O DIA EM QUE O FERROVIÁRIO CHOROU A MORTE DE DONA FILÓ

A sede e o estádio do Ferroviário ficam localizados no bairro da Barra do Ceará, mais precisamente na Rua Dona Filó, número 650. O que muita gente tem curiosidade de saber é quem foi a senhora que cedeu seu nome para aquela rua situada na zona oeste da cidade. Não foi uma mera coincidência. Dona Filó foi uma baluarte na história coral entre as décadas de 1940 e 1960, período em que a participação feminina no futebol era algo raro e praticamente proibido. Ela teve uma morte súbita em 1963, após longos anos de ajuda e incentivo às várias formações de diretoria no clube. A matéria de jornal acima, publicada logo após seu falecimento, resume um pouco da importância de Dona Filó. Entre várias ajudas que prestou ao time coral, ela era proprietária de uma pensão que hospedava jogadores que chegavam para o Ferroviário. Por exemplo, foi lá que os irmãos Manoelzinho e Raimundinho foram acolhidos quando desembarcaram do Piauí em 1946. Quando a direção do clube definiu a Barra do Ceará para a construção da definitiva sede coral, já na segunda metade dos anos 1960, o nome da saudosa Filomena Cecília foi imediatamente lembrado. Entre a manifestação da ideia e o trâmite burocrático em nível municipal passaram-se alguns anos, até que definitivamente o nome oficial do logradouro passou a ser Rua Dona Filó, uma eterna homenagem a quem muito fez pelo Ferroviário.

RECORDISTA EM NÚMERO DE PARTIDAS ESTAMPA NOVO COPO

Zagueiro Manoelzinho estampa o copo da série Legendários do jogo contra o Imperatriz/MA

O zagueiro Manoelzinho é apontado como um dos maiores nomes da história do Ferroviário Atlético Clube. Desde que chegou ao Ferrão na temporada de 1946, acompanhado de seu irmão Raimundinho, ambos oriundos do Flamengo da cidade de Parnaíba, interior do Piauí, Manoel David Machado teve uma carreira longeva e vitoriosa no Ferroviário. Na ocasião, a indicação dos irmãos Manoelzinho e Raimundinho partiu do próprio presidente do Flamengo de Parnaíba, Antônio João de Araújo, que residia em Fortaleza e comentou sobre o potencial dos dois jovens para Valdemar Caracas. As portas da pensão de Dona Filó, no centro de Fortaleza, foram abertas para os dois jovens e eles puderam iniciar no Ferrão. Manoelzinho passou 16 anos. Foram 403 jogos com a camisa coral, o que o coloca na história como o recordista em número de partidas, fato este agora eternizado na coleção ´Legendários` do setor de marketing do Tubarão da Barra a partir da produção de uma série de copos colecionáveis, comercializados durante as partidas do time coral em Fortaleza, por ocasião das disputas da Série C do campeonato brasileiro de 2019. O copo de Manoelzinho estará abrilhantando o jogo do Ferrão contra o Imperatriz/MA que, por sua vez, se enfrentam pela primeira vez na história, no Estádio Presidente Vargas.

LANÇADO DOCUMENTÁRIO SOBRE ASCENSÃO E QUEDA DO FERROVIÁRIO

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Gustavo Linhares (de azul) e a banca que atribuiu nota máxima ao documentário sobre o Ferrão

O rol de produções audiovisuais sobre o futebol cearense está definitivamente mais rico. Depois de bons vídeos destacando os rivais Ceará e Fortaleza, agora é o Ferroviário que acaba de ganhar um belo e interessante documentário. A produção partiu do jovem Gustavo Linhares, que utilizou sua obra como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará, sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo Jorge. Aprovado com nota máxima, o material intitulado “Descarrilhou… Ferroviário Atlético Clube: da Locomotiva de Glórias à 2ª Divisão do Campeonato Cearense” aborda os principais fatos da história coral desde sua fundação, focando principalmente os acontecimentos que levaram à perda de prestígio coral desde o bicampeonato 94/95 e a saída do presidente Clóvis Dias, culminando com a realização de campanhas pífias, crises políticas, seguidas lutas contra o descenso nos últimos 20 anos e o inevitável rebaixamento estadual em 2014. Em meio a uma elogiável narrativa, o documentário cobre in loco as partidas do Ferrão na segunda divisão estadual de 2015 com imagens dos vestiários, cobertura da campanha e da paixão dos torcedores que não abandonaram o time durante a competição, não obstante uma das mais vexatórias campanhas do clube em todos os tempos, quando terminou de forma vergonhosa na 6ª colocação.

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Documentário ficou pronto na semana passada

A obra de Gustavo Linhares tem o mérito de abordar e ouvir nomes importantes na caminhada do Ferroviário durante os 63 minutos do documentário. Através de imagens de arquivo, personalidades como o já falecido Valdemar CaracasIarley, Zé Limeira e Clóvis Dias, dentre outros, interagem de forma majestosa com a narrativa da história coral, dialogando ainda com depoimentos gravados junto ao eterno ídolo Pacoti, o historiador Airton de Farias, o ex-governador Lúcio Alcântara, dirigentes, ex-jogadores, torcedores e atletas do elenco de 2015, além de membros da crônica esportiva cearense, que expõem suas idéias sobre o declínio do Ferroviário nas últimas décadas, intercalando com memoráveis imagens de craques do passado e vídeos de jogos históricos do clube, entre eles o golaço do lateral direito Paulo Maurício, de falta, contra o Flamengo/RJ de Zico, em 1982, no Castelão. Apesar do tema doloroso, a abordagem sobre o rebaixamento coral teve o mérito de levantar com isenção as várias nuances técnicas e políticas que cercaram aquele episódio, além de evidenciar as agruras, dificuldades de gestão, limitações financeiras, bem como a persistente falta de estrutura identificada durante a tentativa de retorno à 1ª divisão no ano passado. A versão em DVD do documentário traz ainda um material extra que destaca histórias curiosas, a origem do termo Tubarão da Barra e uma bela lembrança e homenagem à torcedora Dona Filó, falecida em 1963, que dá nome à rua onde foi erguido o estádio do Ferroviário.

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Imagem de Clóvis Dias no documentário

A primeira exibição de “Descarrilhou… Ferroviário Atlético Clube: da Locomotiva de Glórias à 2ª Divisão do Campeonato Cearense” ocorreu na semana passada, na própria Universidade Federal do Ceará. Em março, o produtor espera organizar uma nova exibição do vídeo para os curiosos em algum dos auditórios do curso de Jornalismo na UFC. Por enquanto, não existe previsão da chegada do material no YouTube, já que Gustavo Linhares pretende inscrever sua preciosa obra em festivais audiovisuais pelo Brasil afora e estes exigem o ineditismo da película em mídias de exibição pública. Fica a sugestão do Almanaque do Ferrão.