“Ari Bezerra, esse novo goleiro do Ferroviário veio da Seleção da Dinamarca?”, perguntou no ar o comentarista Chico Rocha na Rádio Uirapuru AM de Fortaleza na tarde do dia 26/6/1988. Era a estreia de Robinson, que usava um uniforme preto com mangas vermelhas, contrastando com seus cabelos nórdicos. A vitória de 1×0 em cima do América, no PV, era apenas o início de uma trajetória que o consagrou em dois momentos como um dos mais destacados goleiros da história coral. Foram 15 partidas em 1988 e suas grandes defesas ajudaram o Ferrão a conquistar o campeonato cearense daquele ano, despertando o interesse do Vitória/BA que o levou após a competição. Dois anos depois, em agosto de 1990, Robinson voltou a Barra do Ceará com fama de ídolo para a disputa antecipada do Estadual de 91 e foi vice-campeão do 1º turno, perdendo a final para o Fortaleza. Foram mais 20 partidas com a camisa coral naquela época. O Almanaque do Ferrão resgata abaixo duas matérias de televisão que enfocavam o retorno de Robinson ao Ferroviário em 1990. Viaje no tempo!
Sousa tenta a cabeçada no meio da zaga do Fortaleza no dia 5/10/1980 no Castelão
O tempo faz com que determinados jogadores passem pelo clube e acabem caindo no esquecimento, porém dificilmente o atleta esquecerá a sua passagem por um time de futebol. É caso do meio campista Sousa, titular no Ferroviário que foi vice-campeão cearense em 1980 sob o comando do treinador paranaense Lanzoninho. Foram apenas 14 partidas com a camisa coral entre setembro e dezembro daquele ano. Através do Almanaque do Ferrão, o atleta entrou em contato recentemente em busca de fotos da sua curta passagem pelo clube. Revirando o acervo do nosso baú, ele aparece no click acima no ´Clássico das Cores` do dia 5 de outubro que terminou no 0x0.
Sousa em 1980
José Aparecido de Souza jogou grande parte da sua carreira profissional no futebol de São Paulo. Chegou a jogar na Coréia defendendo a Seleção Paulista. Oriundo do XV de Jaú quando chegou para o Ferroviário, teve uma outra participação no futebol nordestino atuando pelo Sergipe/SE entre 83 e 84. Quando regressou ao futebol de São Paulo, brilhou com a camisa do Bragantino e levou sua equipe à divisão de elite paulista em 1988, culminando com o memorável título estadual do Massa-Bruta dois anos depois sob o comando de Vanderley Luxemburgo. Sousa certamente nunca esqueceu o único gol que marcou pelo Ferroviário, na noite do dia 29 de outubro, no Castelão, uma goleada de 4×0 em cima do Guarany de Sobral. São coisas que o tempo não apaga da memória do ex-jogador e o clube tem a obrigação de lembrar de quem ajudou a escrever sua história.
O penúltimo jogo do Ferroviário no campeonato cearense de 1988 foi tenso e sofrido. O Tiradentes tinha um ótimo time e havia sido páreo duro para todas as equipes da competição, chegando inclusive a vencer o 2º turno em cima do próprio Tubarão da Barra. O voltante Alves marcou um ´gol espírita`, mas Nélson, ex-jogador do próprio Ferroviário, empatou para o Tiradentes. No segundo tempo, a revelação do campeonato Mazinho Loyola chutou forte da entrada da área e decretou a importante vitória coral por 2×1. Uma semana depois, o título de campeão cearense estava nas mãos do Ferroviário depois de outra vitória, dessa vez em cima do Fortaleza.
Amilton Melo
O Almanaque do Ferrão recuperou o áudio dos gols do Tubarão contra o Tiradentes. Era o jogo de número 2.249 da história coral, no dia 31/8/1988. A narração é da então equipe esportiva da Rádio Uirapuru AM de Fortaleza, que tinha Vilar Marques no comando do 1º tempo e Júlio Sales no 2º tempo das partidas importantes. No gol da vitória, é possível perceber ao fundo a empolgação dos comentaristas da emissora, primeiro no grito entusiasmado de “goooooool” de Amilton Melo, lendário ex-jogador do Ferrão, e depois no grito do excelente Chico Rocha. O jogo teve arbitragem de Hilton Alcântara e 3.484 pessoas pagaram ingresso no Castelão naquela quarta-feira à noite. O Ferrão do técnico Lucídio Pontes venceu com Robinson, Silmar, Arimatéia, Djalma e Marcelo Veiga; Toninho Barrote, Alves, Arnaldo e Jacinto; Mazinho Loyola e Beto Andrade (Edson). O Tigre jogou com Salvino, Alexandre, Batista, William e Osmanir (Perivaldo); Nélson, Modali (Jarbas) e Adilton; Valdir, Marquinhos e Lupercínio.
O campeonato russo é transmitido pela ESPN Brasil. Quem levantou cedo no último domingo assistiu o empate de 1×1 entre Krasnodar e CSKA, na Arena Khimki, em Moscou. O gol de empate do Krasnodar veio dos pés de um brasileiro que faz sucesso na Rússia. Trata-se de Francisco Wanderson Carmo Carneiro, o meia Wanderson, que disputou 22 partidas pelo Ferroviário entre 2005 e 2006. Quem lembra? Veja o vídeo acima com imagens recentes do jogador e consulte sua memória.
Wanderson no time titular em 31/7/2005
A primeira partida oficial de Wanderson pelo Ferrão foi no dia 31/7/2005, contra o Serrano/PE, pela Série C do campeonato brasileiro. Ele chegou a marcar um dos gols da goleada coral por 5×2. Tido como uma das gratas promessas para despontar no campeonato cearense de 2006, o jogador foi surpreendentemente emprestado para o Sub-20 do Fortaleza a fim de disputar a Taça São Paulo de Futebol Júnior, retornando para o time profissional do Ferroviário apenas no meio do Estadual, fazendo apenas 12 partidas na competição. Foram ao todo 4 gols em sua passagem com a camisa do Tubarão da Barra. Ao final da participação coral, o jogador foi negociado em definitivo com o Fortaleza numa transação pouco divulgada na ocasião.
Polozzi queria a volta de Wanderson para o Ferrão
Em 2007, Wanderson estava emprestado pelo Fortaleza ao River/PI e brilhou sob o comando do técnico Fernando Polozzi, ex-zagueiro da Seleção Brasileira na Copa de 1978. Quando Polozzi treinou o Ferroviário na temporada de 2008, sugeriu a volta do jogador para o Ferroviário já que o Fortaleza estava disposto a emprestá-lo. Ouviu de um diretor coral a seguinte justificativa para a recusa: “não, o Wanderson tem problemas na vista. Quando o jogo é a noite, ele não enxerga direito“. Polozzi retrucou desanimado: “Pois lá no Piaui, comigo, ele enxergava muito bem“. E ficou nisso mesmo. Wanderson continuou no Fortaleza, trilhou depois sua trajetória de sucesso e já há algumas temporadas brilha na Rússia. Quer vê-lo em ação nos gramados europeus? É só ligar a televisão.
O Almanaque do Ferrão resgata mais um jogo do time coral contra o River do Piauí. O vídeo acima mostra os melhores momentos da excelente vitória do Tubarão da Barra, fora de casa, em setembro de 1996, jogando no Estádio Lindolfo Monteiro em Teresina. O único gol do jogo foi marcado pelo baiano Esquerdinha, que fazia naquele ano sua última temporada na Barra do Ceará. A partida foi válida pela Série C do Campeonato Brasileiro e teve a arbitragem de Marcelo Bispo Nunes. O Ferroviário permaneceu na terceira divisão nacional até 2008, ano em que foi rebaixado para a Série D.
Treinado por Danilo Augusto, tradicional jogador do Ferrão na década de 70, o time coral venceu com Jorge Luiz, Biriba, Batista, Alencar e Garcia (Chiquinho); Paulo Adriano, Cleuber, Wálter e Basílio; Cantareli (Paulinho Paiakan) e Esquerdinha. O River perdeu com Guará, Laércio, Silva, Gladstone e Osmarildo (Preto); Pinto, Rondineli, Zezé e Bertinho; Pereira e Mairan. O técnico adversário era o conhecido Gringo. Os goleiros Jorge Luiz e Guará são irmãos e se enfrentaram diversas vezes em suas carreiras. Guará inclusive foi goleiro do próprio Ferroviário em 1991, antes da chegada de Jorge Luiz, o segundo camisa de Nº 1 que mais vezes defendeu a metal coral na história.
Um esquisito calção vermelho foi usado pelo Ferroviário no 3×3 contra o Crateús em 2012
No dia 30/12/2000, o Ferroviário fazia seu último jogo antes da virada do milênio. Foi um amistoso contra a Seleção de Crateús, fora de casa, no Estádio Juvenal Melo. O empate em 3×3 já preconizava o que seria a ridícula campanha coral no ano seguinte no campeonato cearense. Era o quarto confronto contra o selecionado local na história. Antes disso, duas vitórias em 1951 e um empate em 1981 garantiam o retrospecto de invencibilidade a favor do time coral contra o representante do Vale dos Inhamuns, uma das regiões mais secas do estado. Veio então a chegada no novo milênio e com ele a fundação do Crateús Esporte Clube, em 2001, sob a proteção do índio Karati, o desbravador e primeiro habitante daquela área geográfica, estampado orgulhosamente no escudo crateuense a partir de 2008.
Entra em campo o índio da tribo Karati em 2015
Como uma maldição espiritual indígena potencializada pela incompetência de gestões corais, nunca mais o Ferroviário derrotou o novo time da cidade de Crateús. Sob a presidência do deputado estadual Vanderley Pedrosa, justamente em seu curral eleitoral nos Inhamuns, o primeiro confronto aconteceu em 14/1/2012, amistoso vencido pelo Crateús por 2×0. Onze dias depois, o primeiro jogo oficial entre ambos, válido pela 1ª divisão do futebol cearense, nova vitória crateuense por 2×1 novamente no Juvenal Melo. Em 28/3/2012, dessa vez no PV, empate em 3×3, a melhor performance coral até hoje. A partir dali, o confronto entre as duas equipes se deu no tapetão. O Crateús lançou jogadores irregulares na competição e o Ferroviário se beneficiou da incrível falha administrativa do adversário, vencendo uma batalha jurídica que terminou no STJD no Rio de Janeiro. O resultado foi o Crateús rebaixado para a Série B cearense na corte desportiva e o Ferroviário, rebaixado dentro de campo, salvo pelo gongo com o direito de permanecer na divisão de elite local por mais um tempo. Parece que aquele episódio transcendeu a lógica humana e provocou a ira e a maldição dos índios Karati.
Ferrão, de dourado, no último dia 11
O Ferroviário foi novamente rebaixado em 2014, dessa vez sob a batuta de Edmilson Alves Júnior, que sucedeu o deputado na presidência. Nos últimos 5 dias, o Ferrão reencontrou o Crateús em mais duas partidas oficiais, agora na melancólica 2ª divisão cearense, e conseguiu o feito de perder novamente, tanto em Fortaleza como em Crateús, pelo mesmo placar de 2×1. Maldição aliada à má gestão, eis a grande questão. O fato é que o Tubarão da Barra se apequenou diante do Guerreiro do Poty, uma das simpáticas alcunhas do representante dos Inhamuns. Depois daquele primeiro 3×3 na véspera da chegada do novo milênio, nada mais parece ter sido como antes. Já se vão quase 15 anos e um doloroso tabu amarga a paciência do torcedor ao se deparar com momentos como os registrados no último sábado eternizados na tela abaixo. Até quando?
Uma das formações utilizadas pelo Ferrão em 1965: Albano, Adir, Gavillan, Toinho, Marcelo e Vicente Jabuti; Agachados: Raimundo Pipiu, Durand, Moacir, Nílton e Expedito Chibata
Entre 1953 e 1967, o Ferroviário Atlético Clube não conquistou nenhuma das edições do campeonato cearense. Várias foram os times formados e inúmeras foram as tentativas de alcançar o posto máximo do futebol local. Todas em vão. Bons jogadores passaram pelo Ferrão no período, alguns com retrospecto de terem jogado em grandes equipes do futebol nordestino, como o goleiro Ribamar, ex-ídolo do ABC de Natal, e os atacantes Macrino e Milton Bailarino, ambos ex-Santa Cruz/PE, que defenderam as cores corais no auge daquele jejum de títulos. Em 1966, o papo era ser campeão a qualquer custo e foi contratado o famoso pacote maranhense do Sampaio Corrêa formado por Jarbas, Peu, Sabará, Vadinho e Valfredo, além de outros atletas experientes que representaram um alto investimento para os padrões do clube. Nada dava certo.
O Almanaque do Ferrão resgata hoje uma fotografia histórica de uma das formações que vivenciou aqueles tempos difíceis de ausência de conquistas importantes. É o time de 1965, que entrou em campo no PV, no dia 13 de junho, e foi derrotado para o Ceará por 2×1. Detalhe para a camisa coral, toda branca, sem as tradicionais listras horizontais. Entre alguns nomes consagrados no futebol cearense como Expedito Chibata, ex-Ceará, e Toinho, ex-Usina Ceará, dois grandes destaques naquela temporada vieram diretamente do Botafogo/RJ: o volante Nilton e o meia Moacir davam um maior toque de qualidade ao time coral. Recorde acima aquele time de meados da década de 1960 que muito tentou, mas não conseguiu entrar para a galeria histórica de campeões pelo Ferrão.
Cardosinho marcou um gol olímpico e Luizinho das Arábias chegava ao seu 13º gol no campeonato cearense de 1985. Foi na tarde do dia 22 de setembro, no Castelão, e o Ferroviário embalava na competição ao vencer o Fortaleza por 2×0. Os gols saíram no segundo tempo e foi uma vitória bastante comemorada. Quase 30 anos depois, o Almanaque do Ferrão resgata a narração dos dois gols em áudio na voz de Gomes Farias pela Rádio Verdes Mares AM de Fortaleza. Treinado por Caiçara, o Ferrão venceu com Serginho, Laércio, Arimatéia (Zé Luís), Léo e Vassil; Alex, Arnaldo e Vander (Doca); Cardosinho, Luizinho das Arábias e Carlos Antônio. O Fortaleza do treinador Pepe, ex-companheiro de Pelé no Santos, jogou com Salvino, João Carlos, Marcelo, Perivaldo e Caetano; Ribamar (Tangerina), Jacinto (Esquerdinha) e Buíque; Gilson, Batista e Adilson Heleno. Aperte o play e entre no túnel do tempo parar recordar aquela vitória em 1985.
Foto histórica do goleiro Ado defendendo o arco do Ferroviário em 1980 contra o Ceará
Eduardo Roberto Stinghen era o reserva imediado de Félix na Seleção Brasileira tricampeã do mundo em 1970 no México. Numa época onde apelidos no futebol faziam a diferença na identificação dos jogadores, adotou a alcunha de Ado e ficou famoso no futebol nacional defendendo as cores do Corinthians/SP exatamente na época que o time paulista amargava um jejum histórico de títulos. Depois de jogar no América/RJ, Atlético/MG, Portuguesa/SP e Santos/SP, chegou para o Ferroviário em 1980 aos 34 anos de idade. Por descaso com a história e em razão de sua curta passagem, muitos esquecem que o experiente goleiro foi muito bem no arco coral nos jogos que participou.
Goleiro Ado
A trajetória de Ado no Ferroviário começou a ser escrita com a sua entrada, no segundo tempo, em três partidas substituindo o goleiro Salvino contra o Tiradentes, Quixadá e Guarani-J. Em 19/11/80 veio a chance de entrar como titular contra o Ceará e ele não decepcionou. Pelo contrário, fez pelo menos 3 defesas sensacionais que garantiram a vitória coral por 1×0, uma delas numa cabeçada fulminante do jogador Nei que ele mandou para escanteio e outra na cobrança magistral de falta de Zé Eduardo que Ado voou e espalmou. Voltou a brilhar e pegar tudo na grande final uma semana depois, novamente contra o Ceará. Só não pegou um chute forte do lateral João Carlos, aos 11 minutos do 2º tempo, que fez escapar das mãos de Ado e do Tubarão o então inédito título de bicampeão diante de 41.434 pagantes. Foram apenas 5 jogos com a camisa coral, mas o suficiente para marcar a passagem de um nome nacional pelo Ferrão.
A única imagem em vídeo do goleiro Ado defendendo as cores corais é exatamente o gol do título do Ceará. Foi o único chute que ele não conseguiu defender enquanto goleiro do Ferroviário. O Almanaque do Ferrão resgata abaixo esse momento da história do clube.
Ele foi um dos principais jogadores do Ferroviário entre 2003 e 2007. Na brilhante campanha coral na Série C nacional de 2006, o baixinho Glaydstone era o cérebro de um time que tinha ótimos jogadores e por muito pouco não conseguiu o acesso. Naquela mesma temporada, foi contemplado com uma placa alusiva à marca de 100 jogos em defesa do Ferrão. Voltou entre 2010 e 2011 sem muito destaque. No sábado passado, aos 37 anos, reestreou pelo clube contra o Crato em jogo válido pela segunda divisão cearense e completou sua partida de número 180. Será que Glaydstone alcançará a marca de 200 jogos? Apenas 28 jogadores na história conseguiram esse feito. O tempo dirá.