PELÉ FOI ADVERSÁRIO CORAL POR DUAS VEZES EM NOVE MESES

Matéria do Correio do Ceará em novembro de 1967 após a vitória por 5×0 do Santos do PV

Morreu o Rei do Futebol. Pelé faleceu ontem em São Paulo, aos 82 anos de idade. O melhor jogador do mundo enfrentou equipes cearenses em nove oportunidades e duas delas foram contra o Ferroviário. A primeira vez aconteceu no dia 7 de novembro de 1967, no PV. Na ocasião, o Santos/SP enfiou 5×0 no placar com gols de Silva (2), Zito, Coutinho e Pelé. A matéria do Correio do Ceará qualificou o gol de Pelé como algo que ficaria na memória dos torcedores por muito tempo, dada a plástica da tabelinha com Coutinho. Aquele foi o único gol do maior jogador do mundo em cima do Ferrão, que formou naquele dia com o futebol de Miltão (Pedrinho), Veto (Vadinho), Luiz Paes, Gomes e Carlindo (Barbosa); Edmar e Coca Cola; Ademir, Marcos do Boi (Peu), Facó (Paraíba) e Alísio (Piçarra). Comandado por Antonino, a equipe santista venceu com Laércio, Carlos Alberto Torres (Turcão), Joel (Osvaldo), Orlando e Geraldinho; Zito (Negreiros) e Lima; Orlandinho (Edu), Silva (Coutinho), Pelé e Abel. Coube a João Batista dos Santos arbitrar o amistoso, que lotou o Presidente Vargas. Esse jogo já mereceu postagem anterior aqui no blog, inclusive com uma fotografia da equipe que enfrentou Pelé. O que pouca gente poderia prever na ocasião é que uma segunda partida entre as duas equipes aconteceria em menos de um ano. Após a brilhante conquista do título invicto de 1968, a diretoria coral empreendeu uma grande campanha na imprensa esportiva e bancou o cachê da famosa equipe paulista para voltar a jogar em Fortaleza a fim de entregar a faixa aos campeões.

Matéria do Correio do Ceará anunciando o Santos completo para entregar as faixas aos campeões

No domingo, dia 4 de agosto de 1968, o PV novamente ficou pequeno com o público cearense pagando ingresso para ver o Santos de Pelé entregar as faixas ao Ferrão. O amistoso foi arbitrado dessa vez pelo paulista Manuel Joaquim Ramos e novamente o Tubarão da Barra tinha Ivonísio Mosca de Carvalho como treinador. Ele formou o Ferrão com o futebol de Douglas (Cavalheiro), Wellington, Luiz Paes, Gomes e Barbosa; Edmar e Coca Cola; Mano (Deim), Lucinho (Raimundinho), Ademir (João Carlos) e Sanêga (Paraíba). Já o Santos jogou com Cláudio (Gilmar), Wilson, Ramos Delgado, Joel e Turcão; Clodoaldo e Lima; Amauri (Manoel Maria), Douglas, Pelé (Vernek) e Pepe. Novamente, o consagrado Antonino era o técnico santista. Pepe perdeu um pênalti no 1º tempo, mas esse não foi o fato principal do jogo. A partida consagrou o zagueiro Luiz Paes que fez uma grande atuação no empate em 0x0 e, como já publicado aqui no blog, por muito pouco ele não ficou com a camisa de um generoso Pelé. Além desse fato, o legendário Coca Cola aplicou um “chapéu” no maior jogador do mundo, o que lhe valeu os parabéns do Rei do Futebol dentro do gramado, logo após a bela jogada. Realizadas dentro do intervalo de nove meses, essas foram as duas únicas vezes que a torcida coral teve a chance de ver Edson Arantes do Nascimento em campo contra o Ferroviário. Ontem, Edson se foi para a eternidade, porém o mito Pelé continuará vivo entre os futebolistas e nas lembranças nos estádios.

O FERROVIÁRIO QUE ENFRENTOU O REI PELÉ PELA PRIMEIRA VEZ

Confira o retrato acima. Em pé: goleiro Pedrinho, Gomes, Luiz Paes, Veto, Carlindo, Edmar e o também goleiro Miltão. Agachados estão Marcos do Boi, Ademir, Facó, Coca Cola e Alísio. O registro aconteceu no dia 5 de novembro de 1967, quando o time coral empatou em 0x0 com um time misto que reunia atletas de Ceará e Fortaleza. O objetivo era preparar a equipe que dois dias depois enfrentaria o Santos de Pelé. Era comum as equipes cearenses se reforçarem quando encaravam times importantes do futebol brasileiro. Foi por isso que Pedrinho, Carlindo e Marcos do Boi aparecem com a camisa coral nessa fotografia de 1967. O primeiro, pernambucano nascido em Olinda, foi cedido pelo Fortaleza e os outros dois pelo Ceará. O amistoso no PV contra o time da Vila Belmiro terminou 5×0. Pelé anotou um gol. O time que começou o jogo foi exatamente a onzena da foto, com o goleiro Miltão de titular. No decorrer da partida, o técnico Ivonísio Mosca de Carvalho processou algumas alterações e a equipe coral formou com o futebol de Miltão (Pedrinho), Veto (Vadinho), Luiz Paes, Gomes e Carlindo (Barbosa); Coca Cola e Edmar; Ademir, Marcos do Boi (Peu), Facó (Paraíba) e Alísio (Piçarra). No ano seguinte, os dois times se enfrentaram novamente e, dessa vez, a zaga coral conseguiu parar o Rei Pelé num jogo histórico. Dessa equipe, Ademir e Coca Cola chegaram a jogar em Portugal. O primeiro, atacante pernambucano de Recife, construiu uma longa carreira de onze temporadas em terras lusitanas e conquistou a cidadania portuguesa. Ambos já são falecidos.

O ESTÁDIO ELZIR CABRAL: O QUE É HOJE E O QUE ERA PRA TER SIDO

Projeto arquitetônico do Estádio Elzir Cabral apresentado pela diretoria coral no ano de 1967

Esse era o planejamento inicial do Estádio Elzir Cabral no projeto produzido em 1967, uma época onde o futuro de qualquer clube passava obrigatoriamente pela construção do próprio patrimônio. Mais de 50 anos depois, o local nunca chegou nem perto de apresentar uma estrutura próxima da que foi inicialmente idealizada. As arquibancadas de concreto, por exemplo, só tornaram a ser realidade em meados dos anos 1980, com o apoio de dinheiro público autorizado pelo Governador Gonzaga Mota, o que finalmente proporcionou a inauguração oficial do primeiro estádio particular no Ceará em março de 1989, portanto mais de 20 anos depois do grande sonho da época.

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Registro fotográfico do Estádio Elzir Cabral para produção de cartão postal no ano de 1987

Já a imagem acima data de 1987, portanto há mais de 30 anos. Nota-se uma clara diferença em relação ao projeto inicial concebido duas décadas antes. Tanto tempo depois, esta continua a ser a atual estrutura física do Ferroviário, com algumas mudanças pontuais: a pista de atletismo não existe mais e o campo oficial foi transferido de lugar para dar espaços a outros gramados menores visando escolinhas e treinos específicos. Pensar o Ferroviário para mais 30 anos é abrir mão do sonho de 1967 e adaptar o atual espaço para a lógica de um Centro de Treinamentos e de Formação de Atletas. Não é possível retroceder no tempo e imaginar o Elzir Cabral como um estádio propriamente dito, por mais que os custos de uma partida de futebol tenham sido elevados em níveis estratosféricos. O futuro começa a cada decisão do presente e a comparação entre as fotos mostram que praticamente o clube não saiu do lugar na construção de seu estádio em meio século. Que se pense em CT para o local.

REGISTRO HISTÓRICO DO ESTÁDIO DO FERROVIÁRIO NO ANO DE 1967

Carros podiam acessar o terreno coral para conferir a inauguração do estádio do Ferroviário

A Rural não atolou na areia da Barra do Ceará, mais precisamente no segundo semestre de 1967, período em que o Ferroviário Atlético Clube dava um grande passo em sua história ao inaugurar o seu próprio estádio de futebol. A Vila Olímpica Elzir Cabral passou a ser um sonho possível, como se observa no retrato antigo de hoje. Bandeiras corais espalhadas no topo da pequena arquibancada comprovam o capricho dos responsáveis por aquele grande momento. Lindo de se ver. E já se vão quase 50 anos no tempo.

FERRÃO NA INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO MURILÃO EM MESSEJANA

Estádio Murilão, em Messejana, um dos bairros de maior densidade demográfica em Fortaleza

Messejana é hoje um dos bairros mais populares de Fortaleza. Nem sempre foi assim, é verdade, mas em 1967, exatamente num 8 de julho como hoje, o Ferroviário aumentou o número de pessoas naquela área urbana, levando um bom número de torcedores para a inauguração do conhecido estádio do bairro, denominado de Murilão, na partida contra a equipe profissional do Messejana. Coube ao atacante João Carlos marcar o primeiro gol na nova praça esportiva, com a vitória final sendo coral pelo placar de 1×0. Repare na escalação do Ferrão do treinador Ivonísio Mosca de Carvalho: Miltão (Edilson José), Veto (Sátiro), Vadinho, Gomes (Gavillan) e Roberto Barra-Limpa (Barbosa); Coca Cola e Edmar; Ivanildo (Edilson), João Carlos (Dunga), Paraíba e Géo (Peu). O Messejana alinhou com Romualdo, Figueiredo, Caboré (Zé Preguinho), Wilkson e Ricardo; Chico José e Chiquinho (Valdomiro); Leonel (Alírio), Bava (Ribeiro), César (Dedé) e Mimi (Enílson). Raimundo Damasceno foi o árbitro, naquele que representou o jogo de número 1.025 na história coral. Destaque para a presença ilustre de José Walter Cavalcante, prefeito de Fortaleza e presidente de honra do Ferroviário Atlético Clube, na inauguração. A última vez que o Ferrão se apresentou no Murilão foi em 2013, amistoso contra o Maguary, preparatório para a Taça Fares Lopes daquele ano.

MAIOR CRAQUE CEARENSE FAZIA SUA ESTREIA NO FERRÃO HÁ 50 ANOS

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Craque Mozart defendeu o Ferroviário em 26 partidas e assinalou 15 gols entre 1966 e 1967

Aconteceu no dia 26 de março de 1966. Há 50 anos, o maior craque que o futebol cearense já produziu fazia sua estreia pelo Ferroviário Atlético Clube. Estamos falando de Mozart, contratado pelo time coral para as disputas daquela temporada. Ele fez seu primeiro jogo pelo Ferrão contra o Fortaleza, justamente seu ex-time, em confronto pela Taça Cidade de Fortaleza, um competição preparatória para o campeonato cearense. Sob o comando do técnico carioca Jair Santana, o Ferroviário foi derrotado por 3×1, em tarde gloriosa do goleiro adversário. O ídolo Coca Cola marcou o gol de honra coral. No final dos anos 50, Mozart defendia o Fluminense/RJ e chegou a ser lembrado para a seleção brasileira visando a Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Ter tido o craque cearense em sua galeria de atletas é algo que deve ser sempre reverenciado pelo Ferroviário.

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Livro de Saraiva Júnior

A importância de Mozart para o futebol alencarino é tão grande que ele virou até livro. Coube ao competente escritor cearense Saraiva Júnior narrar a trajetória do ídolo no futebol brasileiro. Apesar de curta passagem pela Barra do Ceará, Mozart escreveu rapidamente seu nome na história coral pouco tempo depois de sua estreia. Em maio de 66, o Ferrão enfrentou o Fluminense/RJ pela Taça Batalha do Tuiuti, um pentagonal que contou ainda com a presença de Ceará, Fortaleza e do Botafogo/RJ, vencendo por 3×2, com dois gols de Mozart e um golaço inesquecível de Pacoti. Foi a maior apresentação de Mozart com a camisa coral. Em março do ano seguinte, ele fez sua última partida pelo Ferroviário, num amistoso contra o Bangu/RJ, então campeão carioca, no PV. Mozart teve ainda o privilégio de ser o treinador do Ferrão em uma única oportunidade, num amistoso contra o Quixadá, na terra dos monólitos, quando Jair Santana teve que ir ao Rio de Janeiro para resolver problemas particulares. Seu irmão, o também lendário Moésio Gomes, seguiu o mesmo caminho, sendo ex-jogador e treinador do Tubarão da Barra em alguns períodos da gloriosa trajetória coral. Moésio faleceu em 20 de janeiro de 1992. Mozart morreu em 7 de setembro de 2009.

FOTO HISTÓRICA DO ESTÁDIO DO FERRÃO NO DISTANTE ANO DE 1967

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A postagem de hoje do Almanaque do Ferrão não é sobre um jogo ou atleta específico. Tampouco resgata um vídeo antigo ou recorda um timaço em nossa história. É apenas uma foto que fala por si, de um tempo que se projetou para o futuro um Ferroviário grande. Ou um grande Ferroviário, tanto faz. Em mais um tempo de recomeço em sua longa trajetória – que não se perca a contagem, nem a esperança – que sirva de inspiração.