Há exatos dois anos, o consagrado atacante Iarley era apresentado pelo Ferroviário como reforço para a temporada de 2014. O Almanaque do Ferrão resgata acima um vídeo que faz uma retrospectiva daquele momento de grande empolgação na vida coral. Cria do próprio clube, onde assinou seu primeiro contrato profissional na carreira, o jogador decidiu retornar às origens para corrigir a lacuna histórica de nunca ter atuado pelo time principal do Tubarão da Barra. Em sua nova passagem pelo Elzir Cabral, Iarley vivenciou dias difíceis de instabilidade política, ruptura da gestão do futebol e uma tabela massacrante de jogos que obrigou o atleta, com seus 40 anos de idade, a se desdobrar em campo com dignidade na tentativa em vão de salvar o Ferroviário do rebaixamento.
Todos lembram de Iarley por suas passagens vitoriosas pelo Internacional/RS, Corinthians/SP, Boca Juniores da Argentina, dentre outras equipes. Porém, muitos desconhecem a origem humilde que o fez atender o pedido de um tio e deixar a pequena Quixeramobim, no sertão central cearense, para jogar nas categorias de base do Ferrão, onde conquistou o título cearense Sub-20, no ano de 1994, em jogos que eram disputados nas preliminares dos time principal. Quem via Iarley em campo, naquelas tardes de domingo, apostava nele como o próprio futuro do Ferroviário, futuro este que não chegou em razão da crise política estabelecida em dezembro de 1997, que acabou afastando Clóvis Dias da presidência coral e mudou os destinos do promissor jogador na Barra do Ceará, tendo ele que deixar a equipe num acordão liberatório que envolveu nove jogadores.
Naquele dezembro quente de 2013, Iarley bem que merecia uma apresentação tão portentosa quanto a preparada para o centroavante Jardel, quase cinco anos antes. Ele foi apresentado numa manhã normal de sábado, na Barra do Ceará, diante de um público modesto se comparado ao que presenciou a chegada do ´Super Mário`. Em quase 3 meses no Ferroviário, Iarley foi um verdadeiro exemplo para os mais jovens. Por vezes, era poupado do treino para recuperar de contusões a fim de não desfalcar o Ferrão nas partidas de um campeonato irresponsavelmente tocado na base de 3 a 4 jogos por semana. Acreditou no que lhe foi vendido pela presidência do clube, se decepcionou e acabou amargando dias complicados que culminaram com o rebaixamento coral, porém manteve-se fiel a tudo que foi acordado, jogando até o último e fatídico jogo em Quixadá, que mandou o Ferroviário para a segunda divisão. Em termos de salários, Iarley sequer recebeu 10% do que havia sido acordado. Mesmo assim, respeitou o clube que o projetou e nunca cogitou acionar a justiça em busca de seus direitos. Foi sério, correto e profissional em todos os momentos e merece ser lembrado para sempre como um dos grandes nomes da história. Ao pendurar as chuteiras em fevereiro de 2014, Iarley finalmente cumpriu 16 jogos e 6 gols marcados com a camisa do time principal do Ferrão.