ÁUDIO RARO PARA LEMBRAR DOIS DOS DESTAQUES DO FERRÃO EM 1974

Anúncio na imprensa da chegada dos ex-alvinegros Jorge Costa e Samuel para o Ferrão em 1974

Na temporada de 1974, o Ferroviário tinha um político na presidência. O deputado estadual Aquiles Peres Mota era ligado à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido político que dava sustentação à ditadura militar no Brasil. Apesar de grave crise financeira, o time coral acertou a contratação de dois jogadores consagrados no Ceará em temporadas anteriores: o meia Samuel e o atacante Jorge Costa. Mesmo diante das muitas dificuldades econômicas e estruturais, os dois fizeram relativo sucesso no Tubarão da Barra. Resgatamos abaixo o áudio com o gol da vitória do Ferrão contra o Maguari pelo campeonato cearense daquele ano. A narração é de Gomes Farias e o repórter volante é o ex-árbitro José Tosta, que trabalhavam na Rádio Verdes Mares de Fortaleza. Treinado pelo ex-goleiro Gilvan Dias, o Ferrão venceu com Marcelino, Perivaldo, Joel Copacabana, Cândido e Grilo; Luciano Oliveira (Edilson Lopes) e Oliveira; Marcos (Lula), Jeová, Jorge Costa e Gaspar. Samuel estava contundido nesse jogo e não enfrentou o Maguari, comandado pelo técnico Zé Gerardo, e que formou com Jorge Hipólito, Reizinho, Hamilton Ayres, Alvy e Valdecir; Zezinho e Nilsinho; Chico Alves (Adão), Dedé (Simplício), Facó e Zequinha. Perceba nomes corais históricos como Hamilton Ayres, Facó e Simplício atuando pelo adversário. O jogo foi no Castelão e teve um público de 2095 pagantes. Jorge Costa fez 29 jogos e marcou 15 gols pelo Ferrão. Samuel, por sua vez, atuou em 18 jogos e marcou 7 tentos. Jorge voltou para o Ceará na temporada seguinte e depois ainda atuou no Fortaleza. Samuel foi para o ABC/RN na temporada seguinte e teve sucesso, até que um belo dia deixou uma carta e se mandou de Natal para nunca mais jogar futebol, mas isso ai é uma outra história que um dia contaremos por aqui. Abaixo, o gol de Jorge Costa, de pênalti, contra o Maguari em 1974, com a camisa do Ferrão. Certamente, uma raridade.

NÃO FALTAVA DEPUTADO ESTADUAL COM A CAMISA DO FERROVIÁRIO

Ilustres Deputados Estaduais na Assembleia Legislativa do Ceará com a camisa do Ferroviário

O retrato acima foi tirado em dezembro de 1978. Nele, estão alguns Deputados Estaduais eleitos em 15 de novembro daquele ano para a legislatura entre 1979 e 1982. Ao todo, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará recebeu 22 representantes da ARENA e 11 do MDB, os dois únicos partidos brasileiros na ocasião. Na imagem acima, alguns Deputados resolveram posar com os modelos da camisa coral naquela temporada. Com a bola na mão e com camisa de goleiro, vê-se Aquiles Peres Mota, ex-presidente do Tubarão da Barra. Ao seu lado, as Deputadas Douvina de Castro e Maria Luiza Fontenele, que sete anos depois elegeu-se Prefeita de Fortaleza. O Almanaque do Ferrão reconheceu mais alguns na imagem, a saber: Airton Maia Nogueira, Etevaldo Nogueira Lima – também ex-presidente do Ferrão, Júlio Rego e Ubiratan Aguiar, além do Deputado Paulino Rocha, comentarista da Rádio Verdes Mares, que faleceu poucos meses depois. Em tempo: na temporada de 2018, depois de 37 anos, o Ferroviário voltará a usar uma camisa com listras diagonais.

O PADRE QUE TIROU A BATINA E COLOCOU A CARTOLA

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Padre Cajuaz no ano de 1973

Quem é torcedor do Ferroviário certamente já ouviu falar do Padre Cajuaz. Foi ele quem rezou a missa de inauguração no campo da Barra do Ceará, no final dos anos 60. Participou com frequência de vários eventos litúrgicos ligados ao Tubarão da Barra e ajudou bastante sempre que solicitado. Porém, pouca gente lembra de sua passagem como diretor do Ferrão, quando literalmente tirou a batina e colocou a cartola de dirigente. Corria o ano de 1974 e o presidente coral, o ex-deputado estadual Aquiles Peres Mota, precisava de alguém para atuar no setor de futebol. Um belo dia, ao chegar na secretaria para pagar sua mensalidade de sócio, encontrou o diretor Haroldo Benevides e dele recebeu o convite para dividir as atribuições. Aos 42 anos, assumiu a função. Ajudou da sua maneira, principalmente trabalhando o psicológico dos atletas, com orientações e palavras de conforto diante dos anseios individuais e de um clima de trabalho que convivia permanentemente com atraso de salários e falta de condições adequadas. Dias difíceis, sem dúvida. Dias históricos. Anos depois, José Cajuaz abandonou de vez a batina. Dedicou-se à profissão de professor. Só uma coisa não mudou, o Ferroviário nunca deixou de ser seu time de coração.

SOBRE PRATAS DA CASA, TORRE DE BABEL E LIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA

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Em pé: Paulo Tavares,  Nonato Ayres,  Zé Antônio,  Vicente,  César,  Lúcio Sabiá,  Pedrinho, Arimatéia e Eldo; Agachados: Danilo, Oliveira, Chicó, Vanderley, Almir, Lula, Aucélio e Jeová

O Almanaque do Ferrão resgata hoje uma foto de 1975, ano que o Ferroviário viveu grave crise financeira e teve seu nome envolto a situações vexatórias como jogadores passando necessidades, crise política alarmante, oficiais de justiça recolhendo objetos na sede do clube para saldar dívidas trabalhistas, entre outras mazelas. Foi um período complicado que findou com a renúncia coletiva da diretoria presidida pelo então deputado estadual Aquiles Peres Mota. No segundo semestre da temporada, o elenco era formado basicamente por pratas da casa. Nomes como César, Almir, Lúcio Sabiá, a revelação da temporada Aucélio e Danilo Baratinha, mesclados com a experiência de Paulo Tavares, ex-Ceará, do goleiro Pedrinho e Eldo, remanescente do título de 1970.

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Manchete do jornal O Povo sobre a grave situação do Ferroviário Atlético Clube em 1975

Profundamente enraizada na cultura coral, a crise política parecia não ter fim. Torcida revoltada pela venda do zagueiro Cândido ao Fortaleza e Conselho Deliberativo a exigir prestação financeira de contas após renúncia coletiva: o Ferroviário e sua eterna vocação para Torre de Babel. A foto rara de hoje recorda um grupo de jogadores bravos que souberam ultrapassar os momentos de dificuldade e levaram o clube adiante. A chegada de uma nova diretoria para a temporada seguinte marcou o renascimento do Ferrão. Do click acima, Lúcio Sabiá e Arimatéia estavam no título estadual três anos depois. Trilharam o caminho da paciência e entraram para os anais da história em forma de redenção. Mesma história que guarda uma página para o grupo de 1975 acima, hoje homenageado, por trilhar firmemente o caminho da sobrevivência.