FOTO DO FERROVIÁRIO EM 1975 NO ESTÁDIO MUNICIPAL DE QUIXADÁ

Ferroviário Atlético Clube em agosto de 1975 – Em pé: Paulo Tavares, Vicente, Lúcio Sabiá, Pedrinho, Arimateia e Eldo; Agachados: Danilo, Oliveira, Lula, Aucélio e Jeová

Eis o Ferroviário perfilado para um amistoso contra o Quixadá em 1975. A partida foi no estádio municipal da cidade, denominado à época de Luciano Queiroz. Aliás, deve ser no mundo inteiro o estádio que mais mudou de nome ao longo das décadas. Perceba na foto a presença do bigodudo fisicultor Wilson Couto, que também foi técnico do Ferrão. Ainda, nomes como o lateral direito Paulo Tavares, ex-Ceará, o saudoso Oliveira, que posteriormente transformou-se em supervisor e também treinador coral, além de nomes importantes da base do clube como Danilo Baratinha, Aucélio e Jeová. Nota-se também a presença do potiguar Lula, artilheiro do campeonato cearense daquele ano, bem como do veterano lateral esquerdo Eldo, remanescente da equipe campeã estadual de 1970. O Quixadá venceu o amistoso por 1×0. Ferrão vivia uma gravíssima crise financeira.

EM 01 DE SETEMBRO DE 1973 COMEÇAVAM OS ANOS DE CHUMBO

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Anos de chumbo também para o Ferroviário

Engana-se quem acredita que o calendário do futebol é um problema dos dias atuais. Muitos clubes amargaram situação semelhante nos tempos da ditadura. O Ferroviário, em particular, chegou à beira do precipício em termos financeiros pela falta de jogos oficiais em boa parte dos anos 70. E foi exatamente num 1º de setembro como hoje, há 42 anos atrás, que o time coral estreou na Taça Santos Dumont, uma espécie de Taça Fares Lopes da época, que reunia todos os times cearenses sem competições oficiais promovidas pela antiga CBD, com exceção de Ceará, que havia conquistado a vaga dentro de campo como campeão do ano anterior, e o Fortaleza, este indicado pelo coronelismo estadual em consonância com o regime militar dentro da vergonhosa linha de ação eternizada pelo histórico mote: “onde a Arena vai mal, mais um no Nacional“. E foi o Maguari, no jogo de número 1.367 da vida coral, que enfrentou o Ferrão num Elzir Cabral inacabado, diante de um público diminuto que pagou para ver o gol da vitória de 1×0 marcado por Simplício. Largada com o pé direito na nova competição.

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Simplício: gol solitário na estreia

Treinado por Vicente Trajano, lendário ex-jogador coral, o Ferroviário atuou naquela tarde com Marcelino, Carlito (César), Lúcio Sabiá, Luciano Amorim e Eldo; Vicente e Simplício; Brígido (Alfredo), Oliveira, Dim e Marcos. Era basicamente um time formado por jovens da base. Do outro lado, o experiente Astrogildo Nery mandou à campo o Maguari com Ademir, Berico, Paulo Afonso, Assis e Neto; Rubens e Zé Maria Oliveira (Bosco); Chico Alves, Piçarra, Ibsen e Nilsinho. Depois vieram como adversários Quixadá, América, Calouros, Guarany de Sobral, Tiradentes, Icasa e Guarani de Juazeiro, este o campeão da competição. Talvez nem eles próprios lembrem, dada a pouca cobertura da mídia cearense na época, ocupada demais com a participação da dupla Ceará-Fortaleza no Brasileiro. Eram os anos de chumbo para o país e também para a grande maioria dos times nacionais, alijados de competições oficiais graças ao calendário excludente da CBD, nada muito diferente da situação vivida no futebol nacional nos últimos 10 anos na “nova” lógica da CBF. Como se fez no passado, já passa da hora de mudar o panorama do calendário, pois não faltam times agonizando prestes a fecharem as portas.

SOBRE PRATAS DA CASA, TORRE DE BABEL E LIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA

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Em pé: Paulo Tavares,  Nonato Ayres,  Zé Antônio,  Vicente,  César,  Lúcio Sabiá,  Pedrinho, Arimatéia e Eldo; Agachados: Danilo, Oliveira, Chicó, Vanderley, Almir, Lula, Aucélio e Jeová

O Almanaque do Ferrão resgata hoje uma foto de 1975, ano que o Ferroviário viveu grave crise financeira e teve seu nome envolto a situações vexatórias como jogadores passando necessidades, crise política alarmante, oficiais de justiça recolhendo objetos na sede do clube para saldar dívidas trabalhistas, entre outras mazelas. Foi um período complicado que findou com a renúncia coletiva da diretoria presidida pelo então deputado estadual Aquiles Peres Mota. No segundo semestre da temporada, o elenco era formado basicamente por pratas da casa. Nomes como César, Almir, Lúcio Sabiá, a revelação da temporada Aucélio e Danilo Baratinha, mesclados com a experiência de Paulo Tavares, ex-Ceará, do goleiro Pedrinho e Eldo, remanescente do título de 1970.

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Manchete do jornal O Povo sobre a grave situação do Ferroviário Atlético Clube em 1975

Profundamente enraizada na cultura coral, a crise política parecia não ter fim. Torcida revoltada pela venda do zagueiro Cândido ao Fortaleza e Conselho Deliberativo a exigir prestação financeira de contas após renúncia coletiva: o Ferroviário e sua eterna vocação para Torre de Babel. A foto rara de hoje recorda um grupo de jogadores bravos que souberam ultrapassar os momentos de dificuldade e levaram o clube adiante. A chegada de uma nova diretoria para a temporada seguinte marcou o renascimento do Ferrão. Do click acima, Lúcio Sabiá e Arimatéia estavam no título estadual três anos depois. Trilharam o caminho da paciência e entraram para os anais da história em forma de redenção. Mesma história que guarda uma página para o grupo de 1975 acima, hoje homenageado, por trilhar firmemente o caminho da sobrevivência.