CLÁSSICO DOS CLÁSSICOS NA COPA DO NORDESTE DEPOIS DE 24 ANOS

O Ferroviário passou a utilizar a nomenclatura “Clássico dos Clássicos” a partir da final de 2017

Ferroviário e Ceará jogam novamente pela Copa do Nordeste em 2023. À exemplo da edição de 1999, as duas equipes são adversárias na competição na atual temporada. Há 24 anos, tivemos uma vitória coral por 2×1, gols de Bira e Rutênio para o Ferrão, além de um empate em 0x0, ambos no PV. Na ocasião, já praticamente nos últimos momentos do Século XX, o clássico entre as duas equipes, que se sucede no calendário cearense desde 1937, ainda não era proclamado como ´Clássico da Paz`. Essa nomenclatura só foi difundida no início dos anos 2000, quando começamos a ter uma onda muito grande de violência nos jogos entre Ceará e Fortaleza, o principal clássico do Estado, o que forçou uma forte campanha na mídia, por parte das autoridades, para balancear e propagar a “paz nos estádios” a partir de um jogo emblemático do futebol local, envolvendo Ceará e Ferroviário, que chegou a ser chamado de “Clássico das Multidões” nas primeiras décadas do confronto. No marco inicial do termo de objetivo claramente pacífico, os atletas alvinegros e corais chegaram a entrar em campo com bandeiras brancas, embora muitas vezes a presumida paz tenha passado muito longe das arquibancadas das duas torcidas nos anos seguintes pelos mais diversos motivos, dentro e nos arredores dos estádios.

Nas primeiras décadas do Ferrão, o jogo contra o Ceará era chamado de “Clássico das Multidões”

Embora compreenda o caráter salutar e pacífico da iniciativa, o Ferroviário passou a questionar o termo ´Clássico da Paz` e instituiu desde 2017, em sua comunicação oficial, o título ´Clássico dos Clássicos` a partir de uma referenciação embasada em fatos históricos e na cronologia indelével do tempo. De forma emblemática, o próprio Ceará utilizou o novo termo em suas mídias oficiais quando as duas equipes se enfrentaram na final do Campeonato Cearense de 2017. Aquele momento, inclusive, mereceu uma postagem especial aqui no blog com inúmeros argumentos plausíveis em defesa da alcunha “Clássico dos Clássicos“, cujo texto pode ser recuperado aqui no histórico. Em síntese, o termo advoga que Ceará x Ferroviário foi, na prática, o clássico mais badalado do futebol cearense muito antes do nosso futebol conhecer outras nomenclaturas para grandes jogos, o que por sí só justifica a ideia por trás de ´Clássico dos Clássicos´. O Ferroviário Atlético Clube resolveu institucionalmente bancar essa ideia em sua comunicação oficial e acredita que o tempo se encarregará de incutí-la nas diversas mentes do futebol cearense, embora o vício e o costume da repetição de convenientes narrativas de praxe, sem questionamento da artificialidade dos fatos e da negligência do que é efetivamente histórico, seja uma constante no cotidiano brasileiro em vários setores. No futebol não seria diferente. Para o Ferrão é “Clássico dos Clássicos” e bola pra frente, porque novas ideias devem estar sempre no cardápio para serem propostas e são elas que movem a própria história adiante.

CEARÁ X FERROVIÁRIO É NA PRÁTICA O GRANDE CLÁSSICO DOS CLÁSSICOS

1939: Ceará x Ferroviário no Campo do Prado

A novidade surgiu num simples debate de rede social. Intitulado há menos de duas décadas de ´Clássico da Paz`, o confronto histórico entre Ceará x Ferroviário pode e deve mudar de nomenclatura. Por que não chamá-lo de ´Clássico dos Clássicos´? Na prática, o raciocínio é simples: o confronto entre ambos, justamente os dois finalistas do campeonato cearense de 2017, completou 80 anos há pouco tempo. Na época, no final da década de 30, eram Ceará e Ferroviário os times que levavam o maior público aos estádios cearenses, razão pela qual até o início da década de 70 o confronto entre ambos era adequadamente intitulado de ´Clássico das Multidões`. Até o final da década de 60, o famoso ´Clássico Rei`, confronto lendário entre Ceará e Fortaleza, ficava atrás em prestígio quando comparado ao ´Clássico das Multidões`, fato este somente suplantado em termos de importância a partir dos anos 70 com o crescimento vertiginoso do Fortaleza em termos de torcida e uma perigosa lentidão do Ferroviário na renovação de seu público, fruto de períodos sem títulos, aliás um dos principais traços dos times de origem ferroviária. Muitos já fecharam as portas, mas o Ferrão provou ser imortal.

1975: Ceará x Ferrão no Castelão em construção

No início da atual temporada, havia quem falasse que Ceará x Ferroviário não era mais clássico, um grande absurdo e ignorância histórica até pelo significado técnico da palavra ´clássico´, utilizado para designar aquilo que resiste ao tempo e perdura ao longo dos anos. Os dois voltam a se enfrentar numa grande final e todo processo histórico de 80 anos de confrontos volta inevitavelmente à baila. Grandes jogos são rememorados, eternos jogadores são lembrados, ricas épocas voltam às pautas dos jornais e programas esportivos. Isso é ou não uma prova cabal do que é um clássico? Só que o dito ´Clássico das Multidões` minguou a partir dos anos 70. Ceará e Fortaleza passaram a levar suas multidões, estes sim com suas torcidas de massa. A torcida coral sempre foi numerosa sem nunca ser de massa, sempre foi formada a partir de um público diferenciado, com suas características próprias e uma vocação de paixão que se passa de pai pra filho. É só olhar nas arquibancadas. Nos anos 80, enquanto Ferroviário x Fortaleza era o ´Clássico das Cores´ ou o ultrapassado `Ferro-Fort´, o clássico Ceará x Ferroviário não recebia mais nenhuma denominação elogiosa. Era apenas mais um clássico. Até que a violência chegou aos estádios e, no início dos anos 2000, os dois times resolveram entrar em campo com seus representantes segurando um a bandeira do outro para homenagear e simbolizar uma pretensa paz em comparação a outros jogos pelo Brasil, prato feito para que rapidamente surgisse artificialmente a nomenclatura ´Clássico da Paz` para ambos.

1981: Ferroviário x Ceará no Castelão lotado

A lógica para o título `Clássico dos Clássicos´ é muito óbvia: se temos 80 anos de confrontos, se um dia foram Ceará e Ferroviário os preliantes que arrebatavam multidões por quase quatro décadas muito antes do ´Clássico Rei´ ter sua importância, se o confronto até já mudou de nome se adaptando a uma nova realidade e dando origem ao artificial título de `Clássico da Paz`, algo questionável em se tratando de uma rivalidade histórica que, até os anos 90, figurava com o torcedor do Ferroviário “odiando” mais o Ceará do que o próprio Fortaleza, razão pela qual as duas torcidas protagonizaram, num passado não muito distante, confrontos e brigas até hoje lembradas, e considerando ainda que Ceará e Ferrão voltam a fazer uma final estadual depois de 19 anos, por que não aproveitar o momento de ressurreição e retomada do grande clássico para lançar uma nova denominação para ele? O título ´Clássico dos Clássicos` é mais que pertinente. Uma boa campanha publicitária com marca, slogan e ativações envolvendo os dois times é plenamente capaz de segurar a onda e emplacar a novidade, que seria de interesse estratégico até para o próprio futebol cearense como um todo. Do contrário, será apenas motivo de chacota ou acusação de devaneio. Em síntese, Ceará x Ferroviário foi, na prática, o clássico mais badalado do futebol cearense muito antes dele conhecer outros clássicos, sobreviveu ao tempo depois que o Maguari sucumbiu, continuou com grande importância depois que o Fortaleza com todos os méritos ascendeu, perdeu sua nomenclatura original que deixou de fazer sentido, ganhou outra alcunha apenas simpática de uma maneira não muito original e está ainda ai posto à prova do tempo. E já que estamos em num novo tempo, que seja chamado de ´Clássico dos Clássicos´ por motivos mais que óbvios.