Nada mais amador que a distribuição gratuita de ´achismos` no futebol. Por isso se explica tantos discursos inconsistentes no mundo da bola, principalmente nos aspectos ligados à gestão de receitas oriundas de bilheteria, hoje em dia a terceira ou quarta fonte de arrecadação das equipes minimamente organizadas. O Ferroviário, e o futebol cearense como um todo, parecem bem longe dessa realidade, razão pela qual ainda se escutam frases no seio coral do tipo “vamos lotar o PV“, “rumo aos 3 mil pagantes” e, a pior de todas, a velha cantiga de grilo: “a torcida do Ferroviário não ajuda“. Puro achismo, como gostava de frisar o saudoso Estelita Aguirre, ex-diretor de comunicação do Ferrão, em seus comentários otimistas, porém sempre eivados de uma boa dose de acidez realista.
Historicamente, os times de origem proletária no Brasil nunca foram detentores de torcidas de massa e os sociólogos estão ai para explicar melhor. Do ponto de vista prático, a versão impressa do Almanaque do Ferrão traz um estudo inédito, iniciado ainda nos anos 90, que definiu métricas de análise do poder de captação de torcedores corais em jogos do Ferroviário desde 1967, justamente o primeiro ano que o número de torcedores pagantes passou a ser oficialmente divulgado pela mídias e em documentos oficiais no futebol alencarino. A análise foi metodologicamente definida e evitou propositadamente a inclusão de partidas contra Ceará e Fortaleza, pois estes clubes levam seus próprios torcedores quando o adversário é o Ferroviário. Na abordagem trabalhada, o Tubarão é o único e principal chamariz dos jogos, o motivo pela qual a imensa maioria dos torcedores presentes acorre ao estádio. Esta sim deve ser a referência de público para o clube, o que for ´plus`, como no caso dos embates contra alvinegros e tricolores, é lucro.
Uma rápida olhada nos dados e se comprova que boa média de público só existe associada ao time fazendo boa campanha dentro de campo. Futebol é entretenimento e ninguém paga ingresso quando há perspectiva de dissabores, o que justifica as péssimas médias depois do inédito bicampeonato 94/95, fruto de questões políticas mal resolvidas que mudaram o rumo das coisas desde então e que chegou ao cúmulo de ocasionar uma média de 320 pagantes no ano 2000, a pior da história. Numericamente, quase nunca se chegou nem perto de algo semelhante a 1978, a melhor média da história com 3794 pagantes em edições de Campeonato Cearense, quando o clube amargava um jejum de 8 anos sem títulos, mas cuja diretoria agitou o futebol alencarino com grandes contratações numa tentativa de soerguimento, que veio com o título cearense de 1979 e um período alvissareiro de público até 1981. Algo não muito diferente do período 1988-1989, 1994 e 2006, ou seja, de tempos em tempos, todos períodos breves associados a boas campanhas, independente de títulos.
Desconfie quando alguém disser que “em 1968 o Ferroviário lotava o PV” ou que “o Ferroviário não tem torcida“. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Os ´achismos` do futebol tendem a criar lendas nunca comprovadas e que só geram o errôneo entendimento das coisas. Só o que é científico pode desbancar o empírico. É evidente que Fortaleza não é mais a mesma cidade de antes, cresceu e virou metrópole, a torcida do Ferroviário não evoluiu numericamente na mesma proporção que a dos adversários e a própria cidade, o que faz com que proporcionalmente estejamos menores, porém não é o fim do mundo diante do parâmetro apresentado pelos números absolutos, e ressalte-se ainda que há clubes muito longe do potencial da torcida coral que disputam inclusive campeonato nacional. São estes os maiores exemplos de que dá pra fazer bonito quando se há na gestão uma diretriz única, permanente e inquebrável. O resto é ´achismo` e os números estão ai para tentar dar um pouco mais de clarividência aos incautos.
Sensacional análise. parabéns ao almanaque do ferrão. É duro ver que tivemos apenas dois anos com média de público superior a 2000 pessoas nos ultimos 20 anos e isso mostra que estamos sem rumo. Bem lembrado os times que nao tem torcida estao em situacao melhor que a nossa em serie a, b e c do brasileiro. tudo é uma questão economica e temos que viabilisar uma saida para o nosso ferrão.
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Cada dia que entro no Almanaque do Ferrão me deparo com informações valiosas como essa. Parabens Evandro por esse belo trabalho. Já tive o prazer de dizer isso pessoalmente e digo aqui para ficar registrado, você é foda no que faz. Esse blog é minha referencia diária na Internet. É o primeiro site que visito ao entrar na net. Salve Salve F-A-C.
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Futebol no CE é pleno de bobões e tendenciosos. Raros são aqueles que pensam. Contra fatos não há argumentos e seu texto nos parece intocável. Ciência pura. Dias melhores virão, não tenho a menor dúvida disto. E o FAC há de nos alegrar muito ainda. Exemplo de nossa força é o fato de vestirmos a camisa do glorioso ferrão em tempos nefastos como os que vivemos. Meu pai inclusive foi abordado no Iguatemi por outro torcedor coral exatamente por usar camisa do clube, mesmo já um pouco ‘sambada’. Eventualmente usamos camisa do Botafogo, ou do Palmeiras e etc clubes pelos quais simpatizamos por um elenco momentâneo. Mas torcer mesmo só pelo FAC. e isto é indiscutível . A simpatia por outros clubes do sul se deve ao amor que temos pelo futebol. Amamos futebol e TORCEMOS pelo FAC e isto incomoda a muitos. Abraços.
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