×1 de virada e 1.640 pagantes vibraram com o resultado que classificava o time coral para o mata-mata decisivo do turno contra o Icasa. Naquela noite, o técnico Argeu dos Santos lançou Jorge Luiz, Chiquinho, Aldemir, Santos e Bertoldo; Solimar, Paulo Adriano, Acássio (Dino) e Marcelo; Marquinhos Pernambuco (Cantareli) e Rômulo. Acássio, Bertoldo e Guilherme anotaram os gols. Ao final do vídeo, confira o comentário do lendário jornalista cearense Alan Neto, que trabalhava no Sistema Jangadeiro de Televisão. E que os bons fluidos do Elzir Cabral dos anos 90 possam iluminar o Ferrão em sua volta pra casa para disputa de jogos oficiais.