No Campeonato Brasileiro de 1997, o Ferroviário passou do Confiança nos pênaltis em jogo memorável realizado, num domingo de manhã, no Elzir Cabral. Ontem, o fato se repetiu, dessa vez em Aracaju pela fase preliminar da Copa do Nordeste. Acima, você confere o vídeo dos penais que terminaram com o placar de 5×4. Ciel, Mattheus Silva, Matheus Lima, Fabão e Roni Lobo converteram suas cobranças para o Ferrão. O zagueiro Éder Lima desperdiçou a sua. Depois de passar por Asa de Arapiraca e Confiança/SE, o Tubarão da Barra volta a disputar a fase de grupos da Copa do Nordeste depois de 5 anos. O time coral vai enfrentar o Bahia, ABC, Campinense, Ceará, Náutico, Sergipe, CSA e Santa Cruz, além de faturar cerca de 2 milhões de Reais em cotas de TV. Considerando que na edição de 2022, o Ferroviário Atlético Clube foi eliminado logo na fase preliminar para o Floresta em novembro do ano anterior, a edição de 2023 será a sétima participação coral na principal competição que envolve equipes nordestinas. Muito antes da existência da Liga do Nordeste, o Ferroviário teve duas participações no antigo Nordestão (1968 e 1970) e quatro participações na Copa do Nordeste (1997, 1999, 2018 e 2022).
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O DIA EM QUE O FERROVIÁRIO CHOROU A MORTE DE DONA FILÓ

A sede e o estádio do Ferroviário ficam localizados no bairro da Barra do Ceará, mais precisamente na Rua Dona Filó, número 650. O que muita gente tem curiosidade de saber é quem foi a senhora que cedeu seu nome para aquela rua situada na zona oeste da cidade. Não foi uma mera coincidência. Dona Filó foi uma baluarte na história coral entre as décadas de 1940 e 1960, período em que a participação feminina no futebol era algo raro e praticamente proibido. Ela teve uma morte súbita em 1963, após longos anos de ajuda e incentivo às várias formações de diretoria no clube. A matéria de jornal acima, publicada logo após seu falecimento, resume um pouco da importância de Dona Filó. Entre várias ajudas que prestou ao time coral, ela era proprietária de uma pensão que hospedava jogadores que chegavam para o Ferroviário. Por exemplo, foi lá que os irmãos Manoelzinho e Raimundinho foram acolhidos quando desembarcaram do Piauí em 1946. Quando a direção do clube definiu a Barra do Ceará para a construção da definitiva sede coral, já na segunda metade dos anos 1960, o nome da saudosa Filomena Cecília foi imediatamente lembrado. Entre a manifestação da ideia e o trâmite burocrático em nível municipal passaram-se alguns anos, até que definitivamente o nome oficial do logradouro passou a ser Rua Dona Filó, uma eterna homenagem a quem muito fez pelo Ferroviário.
O COREANO DA BARRA QUE JOGOU DUAS COPAS DO MUNDO

O saudoso supervisor Chicão ficou todo orgulhoso quando viu o garoto na TV em pleno jogo de Copa do Mundo. O ano era 2002 e a Coréia do Sul fazia bonito na competição disputada em seu próprio território. No ataque do time vermelho, o garoto Lee Chun-soo merecia o olhar especial de Chicão. Seis anos antes, o coreano havia passado dois meses na Barra do Ceará, onde treinava com o elenco coral. Na ocasião, dois coreanos e três japoneses faziam estágio no Ferroviário, que era treinado por Mirandinha em seu primeiro trabalho como técnico. Os orientais tinham entre 15 e 17 anos de idade e pagaram 500 dólares, cada um, para utilizar as dependências corais durante o estágio. Inicialmente, referido programa de desenvolvimento seria no Palmeiras de São João da Boa Vista, porém a fama e importância do famoso Mirandinha acabou atraindo os garotos para a Barra do Ceará. No Ferrão, Lee Chun-soo era carinhosamente chamado de Tutia. Ele jogou as Copas de 2002 e 2006 pela Coréia do Sul. Na Alemanha, em 2006, de cabelo descolorido, marcou um gol contra Togo. Jogou ainda as Olímpiadas de 2000 e 2004. Lee se aposentou em 2015, defendendo o Incheon United de seu país, depois de atuar também em equipes da Holanda, Espanha e Arábia Saudita. Na Copa do Mundo de 2022, Brasil e Coréia do Sul são adversários nas oitavas de final e certamente o coração de Lee penderá para seu país, porém sem nunca esquecer os dias de aprendizado e gratidão no futebol brasileiro, mais especificamente na Barra do Ceará, no Ferroviário de Chicão e Mirandinha. Abaixo, confira o vídeo com o belo gol de Lee Chun-soo na Copa de 2006, de falta, o primeiro na vitória por 2×1 em cima da Seleção de Togo.
O CALDEIRÃO POLÍTICO DE VAIDADES E IRRESPONSABILIDADES

Há cerca de dois meses, um velho filme prometia entrar novamente em cartaz e isso foi prognosticado aqui no blog. Os conhecidos e tortuosos bastidores corais ferveram, como há tempos não se via, e o caldeirão político de vaidades e irresponsabilidades entrou em erupção como um vulcão. Essa semana, depois de quatro anos, o Ferroviário caiu para a Série D. É o primeiro rebaixamento brasileiro do clube na competição da CBF, apesar do descenso nacional sacramentado em 2008 via Estadual, conforme estabelecia o regulamento da época, que arremessou o time coral para jogar a Série D, pela primeira vez, a partir de 2009. Infelizmente, estaremos lá em 2023, novamente. De bate-pronto, é preciso diagnosticar que a gestão de futebol do clube cometeu equívocos durante as últimas temporadas que foram determinantes para a debacle coral em campo, notadamente desde que o presidente Newton Filho alegou ter sido obrigado a assumir as rédeas do setor, no início de 2021. Porém, essa questão é apenas o início da discussão.

No final do ano anterior, um “racha” entre o presidente e seu vice Francisco Neto, coincidentemente o mandatário coral no descenso nacional de 2008, garantiu pelos dois anos subsequentes um festival de incômodos, instabilidade, perda de foco, divisões internas e quase as vias de fato. À frente da gestão de futebol, ladeado pelo investidor Artur Boim, Newton Filho assumiu o controle e foi responsável direto pelo bônus e pelo ônus a partir de suas ações. Escanteado, coube a Francisco Neto espernear e procurar acolhida junto ao presidente do Conselho Deliberativo do clube. Nesse contexto, a fórmula para o rebaixamento estava pronta e envolveu os sucessivos erros nas contratações, além de conspirações e episódios de traições e puxadas de tapete no âmbito político, que levaram à renúncia do primeiro e ao empoderamento do segundo nos últimos 40 dias. Figuras reconhecidamente essenciais no soerguimento do clube desde 2017, ambos saem politicamente desgastados da cisão gerada a partir de suas próprias convicções e atitudes no futebol. E assim o Ferroviário retorna novamente para o tão conhecido fundo do poço.

No meio da competição mais importante da temporada, a forçada e trágica reorganização interna contou até com pessoas inexperientes em funções diretivas, em total contradição à profissionalização exigida pelo próprio Conselho Deliberativo. Ficamos com cara de time amador! Com 7 jogos pela frente e 21 pontos a disputar, o Ferrão mergulhou ladeira abaixo e a tentativa vergonhosamente antecipada de personalização do fracasso junto a um só nome, além da covardia do ato em si, denuncia o caminho da conspiração política verificada nos complicados bastidores corais. Engana-se quem acha que um rebaixamento é obra e arte de uma ou duas pessoas. Uma tragédia no futebol é fruto de um ambiente político apodrecido, composto de pessoas que, gestão após gestão, se perpetuam dentro do clube como autênticos donos de araque, e “remam” conforme os interesses de cada ocasião. Foram sete anos de convivência diária entre a maioria na direção do clube, onde muitos já se conheciam das arquibancadas. Nos últimos tempos, alguns contingencialmente mudaram de opinião e de lado, provando que o ambiente no futebol reúne desde pessoas vaidosas às volúveis e traiçoeiras. Ao apontarem o dedo para o ex-presidente, esquecem que estiveram juntos e amigados, na maior expressão de amor, até muito pouco tempo atrás. Nunca faltam também os tradicionais neófitos da bola, convidados a darem opinião de algo que nunca vivenciaram profissionalmente, e que acabam proliferando rusgas e acusações internas gratuitamente. Dentro de campo, um elenco dividido, de qualidade técnica duvidosa, preocupado com razão com a insegurança de seus salários e premiações após a ruptura política que culminou com a saída do investidor que, por sua vez, bancava financeiramente tudo, quase sempre sozinho, há muito tempo.

O Ferroviário Atlético Clube quebrou novamente. Quebrou financeiramente e esportivamente, mas também quebrou moralmente, como várias vezes já ocorreu em sua história. A poeira vai baixar em algum momento no futuro e muitos poderão refletir sobre os acontecimentos dos últimos tempos com mais clareza. É preciso enxergar muito além de tudo aquilo que apenas parece ser: o Conselho Deliberativo que toma partido explícito por um lado da cisão não parece ser muito habilidoso, o diretor que jura comprometimento e apunhala pelas costas não parece muito confiável, o levante quase psicopata que pede a cabeça de quem injeta alguns milhões não parece muito inteligente, o trambiqueiro que insiste em fazer jogo duplo não deveria ser bem vindo e o torcedor que se acha dirigente vai parecer sempre um aventureiro. Tudo errado! Faltou paz, luz e discernimento ao ambiente coral. Sobrou vaidade e prepotência, de todos os lados. A queda em campo dos jogadores foi apenas a cereja do bolo, preparado dia após dia pelos que conduzem politicamente o clube. Agora, os diletos irresponsáveis podem se servir do bolo à vontade. O Ferroviário seguirá.
Fotos: Lenilson Santos
COMPLETAMOS 10 ANOS SEM UMA FINAL NAS CATEGORIAS DE BASE

Entre agosto e novembro de 2012, o Ferroviário disputou o campeonato cearense da categoria Sub-20 daquele ano. Ninguém poderia prever que aquela seria a última vez que uma equipe coral chegaria às finais de uma competição de base em qualquer categoria. Afeito à conquistas nas divisões inferiores em décadas passadas e também a ser revelador de talentos, os últimos dez anos mostraram a total decadência coral em termos de gestão na base, muito embora tenha havido substancial evolução da equipe profissional a partir de 2017. A foto acima é um registro da formação que entrou em campo no PV, para um jogo contra o Eusébio, em setembro de 2012. Estes foram alguns jogadores que quase conquistaram o título de campeão Sub-20, conforme matéria bem detalhada de 2015 publicada aqui no blog, com direito a eliminar o Fortaleza na semifinal e a enfrentar o Ceará no jogo decisivo, tendo ainda o gol do título mal anulado pelo árbitro da partida. Dez anos depois, o Ferrão continua sem apresentar evolução em suas categorias de base, que padecem pela falta de recursos para investimento, pela negligência de seus gestores ou por toda sorte de turbulências políticas que costumeiramente assolam o clube. Da garotada do Sub-20 de 2012, a maioria desistiu da carreira nos primeiros anos de vida profissional. O mais bem sucedido foi o meia Foguinho, que hoje atua em alto nível no futebol japonês. Do corpo diretivo, praticamente toda comissão técnica trabalha nas categorias de base do Ceará e são responsáveis diretos pelas conquistas estaduais e nacionais recentes do tradicional adversário coral. Estes talentos estiveram todos a serviço do Ferroviário e se desligaram pouco a pouco por decisões equivocadas e até levianas dos corpos diretivos de plantão. Dez anos sem uma final na base é algo que deveria merecer a mais profunda reflexão dos verdadeiros corais.
GOLEIRO DO SÃO BERNARDO NÃO ULTRAPASSA MARCELINO

No último final de semana, o experiente goleiro Alex Alves, do São Bernardo/SP, foi vazado em sua meta após uma longa minutagem sem sofrer gols na Série D do Campeonato Brasileiro. O gol do lateral André Krobel do Paraná/PR, de falta, quebrou o sonho do goleiro da equipe paulista, aos 19 minutos do primeiro tempo. Assim, Alex Alves alcançou a marca de 1.195 minutos. Apesar do esquecimento da Revista Placar e de outros sites, que insistem em replicar notícias equivocadas, o ex-goleiro coral Marcelino não foi alcançado em sua marca de 1.295 minutos, de 1973, e continua como o quarto principal recorde do futebol brasileiro. Confira abaixo a atualização das marcas com a minutagem alcançada pelo goleiro Alex Alves:
1º Lugar – Mazaropi – 1.816 minutos – Vasco da Gama/RJ – 1978
2º Lugar – Neneca – 1.636 minutos – Náutico/PE – 1974
3º Lugar – Jorge Reis – 1.604 minutos – Rio Branco/ES – 1971
4º Lugar – Marcelino – 1.295 minutos – Ferroviário/CE – 1973
5º Lugar – Zetti – 1.238 minutos – Palmeiras/SP – 1987
6° Lugar – Alex Alves – 1.195 minutos – São Bernardo/SP – 2022
7º Lugar – Jairo – 1.132 minutos – Corinthians/SP – 1978
8º Lugar – Emerson – 1.108 minutos – Paysandu/PA – 2016
9º Lugar – Altevir – 1.066 minutos – Athletico/PR – 1977
10º Lugar – Eli – 1.060 minutos – São Bernardo/SP – 1982
REVISTA PLACAR ESQUECE O RECORDE HISTÓRICO DE MARCELINO

Semana passada, a revista Placar atualizou a planilha com os maiores recordes dos goleiros com mais minutos em campo sem sofrer gols em toda a história do futebol brasileiro. De imediato, a publicação pegou o blog de surpresa com a exclusão do recorde do ex-goleiro Marcelino, que detém até hoje a maior marca da história do futebol cearense, com 1.295 minutos alcançados no Campeonato Cearense de 1973. Na ocasião, Marcelino tentava quebrar o feito do goleiro Jorge Reis, que curiosamente foi mantido no ranking atualizado da Placar. A façanha do ex-goleiro do Ferroviário foi amplamente divulgada nos periódicos da época, inclusive na própria revista Placar, no encarte intitulado “Suplemento Especial“, em sua edição de número 170, de 15/06/1973, com texto do jornalista Marcos Nunes, que trabalhava como correspondente da revista em Fortaleza. A matéria, inclusive, afirma a minutagem de forma equivocada, citando 1.395 minutos, quando na verdade foram cem minutos a menos. O feito de Marcelino completará meio século de existência em 2023.

Acima, a matéria sobre a derrota do Ferroviário no jogo contra o Maguari que eternizou a marca de 1.295 minutos de Marcelino. Caso o goleiro coral quebrasse a marca de Jorge Reis, ele receberia um carro Fusca como premiação da diretoria do Tubarão da Barra. Faltaram 309 minutos para tal. Esperamos que a revista Placar corrija seu lamentável equívoco e atualize seu ranking histórico com a inclusão do feito do ex-goleiro do Ferroviário. Por dever de justiça e exatidão histórica, a incrível façanha de Marcelino é até hoje a quarta maior marca da história do futebol brasileiro e não pode ser negligenciada por equívocos jornalísticos de qualquer espécie. Assim, as referidas marcas emblemáticas obedecem corretamente a sequência abaixo.
1º Lugar – Mazaropi – 1.816 minutos – Vasco da Gama/RJ – 1978
2º Lugar – Neneca – 1.636 minutos – Náutico/PE – 1974
3º Lugar – Jorge Reis – 1.604 minutos – Rio Branco/ES – 1971
4º Lugar – Marcelino – 1.295 minutos – Ferroviário/CE – 1973
5º Lugar – Zetti – 1.238 minutos – Palmeiras/SP – 1987
6º Lugar – Jairo – 1.132 minutos – Corinthians/SP – 1978
7º Lugar – Emerson – 1.108 minutos – Paysandu/PA – 2016
8° Lugar – Alex Alves – 1.079 minutos – São Bernardo/SP – 2022 (*)
9º Lugar – Altevir – 1.066 minutos – Athletico/PR – 1977
10º Lugar – Eli – 1.060 minutos – São Bernardo/SP – 1982
(*) Alex Alves continua jogando pelo São Bernardo/SP na Série D de 2022 e pode aumentar sua marca em busca das cinco melhores colocações. Eis um fato a ser amplamente observado. Esperamos que após a performance de Alex Alves, a revista Placar atualize novamente seu ranking e não esqueça de incluir a performance do ex-goleiro Marcelino.
A VIDA POLÍTICA EM CICLOS E A VAIDADE DOS MEDÍOCRES

Nosso time vinha de cinco temporadas em ascensão. Conquistas esportivas e patrimoniais no currículo de seus dirigentes, que driblaram uma crise que parecia sem fim, quando os pessimistas bradavam: “o Ferroviário vai se acabar”. Apesar da sensação de evolução, pairava algo de estranho nos bastidores corais. No rádio, pretensos candidatos à diretoria subornavam o espaço comercializado por figuras desprovidas de ética e destilavam ódio, disparando a artilharia na direção de um nome específico. Ressaltavam, porém, a importância do investidor – também conhecido como dinheiro – cuja presença era primordial para a sobrevivência do clube, ao mesmo tempo que cumpriam bem a missão de jogar lama na imagem do presidente, taxando-o de ditador, centralizador, arrogante, prepotente e uma série de outros adjetivos de fazer vergonha. Aí vieram reuniões e mais reuniões, sempre intermináveis. Encontros e desencontros. Por força estatutária, o presidente e sua diretoria gozavam do direito de mais um mandato. Uma divergência entre o mandatário maior e um mero dissidente, vaidoso por natureza, apimentou o processo político. Virou a luta do bem contra o mal. E o mal, fizeram crer, seria uma figura específica, o presidente vilão. Afinal, são sempre tantos os mocinhos irremediavelmente vaidosos.

Não, você não está lendo sobre 1997. E nem o presidente em questão é Clóvis Dias, muito menos o investidor chama-se Douglas Albuquerque. São 25 anos na frente do tempo e a história se repete em ciclos que vão e vêm. Dessa vez, tratou de trazer até um inédito título brasileiro no tal processo de ascensão. E é porque diziam que o Ferroviário ia se acabar. Os avanços patrimoniais foram evidentes, o regresso ao cenário nacional também, mas quem se importa? Pagar folha salarial em dia há vários anos é obrigação, dizem aqueles que nunca gerenciaram um time de subúrbio no futebol. Diferente do passado, hoje existem os boquirrotos raivosos das redes sociais e o ritual prevê a disseminação de notícias contraditórias, vazamento de documentos institucionais e interpretações nebulosas. A luta do bem contra o mal, lembra? Os fatos políticos do passado e do presente são rigorosamente – e vergonhosamente – semelhantes. E é possível ver o futuro repetir o passado, se for pra citar o poeta. E se for pra manter a leveza da sabedoria do campo artístico, vale lembrar o ex-goleiro Albert Camus, que você deve conhecer como escritor: “O que eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem, eu devo ao futebol”. Não, amigo. Essa bela lógica pode valer – e sabemos que vale mesmo – na irmandade dos jogadores que dão o sangue em campo em busca de objetivos comuns, mas ela não se sustenta na sordidez do meio político do futebol, onde o estrangeiro se traveste de mocinho e a vaidade é moeda de troca. É só voltar para 1997. Está tudo lá para ensinar.

Qual desfecho você aposta para 2022? A sensação de filme repetido é nauseante. E por ironia do destino, alguns atores – canastrões, por sinal – são exatamente os mesmos do roteiro plagiado do passado. Será que os agentes políticos que hoje fazem o clube não aprenderam nada com a própria história? Deixar a vaidade de lado seria um bom passo para que o Ferroviário siga seu ciclo democrático, seja em qualquer tempo, mas sem a exclusão deliberada e explícita de nomes que estatutariamente podem – e devem – não abrir mão de suas prerrogativas políticas. Quem apaga incêndio com gasolina deveria sair de cena e deixar os diplomatas corais – sim, eles existem – trabalharem no intuito de aparar as arestas. Aqueles que sabem muito bem bajular o investidor – também conhecido como dinheiro, lembra? – mas pedem a exclusão do presidente em específico, deveriam ter vergonha de seus próprios atos parciais. Em 1997, faltou isso em muitos dos mocinhos, que terminaram como vilões. Certa vez, pra finalizar o assunto, um ex-dirigente daquele remoto passado, testemunha ocular da história, taxou aquele nefasto episódio de “A Vaidade dos Medíocres”. Parece que resolveram finalmente investir na produção da continuidade desse filme em 2022. Em breve, nos melhores cinemas.
DANILO E VÁLBER: DOIS IRMÃOS QUE JOGARAM JUNTOS NO FERRÃO

Vários irmãos chegaram ao time profissional do Ferroviário. Na lembrança do torcedor mais jovem, os gêmeos Dedé e Danúbio foram o caso mais recente. Na década de 1970, os irmãos Danilo e Válber vestiram a camisa coral. Nascido em 1956, o meio campista Válber fez sua primeira partida pelo time profissional em 1975. Seu irmão Danilo, nascido em 1953, chegou à equipe principal dois anos antes e teve uma carreira mais duradoura no futebol e no próprio Ferroviário. Fez 124 jogos com a camisa do Tubarão da Barra entre 1973 e 1977. Por sua vez, Válber figurou em apenas 6 partidas do profissional entre 1975 e 1976. Danilo virou “Danilo Baratinha” e chegou a jogar em vários outros clubes no decorrer de sua carreira, como Ceará, Fortaleza e Guarani de Campinas. Certa vez, mais precisamente no dia 1 de Novembro de 1975, Válber chegou a substituir Danilo no decorrer de um amistoso do Ferroviário contra a Seleção Sindical, no Elzir Cabral. Mais de duas décadas depois desse fato, já como treinador de futebol, Danilo por muito pouco não foi tricampeão estadual pelo Ferrão, em 1996. Acima, confira uma resenha sobre os dois irmãos, publicada num jornal cearense do passado. Em pleno 2022, Danilo é um colaborador efetivo das categorias de base do clube na região da Barra do Ceará.
2022 REPETE 1988 EM TERMOS DE LARGADA NO BRASILEIRO

Não foi bem o que se esperava. Com duas derrotas na largada da Série C 2022, o Ferrão não começou bem o Campeonato Brasileiro desse ano. A equipe coral perdeu para o Mirassol/SP e ABC/RN nas duas primeiras partidas da competição. Sabe quando isso havia acontecido pela última vez? Foi na largada da Série C de 1988, exatamente no primeiro ano em que o Ferrão disputou a terceira divisão nacional. Vamos à lembrança dos fatos daquele período: após conquistar de forma brilhante o título estadual de 1988, o Tubarão da Barra perdeu alguns atletas. Mazinho Loyola foi negociado para o São Paulo/SP. Marcelo Veiga teve que ficar perto do pai enfermo na capital paulista. Robinson foi para o Vitória/BA, entre outros desfalques. Jogadores egressos do Sub-20 acabaram subindo para o profissional: o ponta Teninha e os meias Osmar e Lane, entre outros. Nesse contexto, o Ferrão perdeu os dois jogos na estréia da Série C de 1988: 0x1 para o Campinense/PB e 0x1 para o ABC/RN, ambos em casa, no PV. De reforços para a competição chegaram o goleiro Zé Luís, ex-Fortaleza, o lateral cearense Osmanir e o atacante Cícero Ramalho, que já havia passado pelo Ferroviário na temporada de 1986. O técnico coral era Zé Maria Paiva.