POR ONDE ANDA BIBI, O AUTOR DO GOL NO JOGO DO TERREMOTO?

Bibi marca um Gol de Placa contra o Ceará e decreta a vitória coral antes do terremoto

Há exatos 40 anos, na noite de 19 de novembro de 1980, a cidade de Fortaleza foi sacudida por duas notícias que se espalharam rapidamente pela capital cearense: o Ferroviário bateu o Ceará, com um verdadeiro golaço do estiloso Bibi e, logo em seguida, um raro terremoto fez tremer a terra de José de Alencar. No dia seguinte, os noticiários jornalísticos se resumiram a esses dois fatos, seja no jornal, no rádio ou na televisão. Bibi era filho do consagrado Didi e havia sido campeão brasileiro pelo Atlético/MG, com Telê Santana, em 1971. Jogou ainda no Fortaleza antes de desembarcar na Barra do Ceará. Jogador de toque diferenciado, Bibi marcou um gol de bela feitura contra o alvinegro, o chamado “Gol de Placa”, que acabou nunca sendo fixada no Estádio Castelão. Depois do início dos anos 1980, Bibi foi embora do futebol cearense com destino a Santa Catarina e nunca mais retornou. Depois de tantos anos, será que você saberia dizer por onde anda o bom e velho Bibi?

Bibi em foto recente no Rio

Após trabalhar durante doze anos como treinador de futebol no mundo árabe, passando por países como Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes, o ex-jogador Bibi retornou para o Brasil há quase uma década e durante alguns anos fixou residência em São Pedro da Aldeia, que fica na famosa Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, onde atuava como taxista. Em 2019, Bibi voltou a morar na capital fluminense. Quando garoto, o jovem Adilson Pereira ganhou o apelido de Bibi do próprio pai, o Príncipe Didi, da Seleção Brasileira, o grande inventor da “folha seca”. Bibi teve pouca convivência com o famoso pai durante sua infância, já que seus pais se separaram. Quando Bibi jogava no Nacional/AM chegou a enfrentar Didi como técnico do Fluminense/RJ em um jogo do campeonato brasileiro. No Tubarão da Barra, o refinado meio campista disputou 57 jogos e marcou 8 gols entre 1980 e 1981, tendo como contemporâneo jogadores como o uruguaio Ramirez, o goleiro Ado, o craque Jacinto e o artilheiro Paulo César, entre outros. Recentemente, o ex-jogador Bibi concedeu entrevista para o jornalista Milton Neves na Rádio Bandeirantes de São Paulo. Abaixo, apresentamos o conteúdo dessa conversa para que os corais recordem ou possam conhecer o ex-jogador do Ferroviário Atlético Clube.

TERREMOTO ATINGIU FORTALEZA DEPOIS DE TRIUNFAL VITÓRIA

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Capa do Jornal O Povo destacando o terremoto em Fortaleza e a vitória triunfal do Ferroviário

O fato tenebroso completou 34 anos. Ferroviário e Ceará jogavam no Castelão. Era uma noite de quarta-feira qualquer. O campeonato estadual caminhava para o seu final no primeiro jogo da melhor de três. De especial, o goleiro Ado – reserva de Félix na Copa de 70 – entrava de saída pela primeira vez no arco coral. No mais, tudo levava a crer que seria um jogo normal.

O ótimo público parecia ser pequeno diante de um Castelão lindo e reformado. Guerreiros dentro de campo deram o sangue pelo Ferrão. O uruguaio Ramirez não corria tanto desde a carreira que deu no Rivelino no Maracanã, quando ainda era lembrado pela Celeste Olímpica. Paulo César era a esperança de gols e o menino Jacinto era o xodó da torcida. E o Bibi? Bem, o filho do Didi foi um capítulo à parte. Bibi só não fez chover naquela noite. Antes tivesse chovido.

O time de preto e branco pressionava. Ado pegava tudo. O lateral direito Jorge Luís, improvisado de zagueiro, deve ter feito a melhor exibição de sua carreira.  O Ferrão mostrou personalidade e assustava o adversário. Após uma troca de passes, Bibi encheu o pé e fez um gol de placa. Vitória coral: 1×0. Bibi não fez chover, mas fez tremer. A maioria dos torcedores já estava em casa quando a terra resolveu comemorar a vitória do Tubarão. O que parecia ser impossível aconteceu: terremoto em Fortaleza! Há quem diga que são coisas que só acontecem com o Ferroviário. Mera intriga da oposição. São coisas que só o Ferroviário consegue fazer! E afinal de contas, a culpa foi do Bibi, que até um dia desses militava como treinador no mundo árabe.

O terremoto em Fortaleza era o fim do mundo para muitos. Famílias corriam para o meio da rua. Vizinhos que não se falavam até rezaram juntos. Quem viveu nunca vai esquecer aquela noite de terror. Quem é Ferrão nunca vai esquecer aquela noite de vitória. Ainda hoje, tantos anos depois, há sempre os que recordam o golaço de Bibi naquela noite triunfal de terror. Coisas que só o futebol propicia. Coisas que só o Ferroviário sabe fazer e estamos conversados.

FINAL DA COPA DO BRASIL REMETE A GOL DE JACINTO PELO CRUZEIRO

Atlético e Cruzeiro fazem uma autêntica final mineira na Copa do Brasil hoje à noite. A cobertura da mídia recai nos últimos dias exatamente nesse grande jogo. Nas resenhas esportivas, o que mais se ouve é a lembrança de grandes partidas entre ambos, confrontos que estabeleceram uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Em entrevista ao canal ESPN Brasil, o ex-cruzeirense Nelinho, lateral da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1978, foi enfático: “lembro de um jogo memorável em que o Jacinto, um cearense que o Cruzeiro contratou, fez um golaço e deu a vitória pro nosso time“. Isso mesmo, Jacinto, cria do Ferrão, em ação pelo time alvianil em 1981, mais precisamente no dia 11 de outubro, segundo o Almanaque do Cruzeiro, de Henrique Ribeiro, numa vitória histórica contra o Atlético Mineiro até hoje lembrada.

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Imagem da página 294 da primeira edição do Almanaque do Cruzeiro lançado em 2007

Jacinto foi um dos jogadores mais talentosos surgidos na Barra. Ele foi lançado no time profissional pela primeira vez em 1976 pelo treinador Lucídio Pontes. Foram ao todo 283 partidas com a camisa do Ferroviário, fato este que o credencia como o décimo jogador que mais vezes vestiu o manto coral entre quase 2 mil atletas que tiveram essa honra. Depois de ser campeão cearense em 79 e fazer dois bons campeonatos nacionais, em 80 e 81, a cria coral chamou atenção do Cruzeiro e teve seu passe comprado pela equipe mineira, que além de dinheiro, cedeu o ponta esquerda Paulinho como parte da negociação. Depois de rodar em outras equipes, Jacinto voltou ao Ferrão em 88 e foi novamente campeão, fazendo seu último jogo no Tubarão da Barra no final de 90.

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Jacinto em seus dias de glória pelo Ferrão

A passagem de Jacinto pelo Cruzeiro foi marcada por esse gol até hoje lembrado em Minas Gerais, como bem recordou o ex-companheiro Nelinho, cujo reserva eventual, o lateral Carioca, titular na vitória contra o Atlético entre os vários suplentes em campo, chegou a vestir a camisa do Ferroviário dois anos depois. Na equipe mineira, Jacinto teve a sorte de trabalhar com o lendário Didi, o homem da folha seca que brilhou na seleção brasileira, pai de Bibi, ex-companheiro de Jacinto no próprio Ferroviário. São apenas algumas das várias curiosidades que fazem o futebol, razão pela qual dificilmente o ex-jogador cearense deixará de torcer por seu ex-clube mineiro nas finais da Copa do Brasil que começam a partir de hoje.