VITÓRIA, TAÇA, MINISTROS, LAMBADA E TUDO MAIS NO ESTÁDIO CASTELÃO

Recentemente, o estádio Castelão completou 43 anos de inauguração, porém isso pouco foi falado na mídia cearense. Em homenagem ao principal estádio de Fortaleza, batizado de Arena Castelão após grande reforma para a Copa do Mundo no Brasil, o Almanaque do Ferrão recupera acima as imagens de uma vitória coral que lhe valeu uma taça alusiva ao aniversário de 17 anos daquele equipamento esportivo. Aconteceu no dia 11 de novembro de 1990 e o adversário foi o Ceará pelo campeonato cearense do ano seguinte, que começou adiantado ainda em 1990, em razão da falta de calendário nacional para as equipes locais. Os gols do Ferrão foram de Gilmar Furtado, Ademir Patrício e Magno. Era a época da lambada como febre nacional e o centroavante coral arriscou uns passos com o lateral direito Jaime após a marcação do terceiro gol do Tubarão da Barra.

Zélia Cardoso de Mello e Bernardo Cabral: o que essa foto tem a ver com os gols do Ferroviário?

O jogo teve a arbitragem de Dacildo Mourão, que expulsou o meio campista Lira após falta em Toninho Barrote. Apenas 5.495 pagantes prestigiaram a partida no Castelão naquela tarde de domingo. Confira a escalação ofensiva do Ferroviário sob o comando do técnico Humberto Maia: Robinson, Jaime, Valdecy, Gilmar Furtado e Soares (Evilásio); Toninho Barrote, Cantareli e Basílio; Magno, Ademir Patrício (Jacinto) e Jorge Veras. O Ceará, do treinador Walmir Louruz, perdeu com Sérgio Monte, Caetano, Aírton, Oliveira Canindé e Paulo César; Carlos Alberto Borges, Gilmar Paggoto (Gerson Sodré) e Lira; Aloísio (Dadinho), Hélio e Claudemir. Aloísio foi o autor do gol alvinegro logo no início da partida. A vitória coral foi de virada e os três gols do Ferrão saíram ainda no primeiro tempo. Ao final do vídeo, assista entrevistas ainda no gramado com o jogadores Cantareli, Jorge Veras, Magno e Gilmar Furtado, que recebeu a taça como capitão. Na entrevista de Magno após o jogo, o polêmico atacante dedicou seu gol ao casal ´Bernardo Cabral e Zélia Cardoso de Mello`, ambos ministros do então governo do presidente Collor, que viviam um caso amoroso apesar dele ser casado, fato amplamente explorado pela imprensa na ocasião. Anos depois, ela tornou-se a esposa do saudoso simpatizante coral e consagrado humorista Chico Anysio. Tempo de um futebol nada politicamente correto.

A LENDA CRIADA E A VERDADE SOBRE ´PERU, REDONDO E CACETÃO´

Disco de 1975 trazia a piada sobre o pretenso trio

A dúvida que mais chega ao Almanaque do Ferrão é sobre a real existência do trio de jogadores corais ´Peru, Redondo e Cacetão` há muitos anos atrás. Chico Anysio, o mestre brasileiro do humor, nascido no Ceará, desde que mudou-se para o sudeste do país em busca da fama e do sucesso artístico, sempre falava em seus shows e gravações lançadas sobre esse pretenso trio do Ferroviário. Em 2008, no extinto programa ´Pontapé Inicial´ da ESPN Brasil, ele declarou: “Quando eu era adolescente, essa foi uma linha real de ataque, e muito famosa, do Ferroviário, que é o meu time no Ceará“. A partir dali, quase no fim de sua vida, o Brasil inteiro, que há décadas sabia da fama de ´Peru, Redondo e Cacetão`, tomou conhecimento que Chico Anysio torcia Ferroviário, algo inédito em termos de revelação pública até então. Mas, e ai? Existiu mesmo esse trio? Antes da resposta, escute abaixo a famosa piada contada pelo rei do humor nos anos 70.

A resposta é não. As mais de duas décadas de pesquisas que resultaram na publicação do Almanaque do Ferrão revelaram que “Peru, Redondo e Cacetão” nunca foram nomes que vestiram a camisa coral em toda a sua história. O próprio fundador do clube, Valdemar Caracas, revelou certa vez às pesquisas o seguinte: “Fazia parte da verve pitoresca no nosso conterrâneo Chico Anysio. Fundei o clube e lembro de todos os nomes mais curiosos da nossa equipe como Galo Duro, Munt, Zimba, Puxa Faca, Pepê, Pirão e até o Izaquiel, que um dia eu multei porque perdeu um pênalti“, disse. Apesar de nunca terem jogado no Ferroviário, esses nomes existiram como jogadores de outras equipes. Cacetão, por exemplo, foi um grande jogador no Paysandu/PA. De toda forma, o Ferrão agradece a simbologia que até hoje é contada nos stand-ups de comédia pelos seguidores de Chico Anysio. Este, gênio e eterno por natureza, viverá para sempre na memória nacional. Em 2012, pouco depois de sua morte, ganhou até música composta por Virgílio César, um autêntico torcedor do Ferrão.  Escutem a música em sua homenagem e viva “Peru, Redondo e Cacetão” mesmo sem nunca terem existido.